O seringueiro e a cunhan poranga na Festa da Moça Nova, da Tribo dos Iurupixunas
O sucesso da “maior e mais linda festa típica do país”
cruzou as fronteiras do Amazonas e, de repente, dezenas de folcloristas,
jornalistas e políticos de outros estados estavam querendo conhecer a pajelança
manauara.
Afinal de contas, não era qualquer festa brasileira que
atraía a metade da população de uma cidade para aplaudir e prestigiar seus
anônimos artistas populares, como começavam a martelar diariamente, 45 dias
antes da abertura oficial do festival, O Jornal e o Diário da Tarde.
As revistas O Cruzeiro, Manchete e Visão escalaram equipes
de reportagens para cobrir o evento, assim como os jornais O Estado de São
Paulo, Última Hora e Correio da Manhã.
O produtor Herbert Richers demonstrou seu interesse pessoal
em filmar as apresentações para apresentar como minidocumentário em todos os
cinemas do país, antes das sessões normais.
A Rádio Marajoara, de Belém do Pará, decidiu retransmitir a
festa. A radialista Rosa Maria, considerada a “Rainha do Rádio Pernambucano”,
manifestou seu interesse em conhecer a festa, em companhia de vários artistas
pernambucanos.
Os renomados escritores paraenses Bruno de Menezes, Georgino
Franco (vice-presidente da Academia Letras do Pará) e Jacques Flores, também se
mostraram interessados em conferir de perto os atrativos dessa grande festa
popular.
Entre os convidados do governador Gilberto Mestrinho estavam
os governadores Aurélio do Carmo (Pará), José Altino Machado (Acre) e José
Cavalcante Filho (Amapá), Aldebaro Klautau (superintendente da SPVEA), Hélio
Palma Arruda (presidente do BCA), Idalvo Toscano (presidente da Associação
Comercial do Pará), Firmo Dutra (presidente da Força e Luz do Pará) e dezena de
comerciantes, industriais e parlamentares.
Eles iriam aproveitar a oportunidade para discutir com
Mestrinho os problemas comuns da região amazônica e posteriormente submetê-los
à apreciação do presidente Jânio Quadros, por ocasião de uma reunião agendada
para agosto, em Manaus, com a presença do presidente e de todos os governadores
da região Norte.
A Tribo dos Manaú fazendo uma pajelança básica no igarapé do Tarumã
No início de abril, os convites de antigos e novos grupos
folclóricos para que Bianor Garcia conferisse os seus ensaios já começavam a
inundar a redação de O Jornal.
Os dirigentes dos grupos acreditavam piamente que isso
facilitaria seu ingresso no festival na hora da triagem derradeira.
Como o jornalista não possuía o dom da ubiquidade, ele
transferiu a parte mais burocrática do evento (inscrição, conferência de
documentos, montagem do cronograma de exibições, etc) para o jornalista Philipe
Daou e se entregou de corpo e alma às visitas in loco aos ensaios de bumbás,
cordões de pássaros, quadrilhas, tribos e tutti quantti, sempre acompanhado de
fotógrafos e jornalistas de O Jornal e Diário da Tarde.
Eram eles que tinham a tarefa de turbinar diariamente os
dois veículos com notícias sobre o festival.
Não era uma tarefa fácil. Em um final de semana típico, por
exemplo, Bianor Garcia visitaria os seguintes grupos: Corre Campo
(Cachoeirinha), Quadrilha Caipirada Senatorista (no Sindicato dos
Comerciários), Quadrilha Mestre Gregório no Arraial (Santa Luzia), Quadrilha Caboclos
do Bananal (com direito a boate na sede do Estrela do Norte, comandada pelo
conjunto do maestro Domingos Lima), Quadrilha Caboclinhos do Araçá
(Cachoeirinha), Quadrilha Coronel Bossa Nova (na Rua Leonardo Malcher),
Quadrilha Geraldinos no Roçado (São Geraldo), Ídolo Africano (Petrópolis),
Pássaro Corrupião (São Jorge), Quadrilha Princesinha do Sertão (Cachoeirinha),
Quadrilha Araruama na Roça (na Rua Major Gabriel), Quadrilha Sampaulinos na
Roça (na sede do São Paulo FC, em São Francisco), Leão (Petrópolis) e Quadrilha
Matutos da Serra Grande (no antigo Piquete da Praça 14).
