O golpe militar do ano anterior havia ocorrido supostamente
para eliminar a subversão e a corrupção que grassava no país. Para evitar
qualquer suspeita de malversação de verbas públicas em seu governo, o
governador Arthur Reis resolveu oficializar e dar publicidade aos recursos
destinados aos grupos folclóricos por meio de uma lei encaminhada para
discussão na Assembleia Legislativa do Amazonas.
No dia 31 de maio, o matutino O Jornal publicou uma matéria
intitulada “Ruy sancionou a lei que destina recursos ao IX Festival Folclórico”:
Foi
sancionada, ontem, pelo governador em exercício, Ruy Araújo, a lei que tomou o
nº 209 e amanhã sairá publicada no Diário Oficial do Amazonas, que abre no
Orçamento o crédito especial de Cr$ 12 milhões e 500 mil para ocorrer com
despesas do IX Festival Folclórico do Amazonas, soberba promoção da Empresa
Archer Pinto e que contará com o patrocínio do Governo Arthur Reis.
Segundo
o diploma legal, Cr$ 8 milhões e 950 mil cruzeiros serão destinados aos grupos
já inscritos, como ajuda às luxuosas fantasias. Cr$ 3 milhões e 200 mil
destinar-se-ão aos serviços de terceiros e outros encargos e CR$ 350 mil serão
para a concessão de prêmios aos vencedores da grandiosa festa junina.
O
custeio total do IX Festival Folclórico do Amazonas pelo Governo Arthur Reis é
prova eloquente de que a cultura popular está merecendo o incentivo do Poder
Público. Em verdade, os festivais
folclóricos realizados pela Empresa Archer Pinto sempre foram festas genuínas
do povo, que não se cansa de aplaudir, de incentivar, a todos quantos tomam parte na maior e mais bela festa típica, no gênero, do país.
Vale
ressaltar, também, que o Poder Legislativo do Estado deu a sua parcela de
colaboração ao IX Festival, aprovando a Lei nº 209.
REUNIÃO
HOJE PARA A COMISSÃO – A Lei nº 209, que hoje será publicada no Diário Oficial,
prevê em seu artigo 3º a constituição de uma comissão composta do desembargador
André Araújo (Secretário da Educação), que a presidirá, dr. José Cidade de
Oliveira (Diretor Geral do DIPTEA), desembargador João Machado Junior (Presidente
do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), jornalista Aristophano Antony
(Presidente da Associação Amazonense de Imprensa) e um representante da Empresa
Archer Pinto, a qual se reunirá hoje, no Palácio, às 16 horas, para coordenar a
aplicação dos recursos fixados na Lei acima aludida.
Braço direito de Bianor Garcia até o ano anterior, o
jornalista Luiz Verçosa foi incumbido de organizar e coordenar o festival aquele
ano, que teria seu desfile inaugural no dia 20 de junho, domingo, e seu
encerramento no dia 28, segunda-feira. As competições seriam realizadas entre
os dias 21 e 26. Ele se desincumbiu da tarefa a contento até porque o beabá do
festival já estava praticamente incrustado no seu DNA. Na verdade, Bianor Garcia havia sido um
excelente professor.
Quando as inscrições foram encerradas, havia 45 grupos
inscritos. Para facilitar o trabalho da Comissão Julgadora, Luiz Verçosa distribuiu
os grupos em oito chaves:
Bumbás: Pai do Campo, Corre Campo, Caprichoso e Tira Prosa.
Garrotes: Luz de Guerra, Tira Teima, Canarinho, Dominante,
Sete Estrelas, Veludinho, Estrela D’Alva, Dois de Ouro, Pingo de Ouro e
Malhado.
Tribos: Iurupixunas, Andirás e Cuximiraibas.
Pássaros: Corrupião e Bem-te-vi.
Danças Regionais: Caninha Verde, Cacetinho (Tarianos),
Ciranda (da Escola Senador Lopes Gonçalves), Tipiti (infantil) e Danças e Jogos
Infantis.
Danças nordestinas: Primo do Cangaceiro, Cabras do Lampião,
Netos de Cangaceiro e Sobrinhos de Maria Bonita.
Quadrilhas adultas: Araruama na Roça, Real Madrid na Roça,
Coronel Gerceano na Roça, Soçaite no Interior, Flor Selvagem, Matutos do
Manaquiri e Quadrilha Escocesa.
Quadrilhas mirins: Caboclinhos de Brasília, Filhos do
Lampião, Glorianos no Roçado, Brotinhos da 1º de Maio, Brotinhos de Amanhã,
Brotinhos de Santo Antonio, Caboclinhos do Arari, Bossa Nova e Gaveanos no
Roçado.
Como atrações especiais da categoria “Folclore Brasileiro –
Hors Concours”, Dança do Café, Pastorinhas do Luso e Brigue Independência. Essa
última escolha, provavelmente foi feita apenas para queimar a língua daquele
renomado folclorista, nosso velho conhecido.
Aliás, o secretário da Comissão Amazonense de Folclore
estava na muda desde que o nº 50 do boletim Jornal do Folclore havia sido
encartado no jornal A Gazeta, no dia 1º de agosto de 1964.
Aparentemente, a prisão de Plinio Coelho, decretada pelo
governador Arthur Reis, no dia 10 de agosto daquele ano, e o empastelamento dos
jornais O Trabalhista e A Gazeta, ambos de propriedade do ex-governador, tenham
contribuído para o melancólico fim da publicação. Era um corvo a menos para
torcer pelo fracasso do festival.
O jornalista Luiz Verçosa, em comum acordo com os dirigentes
dos grupos folclóricos, também estabeleceu que na segunda feira, dia 28,
ocorreria a “Noite dos Campeões”, com todos os grupos vencedores marcando
presença no tablado para receberem seus prêmios e fazerem uma nova apresentação
para o público.