E haja fígado pra suportar a esbórnia! Sim, por que os
visitantes e os convidados, em todos esses eventos, serem obrigados a encher a moringa
de truaca era de lei! Os anfitriões não brincavam em serviço...
Não bastasse isso, Bianor Garcia ainda tinha problemas mais
prosaicos para resolver: os populares continuavam se queixando da pouca
visibilidade do tablado para quem estava nos locais mais afastados do estádio.
Ele providenciou a construção de um novo tablado de 500 m²
(20 x 25m), apelidado pela mídia de “colosso de madeira”, suspenso a 1,70
metros do chão. De qualquer ângulo do estádio, o povo veria perfeitamente a
evolução dos conjuntos.
Outra queixa recorrente dizia respeito ao número de crianças
que se perdiam dos pais durante a fuzarca.
O jornalista publicou um texto sobre o assunto no Diário da
Tarde: “Todos os anos, na nossa festa, mais de 100 meninos e meninas se perdem
no meio da multidão. Desta vez, contaremos com o apoio dos Escoteiros e das
Bandeirantes, que irão trabalhar em conjunto com os agentes da Vara da Família.
Pedimos, também, aos pais e responsáveis pelos menores, que escrevam num papel
qualquer o nome do garoto ou da garota, assim como o seu endereço completo, e
coloquem-no no bolso do menor. Em caso de estarem perdidos, é fácil a
identificação e apressa a procuração no tablado. Isso se faz em toda parte,
nessas ocasiões.”
Convencido de que a mínima falha ocorrida no evento seria
atribuída exclusivamente a ele – e que, provavelmente, a falha depois seria deturpada
e amplificada em centenas de decibéis até se transformar em uma nova lenda
urbana (a desenvoltura com que Bianor Garcia transitava entre as camadas mais
populares da cidade começava a despertar a inveja de algumas pessoas e a inveja
é irmã gêmea do ódio, da vingança, do rancor, da difamação e do ressentimento)
–, o jornalista não media esforços para transformar o festival em um espetáculo
verdadeiramente inesquecível.
Duas semanas antes da abertura do festival, ele convocou
vários dirigentes folclóricos para afinarem o discurso entre o que iriam
apresentar no tablado e o que a Comissão Julgadora iria efetivamente observar
no seu critério de pontuação.
Compareceram ao encontro, entre outros, Edmilson Alves da
Costa (Tribo dos Manaú), Alberto Orelhinha (Boi Caprichoso), Raimundo Nonato
(Garrote Malhado), Neuza Monteiro Martins (Quadrilha Roceiros no Asfalto),
Manuel Luiz do Nascimento (Garrote Flor do Campo), Luzanira Nogueira (Quadrilha
Sampaulinos na Roça), Francisca Ferreira Pires (Quadrilha Infantil), Olarino
dos Santos Ferreira (Garrote Pingo de Ouro), Hilário de Souza (Garrote Touro
Negro), Raimundo Silva Vale (Leão), Jacira Nunes de Jesus (Ídolo Africano),
Francisco Chagas Menezes (Quadrilha Geraldinos na Roça), Elizabeth Cavalcanti
(Quadrilha Pajé na Roça), Manoel Soares da Silva (Garrote Dois de Ouro),
Jonathans Mescenas (Quadrilha Namorados na Roça), Esmeraldo Pereira dos Santos
(Pássaro Corrupião), Altemar dos Santos (Quadrilha Pai Xangô na Cachoeira),
Maria Inez da Silva (Pássaro Japiim), Adilson Pinheiro Freitas (Quadrilha
Cunhantans Puranga), Adenilo Freitas (Quadrilha Coronel Troncoso), José Soares
Portela (Boi Pai do Campo), Antônio Soares de Oliveira (Garrote Luz de Guerra),
Renato Duarte (Boi Ás de Ouro) e Manoel Pedro da Costa (Garrote Teimosinho).