A Comissão Julgadora estabeleceu o tempo de exibição de cada
grupo, em comum acordo com os dirigentes das brincadeiras: Bumbás, Garrotes e
Quadrilhas mirins, 20 minutos, Quadrilhas adultas e Danças, 25 minutos, Cordão
de Pássaros, 30 minutos, e Tribos Indígenas, 40 minutos.
O prefeito Vinicius Conrado concedeu uma ajuda de custo para
todos os grupos no valor de Cr$ 50 mil (R$ 2 mil, em valores de hoje).
A ajuda do governador Arthur Reis foi um pouco mais
substancial: Cr$ 200 mil para os bumbás, Cr$ 150 mil para as Quadrilhas
adultas, Pássaros, Tribos e Danças Regionais, e Cr$ 100 mil para os Garrotes e
Quadrilhas infantis.
Os sete melhores grupos campeões dividiram entre si o prêmio
de Cr$ 350 mil, a critério da Comissão Julgadora, que era formada pelo
desembargador Mário Verçosa (presidente), Aderson de Menezes, André Araújo,
Garcitylzo do Lago e Silva, Alfredo Fernandes, Afonso Nina, Gebes Medeiros,
João Correia, Aristophanos Antony, João Braga e major Souza Carvalho.
Como critério de julgamento seria observado os itens
originalidade, autenticidade, coreografia, indumentária, música e alegria dos
brincantes.
A ordem de apresentação do IX Festival, com 45 grupos
inscritos e cerca de 4 mil figurantes, ficou assim definida:
Dia 20 (domingo) – Desfile de todos os conjuntos, a partir
das 15 horas, da Praça São Sebastião ao General Osório, como parte da abertura
oficial do festival. Abertura do festival pelo prefeito Vinicius Conrado.
Saudação do governador Arthur Reis. Apresentação da Comissão Julgadora. Subida
ao tablado dos grupos campeões do ano passado.
Dia 21 (segunda) – À noite. Quadrilha Adulta Glorianos no
Roçado, Garrote Pingo de Ouro, Brigue Independência, Dança Nordestina Netos do
Cangaceiro e Garrote Veludinho.
Dia 22 (terça) – À noite.
Quadrilha Adulta Matutos do Manaquiri, Garrote Dois de Ouro, Quadrilha
Adulta Real Madrid na Roça, Garrote Dominante e Tribo dos Cuximiraibas.
Dia 23 (quarta) – À noite. Quadrilha Adulta Escocesa,
Quadrilha Adulta Coronel Gerceano na Roça, Dança Regional Ciranda, Pássaro
Bem-te-vi, Dança Nordestina Primo do Cangaceiro, Tribo dos Iurupixunas e Dança
Regional Cacetinho (Tarianos).
Dia 24 (quinta) – À tarde.
Quadrilha Mirim Caboclinhos de Brasília, Roda e Jogos Infantis, Garrote
Estrela D’Alva, Quadrilha Mirim Filhos de Lampião, Garrote Sete Estrelas e
Quadrilha Mirim Bossa Nova. À noite.
Garrote Malhado, Quadrilha Adulta Flor Selvagem, Dança Regional Caninha Verde,
Bumbá Caprichoso e Tribo dos Andirás.
Dia 25 (sexta) – À noite. Quadrilha Adulta Araruama na Roça,
Pássaro Corrupião, Dança Nordestina Cabras do Lampião, Garrote Luz de Guerra e
Bumbá Pai do Campo.
Dia 26 (sábado) – À tarde. Quadrilha Mirim Brotinhos da 1º
de Maio, Quadrilha Mirim Brotinhos de Santo Antonio, Quadrilha Mirim Gaveanos
no Roçado, Garrote Tira Teima,Dança Regional Tipiti, Quadrilha Mirim Brotinhos
de Amanhã e Quadrilha Mirim Caboclinhos do Arari. À noite. Quadrilha Adulta
Soçaite no Interior, Bumbá Tira Prosa, Garrote Canarinho, Dança Nordestina
Sobrinhos de Maria Bonita e Bumbá Corre Campo.
Dia 27 (domingo) – À tarde. Desfile de encerramento. À
noite. Proclamação dos eleitos campeões pela Comissão Julgadora.
Dia 28 (segunda) – À noite. Apresentação dos grupos
proclamados campeões no tablado do IX Festival Folclórico do Amazonas e entrega
dos prêmios a que fizeram jus.
O resultado final foi o seguinte, pela ordem de
classificação (campeão e vice-campeão):
Bumbás: Corre Campo e Tira Prosa.
Garrotes: Luz de Guerra e Malhado.
Pássaros: Bem-te-vi e Corrupião.
Tribos: Andirás e Iurupixunas.
Danças regionais: Ciranda e Cacetinho (Tarianos).
Danças Nordestinas: Primo do Cangaceiro e Cabras do Lampião.
Quadrilhas adultas: Flor Selvagem e Araruama na Roça.
Quadrilhas infantis: Caboclinhos de Brasília e Filhos de
Lampião.
Danças infantis: Danças e Cantigas de Roda e Dança do
Tipiti.
Campeã das Campeãs: Dança Nordestina Primo do Cangaceiro,
que obteve o maior número de pontos entre todos os conjuntos participantes.
Rainha do Folclore: Nazira Gomes (Pássaro Bem-te-vi)
Rainha de Beleza: Raissa Mendonça (Ciranda).
Rainha do Folclore Mirim: Margarete Almeida (Caboclinhos de
Brasília).
Rainha de Beleza Mirim: Maria Cilene (Brotinhos do Amanhã).
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