“A Comissão Julgadora, apesar de ter tido alguma tolerância
nos festivais passados, desta vez será mais rigorosa na escolha dos campeões,
penalizando os elementos alheios às brincadeiras e dando maior pontuação aos
grupos que procurarem realmente acertar o passo com a brincadeira original”,
alertou Bianor Garcia.
O jornalista passou a enunciar o que, no seu modo de ver,
estava prejudicando a exibição de alguns grupos folclóricos e que ele já havia
identificado durante suas visitas aos ensaios.
“Os bumbás, por exemplo, devem diminuir o número de
frigideiras (e talvez até não apresentar nenhuma delas), diminuir o número de
surdos (um no máximo seria mais aconselhável) e cantar toadas verdadeiras, sem
ritmo de samba ou de marchinhas carnavalescas”, observou.
A crítica era procedente. Como a maioria dos ritmistas de
boi-bumbá também tocavam na bateria das escolas de samba da época (Escola Mixta
da Praça 14, Unidos de São Jorge, Unidos de São Francisco, Unidos da Raiz,
Unidos da Cachoeirinha, etc), o compasso lento das toadas estava ganhando o
aceleramento mais rápido e sincopado dos sambas de enredo.
“Nas quadrilhas, deve ser abandonado de vez o uso de chapéus
surrados e roupas remendadas. A população vai ao estádio para ver coisas bonitas,
de bom gosto, que despertem a atenção pela plasticidade, pelo luxo, pela
beleza. Também é indispensável que os pares que forem apresentar a Desfeiteira
estejam bem treinados, saibam os versos na ponta da língua e os declamem, sem
medo e nervosismo. É importante que falem alto, bem forte e com gesticulações
apropriadas. Quem não souber declamar um verso é melhor ficar calado, mas nunca
fazê-lo erradamente ou com indecisões e nervosismo”, avisou. “Utilizar, no
acompanhamento das quadrilhas, músicos tocando ao vivo também rende mais pontos
do que o acompanhamento tradicional por meio de discos ou fitas pré-gravadas.”
“Nos cordões de pássaros, se algum cântico tiver a menor
semelhança com outra música já conhecida é preferível não apresenta-lo ou então
substitui-lo por outro inédito, improvisado, criado na hora pela força da
inspiração. Ninguém gosta de ouvir as mesmas canções, ano após ano, quando há
tantos compositores inspirados dando sopa por aí. O nosso folclore é muito rico
para ficar estacionado na mesmice de sempre”, alertou.
“As tribos indígenas devem se ater aos seus instrumentos
musicais tradicionais. Os jurados não vão aturar sanfonas e violões no
acompanhamento dos cantos indígenas assim como não vão aturar maracás e
tambores-onça no acompanhamento das quadrilhas. Cada qual com seu cada qual. Em
resumo, são esses os pontos primordiais para uma boa exibição.”
Em virtude do grande número de quadrilhas inscritas, Bianor
Garcia resolveu agrupa-las em cinco chaves, premiando a vencedora de cada
chave.
Após sorteio realizado na presença de todos os dirigentes,
as chaves ficaram assim constituídas.
Chave A: Soçaite na Roça, Cabras do Lampião, São João na
Roça, A Gazeta na Roça, Real Madrid na Roça, Dona Xandoca no Arraiá, Caipirada
Senatorista e Pai Xangô na Cachoeira.
Chave B: Primo do Cangaceiro, Novo Amazonas, Geraldinos no
Roçado, Milionários na Roça, Mestre Gregório no Arraial, Coronel Garcia e
Caboclos no Bananal.
Chave C: Mocidade, Auto Esporte na Roça, Caboclinhos do
Araçá, Caipirada Normalista, Matutos da Serra Grande, Coronel Troncoso,
Cunhantans Puranga e Pajé no Terreiro.
Chave D: Tapuias Puranga, Araruama na Roça, Coronel Dunga
Queiroz, Princesinha do Sertão, Coronel Jander, Sampaulinos na Roça e Quadrilha
na Roça.
Chave E: Roceiros no Asfalto, Flor do Plano, Coronel Ovídio
(Terra Nova), Coronel Honório na Matança, Namorados na Roça, Coronel Jara e
Brotinhos na Roça.
Os grupos folclóricos sem categoria definida foram agrupados
como “Outros Grupos”, disputando um único prêmio entre eles: Cavalo Marinho,
Ídolo Africano, Leão, Coral João Gomes Junior, Escola de Acordeão Hélio
Trigueiro, Balé Folclórico Japonês e Quadrilha Norte-Americana do Instituto Cultural
Brasil-Estados Unidos, os dois últimos sendo os primeiros grupos de dança
internacional a se apresentarem na cidade.
O Leão era mais uma criação de Raimundo Vale, o “Velho
Raimundo”, para substituir o gavião real, que supostamente havia sido furtado de
sua residência no ano anterior. As más-línguas do bairro de Petrópolis
afirmavam que o pássaro havia simplesmente morrido de fome.
A não ser pela presença de um Leão semelhante a um
boi-bumbá, com direito a um “miolo” dançando embaixo da carcaça, o auto era
exatamente igual ao do Pássaro Gavião Real, o que levava a população a se
referir jocosamente à brincadeira como “Cordão do Pássaro Leão”.
O Ídolo Africano era uma brincadeira também ensaiada no
bairro de Petrópolis pela dona Jacira Nunes de Jesus, ex-presidente da Tribo
dos Guaranis, e mostrava que, muito antes do Festival de Parintins existir, os
artesãos manauaras já fabricavam alegorias gigantescas da fauna amazônica.
Em linhas gerais, consistia na adoração de uma imponente
aranha caranguejeira transportada em uma liteira nos ombros de dois guerreiros
zulus e que, para não trazer má sorte à aldeia africana, precisava do
sacrifício de uma virgem.
Apesar da plasticidade das fantasias dos brincantes e da
bonita coreografia executada, era um enredo sem pé nem cabeça, provavelmente
extraído de uma leitura apressada de algum gibi do Tarzan ou de alguma obscura
aventura do Antar.
O cordão folclórico sequer resistiu às críticas do público,
tendo sido extinto no mesmo ano da sua sofrível apresentação no festival.
Principal patrocinador do festival, o governador Gilberto
Mestrinho continuou concedendo uma ajuda de custo, agora de Cr$ 10 mil (R$ 5
mil, em valores de hoje), para todos os grupos inscritos e ofertando uma
premiação em dinheiro no valor de Cr$ 400 mil para os vencedores de cada
categoria, assim distribuído:
Bumbás: Cr$ 50 mil. Garrotes: Cr$ 20 mil. Quadrilhas adultas
(para a campeã de cada chave): Cr$ 30 mil. Garrotes, Quadrilhas mirins, Danças
Regionais, Tribos e Cordões de Pássaros: Cr$ 20 mil. Brigues: Cr$ 10 mil.
Outros grupos: Cr$ 10 mil. Rainha do Festival: Cr$ 30 mil. Rainha de Beleza do
Festival: Cr$ 30 mil. Rainha Mirim: Cr$ 5 mil. Melhor sanfoneiro: Cr$ 5 mil.
A ordem de apresentação do V Festival, com 85 grupos
inscritos e mais de 7 mil figurantes, ficou assim definida:
Dia 18 (domingo) – Desfile de todos os conjuntos, a partir
das 15 horas, da Praça São Sebastião ao General Osório, como parte da abertura
oficial do festival.
Dia 19 (segunda) – À noite. Quadrilha Tapuias Puranga,
Garrote Tira-Teima, Quadrilha Gazeta na Roça, Garrote Pingo de Ouro, Quadrilha
Caboclos do Bananal, Bumbá Ás de Ouro e Quadrilha do Coronel Jara.
Dia 20 (terça) – À noite. Quadrilha Novo Amazonas, Cavalo
Marinho, Quadrilha Dunga Queiroz, Garrote Flor do Campo, Quadrilha do Coronel
Jander e Bumbá Mina de Ouro.
Dia 21 (quarta) – À noite. Ídolo Africano, Quadrilha do
Coronel Garcia, Garrote Luz de Guerra, Quadrilha Caboclinhos do Araçá,
Quadrilha Matutos da Serra Grande e Bumbá Pai do Campo.
Dia 22 (quinta) – À noite. Brigue Independência, Quadrilha
Real Madrid na Roça, Quadrilha Dona Xandoca no Arraiá, Garrote Rica Prenda,
Quadrilha Princesinha do Sertão e Quadrilha Cunhantans Puranga.
Dia 23 (sexta) – À tarde. Quadrilha IEA na Roça, Quadrilha
Infantil, Garrote Malhadinho, Garrote Estrela e Quadrilha Mestre Gregório no
Arraial. À noite. Bumbá Caprichoso, Dança Xote do Interior (IEA), Quadrilha
Coronel Bossa Nova e peça teatral “A Farsa da Boa Preguiça”, do Teatro Escola
Amazonense de Amadores.
Dia 24 (sábado) – À tarde. Quadrilha Araruaminhas na Roça,
Quadrilha Infantil Real Madrid na Roça, Garrote Estrela de Ouro, Garrote
Brinquedinho, Quadrilha do Coronel Ovídio (Terra Nova) e Quadrilha Brotinhos na
Roça. À noite. Quadrilha Soçaite na Roça, Balé Folclórico Japonês, Quadrilha
Araruama na Roça, Garrote Touro Preto e Tribo dos Iurupixunas.
Dia 25 (domingo) – À tarde. Quadrilha Tipiti na Roça,
Quadrilha Caboclinhos de Brasília, Garrote Teimosinho, Quadrilha Pajé no
Terreiro e Quadrilha do Grupo Escolar Princesa Isabel. À noite. Quadrilha Auto
Esporte na Roça, Dança do Congo, Escola de Acordeão Hélio Trigueiro, Leão e
Tribo dos Manaú.
Dia 26 (segunda) – À noite. Quadrilha da Mocidade, Quadrilha
Sampaulina na Roça, Garrote Estrelinha, Quadrilha Cabras do Lampião, Garrote
Canarinho, Quadrilha do Coronel Troncoso, Bumbá Rei da Campina (Careiro) e
Quadrilha na Roça.
Dia 27 (terça) – À tarde. Quadrilha Infantil Popular,
Quadrilha Brotinhos do Amanhã, Garrote Mimoso, Quadrilha Roceiros no Asfalto e
Quadrilha do Coronel Honório na Matança. À noite. Quadrilha Caipirada
Senadorista, Garrote Malhado, Pássaro Japiim, Dança de Rodas do CEA, Garrote
Dois de Ouro e Quadrilha Caipirada Normalista.
Dia 28 (quarta) – À tarde. Quadrilha Geraldinos no Roçado,
Quadrilha Milionários na Roça, Quadrilha Pai Xangô na Cachoeira, Quadrilha
Namorados na Roça e Quadrilha São João na Roça. À noite. Quadrilha Norte-Americana
do Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos, Dança do Tipiti, Bumbá Tira Prosa,
Quadrilha Flor do Plano, Quadrilha Primo do Cangaceiro, Bumbá Corre Campo e
Pássaro Papagaio.
Dia 29 (quinta) – À tarde, a partir das 15 horas, desfile de
encerramento, proclamação dos vencedores e distribuição dos prêmios em
dinheiro, oferecidos pelo governador Gilberto Mestrinho.
A solenidade de abertura do festival estava de acordo com o
gigantismo alcançado pela festança, conforme o cronograma quase militar publicado
no dia 18 de junho, em O Jornal e Diário da Tarde:
Programa
Geral de Abertura do V Festival Folclórico: Hoje. Concentração de todos os
grupos, às 14 horas, na Praça São Sebastião. Para isso os responsáveis devem
vir buscar, na porta de O Jornal, a sua condução. Governador e visitantes
ilustres passarão em revista os concorrentes, exatamente às 15h30.
Toque
de clarins anunciando a chegada do Chefe do Executivo no Estádio General
Osório, com o Coral João Gomes Junior apresentando números no tablado. Toque de
clarins anunciando o desfile. Desfile. Toque de clarins, para o início da
solenidade no tablado. Saudação de O Jornal e Diário da Tarde ao Governo, às
autoridades, aos visitantes e ao povo amazonense.
Palavra
do governador Gilberto Mestrinho, abrindo, oficialmente, os festejos.
Apresentação ao povo e aos figurantes da Comissão Julgadora, presidida pelo Dr.
Aderson de Menezes, secretário de Educação e Cultura, e constituída ainda de
mais quatro membros: professores Nivaldo Santiago, Afonso Nina, Sebastião
Norões e o folclorista Campos Dantas. Palavra do intelectual Ramayana de
Chevalier, agradecendo em nome de todos os figurantes do festival.
Chamada
ao tablado de todas as jovens candidatas aos títulos de “Rainha do Festival
Folclórico” e “Rainha de Beleza do Festival”. Exibição especial e rápida de
alguns campeões do festival do ano passado. Encerramento, com nova apresentação
do Coral João Gomes Junior.
Como nos anos anteriores, as apresentações do V Festival
Folclórico continuaram atraindo uma grande multidão ao Estádio General Osório
(os organizadores anunciavam nos jornais que compareciam 80 mil pessoas por
noite, um exagero!) e, à medida que os problemas pontuais iam surgindo, Bianor
Garcia ia descascando os abacaxis.
Por exemplo, na quinta-feira, dia 22, o Teatro Escola
Amazonense de Amadores avisou que não poderia apresentar, no dia seguinte, como
estava programado, a peça folclórica “A Farsa da Boa Preguiça”. No problem.
Para cobrir o “buraco”, Bianor convocou as quadrilhas Namorados na Roça e São
João na Roça, que estavam escaladas para a noite do dia 28.
Para cobrir os “buracos” do dia 28, incentivou a população a
indicar que grupos deveriam se apresentar no tablado pela segunda vez. A
enquete foi um sucesso, com um sem número de telefonemas dos populares para a
redação, indicando seus grupos favoritos.
No dia 29 de junho, Dia de São Pedro, o matutino O Jornal
chegou às bancas com uma matéria de destaque intitulada “Mais de 80 mil pessoas
irão ao Estádio, hoje, no adeus do nosso V Festival Folclórico”:
O povo
de Manaus, na sua quase totalidade, comparecerá hoje à tarde, ao estádio General
Osório, para se despedir, com saudade e grandes recordações, do nosso V
Festival Folclórico, a maior e a mais famosa festa típica do Brasil, que vem
empolgando a todos, indistintamente, pela sua beleza, pela sua organização
confiada ao jornalista Bianor Garcia (diretor-executivo), pela pluralidade de
cores, de ritmos, de fantasias, de luz e pela presença das figuras mais
destacadas da sociedade, do mundo artístico, parlamentar, cinematográfico e
jornalístico do país e de alguns países amigos.
Ensejou,
ainda, a celebridade da festa, o aprimoramento demonstrado pela maioria dos
conjuntos cujas exibições se equilibraram nos cânticos, no desembaraço, nas
vestimentas e no desejo de competir e vencer deixando a Comissão Julgadora com
um seríssimo problema para escolher os melhores entre os melhores e de vitória
inédita essa promoção altamente educativa, que está aproximando as tradições e
os costumes populares do nosso estado a todos os continentes.
A
empresa Archer Pinto Ltda., promotora do V Festival Folclórico, não pode
esconder, publicamente, o seu profundo contentamento e a sua mais significativa
homenagem a quantos, direta ou indiretamente, contribuíram para o brilhantismo
do mesmo, destacando a infalível e tradicional colaboração do governador
Gilberto Mestrinho, que desde o tempo de Prefeito de Manaus vem, assiduamente,
ajudando na formação dos grupos e oferecendo prêmios aos vencedores; ao
prefeito Loris Cordovil, pela sua costumeira parcela de apoio, aos Comandos do
GEF e 27º BC (e ao Sub-Comandante Raul, pela inestimável solidariedade); às
indústrias I. B. Sabbá, à Companhia de Eletricidade de Manaus, e tantos outros,
pois são muitos os braços amigos sustentando moral e materialmente o triunfo de
mais essa jornada vencida em prol da alegria, da educação e da projeção do
Amazonas no concerto brasileiro.
Agradece,
ainda, com todo o carinho e a maior emoção, ao povo amigo e ordeiro de Manaus,
os seus milhares de leitores e fiéis colaboradores e incentivadores. Eles que
não faltaram com o seu apoio todas as noites, todas as tardes, nos momentos
mais consagradores do festival, transformando o Estádio General Osório igual
aos templos romanos, aos seus dias de festas pomposas. A todos esses o nosso
preito de reconhecimento. O nosso preito de gratidão. O penhor da nossa
confortadora homenagem, lembrando-lhes que o calor do seu incentivo já nos
estimula a preparar, desde agora, o VI Festival Folclórico do amazonas, em
junho vindouro.
O
Festival será encerrado, hoje, com o desfile de todas as quadrilhas (adultas e
mirins), de todos os bumbás, de todos os garrotes e de todos os pássaros,
brigues, danças regionais, tribos e “outros grupos”. Essas sete mil pessoas
tipicamente vestidas, que se exibiram desde o dia 18 no maior tablado de todos
os tempos, dirigidos e orientados pelo nosso companheiro Bianor Garcia, sairão
da Praça São Sebastião, exatamente às 16 horas, para o Estádio General Osório,
onde o povo os espera e a Comissão Julgadora (Aderson Menezes, Nivaldo
Santiago, Sebastião Norões, Campos Dantas e Afonso Nina) apresentará o
resultado de sua observação, proclamando os vencedores e aos quais o governador
Gilberto Mestrinho oferecerá mais de Cr$ 500 mil em prêmios. Estes, sob o
aplauso do povo, irão rapidamente ao tablado, para receberem o prêmio e
cantarem o agradecimento.
Fique
certo o povo, fiquem certos os grupos concorrentes de que, mais uma vez, o
julgamento será rigorosamente honesto, não terá absolutamente qualquer
resquício de parcialidade, de preferência, de privilégio ou desejo de
prejudicar quem quer que seja. Ganhará aquele que realmente procurou preservar
e obedecer às regras técnicas, tradicionais e não introduziu elementos
estranhos no seu grupo, ou seja, não incorporou aquilo que nunca existiu como
matéria folclórica e que na sua opinião pudesse lhe parecer certo ou bonito,
pois é verdade que existe muitas coisas que alguns acham notável, espetacular,
mas está absolutamente errado.
Como
acontece todos os anos, os promotores concederão caminhões para a condução dos
grupos mirins, quadrilhas, pássaros e outros grupos, para a sua concentração
(antes do desfile) na Praça São Sebastião. Os bumbás e garrotes virão à pé,
pelas ruas, cantando e conduzindo seus admiradores. Assim, esperamos que todos
os donos desses conjuntos (com exclusão dos bumbás e garrotes) compareçam hoje,
exatamente a uma hora da tarde, à porta da nossa redação (O Jornal e Diário da
Tarde) para receberem os caminhões. Todos devem atentar para isso para que
ninguém chegue atrasado.
Novamente
as rádios Baré (Manaus) e Marajoara (Belém), farão, hoje, a cobertura completa
do encerramento de nosso festival. A emissora “associada” amazonense fará a
transmissão e a paraense, a retransmissão para todo o Brasil.
O bumbá Tira Prosa conquistou o tricampeonato da categoria
A Comissão Julgadora apontou os seguintes vencedores no festival daquele ano, em que houve recorde de empates no primeiro lugar:
Bumbás: Tira Prosa e Corre Campo.
Garrotes: Luz de Guerra e Teimosinho.
Pássaros: Japiim, Papagaio e Corrupião.
Tribo: Manaú.
Brigue: Independência.
Quadrilhas adultas: Real Madrid na Roça (Chave A), Primo do
Cangaceiro e Geraldinos no Roçadao (Chave B), Caboclinhos do Araçá (Chave C),
Araruama na Roça (Chave D) e Flor do Plano (Chave E).
Quadrilhas infantis: Caboclinhos de Brasília e Infantil
Popular.
Danças Regionais: Xote do Interior (IEA), Dança do Congo
(Colégio Brasileiro) e Cantigas de Roda do CEA.
Outros Grupos: Cavalo Marinho.
Rainha do Festival: Ambrosina Valério, da Tribo dos Manaú.
Rainha de Beleza: Ana Paula, da Quadrilha Soçaite na Roça,
do Instituto Benjamin Constant.
Rainha Mirim: Paula Regina, da Quadrilha Infantil Brotinhos
do Amanhã.
Melhor Sanfoneiro: Fátima Fernandes, da Quadrilha Araruama
na Roça.
No dia 25 de agosto de 1961, o país foi surpreendido pela
renúncia do Presidente Jânio Quadros, episódio que desencadeou uma crise
política sem precedentes na história republicana e que, de certo modo,
desaguou, menos de três anos depois, no golpe militar de 1964.
A aguardada reunião entre o homem da vassourinha e os governadores
da região Norte, marcada para Manaus, naquele mês, foi transferida para as
calendas gregas.
Em setembro, a jornalista Paulina Kaz publicou uma matéria
de quatro páginas na revista O Cruzeiro, ricamente ilustrada com fotos de Ed
Keffel, intitulada “Amazonas Festival de Folclore”:
Todos
os anos, no mês de junho, a capital do Amazonas parece transformar-se. O
entusiasmo domina todos os seus habitantes. Está chegando o grande dia. É gente
se preparando para o Festival. Não se comenta, não se fala em outra coisa.
À
proporção que os dias vão passando, o movimento nas ruas aumenta de
intensidade. Nas praças e na beira do cais, velhos, moços e crianças se
aglomeram, traçando planos, marcando ensaios, pois ninguém pode faltar. As
lojas estão superlotadas de gente fazendo compras. Os mais diversos tecidos,
verdes, azuis e amarelos são vendidos em profusão, caixas e mais caixas de
botões e linha têm compradores da cidade e do interior. Depois, levam tudo para
casa, onde, trabalhando noite e dia, a perícia das mãos hábeis vai
transformando o material nas mais diferentes formas. Todos querem estar
preparados para assistir e participar da festa de Manaus.
Chegou
o dia tão esperado. A cidade recebe os que vêm de longe, em carroças, canoas, e
até mesmo a pé. Chegou o grande dia do V Festival Folclórico do Amazonas. Sete
mil figurantes participam dos amis variados números – congadas, bumbas-meu-boi,
as lendas dos pássaros e quadrilhas – e a praça está lotada com mais de setenta
mil pessoas assistindo a um espetáculo que nasceu, floresceu e se mantém em
função do povo. É a expressão mais genuína de suas manifestações mais puras.
O
Festival mostra o povo amazonense, num dia novo, pondo em relevo não mais a
bravura da sua luta contra os perigos da região hostil, mas a sua sensibilidade
natural à poesia.
Herança
de um passado longínquo, o folclore amazonense, de forte influência africana,
apresenta uma enorme variedade de cores, danças e cantos, em que o povo
participa com a maior intensidade, aplaudindo e incentivando.
Gente
pobre, gente rica, pretos e brancos, alegres e sorridentes, estão unidos nesta
festa popular. E depois tudo se acaba. Agora, só no ano que vem. Todos vão para
as suas casas, felizes, fazendo planos para o próximo Festival.
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