O amo Come Feio e o
bumbá Caprichoso, da Praça 14 de Janeiro
A matéria publicada na revista O Cruzeiro, no ano anterior,
contribuiu para tornar a pajelança amazonense conhecida em todo o país. “O
Cruzeiro encontrará ao nascer o arranha-céu, a radiotelefonia e o correio
aéreo”. Era assim que o primeiro editorial definia a revista que acabara de
nascer: O Cruzeiro chegou ao público em 10 de novembro de 1928 prometendo
modernizar o jornalismo brasileiro.
Fundada por Carlos Malheiros Dias e publicada pelos Diários
Associados, de Assis Chateaubriand, investiu em fotojornalismo, grandes
reportagens e num padrão gráfico considerado moderno para a época. Foi a mais
influente revista do país na primeira metade do século 20.
Em suas páginas, os leitores se atualizavam sobre cinema,
esportes, saúde, moda e gastronomia. A vida dos astros de Hollywood, as
expedições para desbravar a Amazônia, o trabalho dos arqueólogos no Egito, nada
escapava da pauta de O Cruzeiro.
Ao investir em duplas de repórter/fotógrafo, consagrou nomes
como Jean Manzon e David Nasser, responsáveis, entre outras, por uma célebre
entrevista com o médium Chico Xavier. As charges e a cobertura dos fatos
políticos também marcaram época.
A edição sobre a morte de Getúlio Vargas, em agosto de 1954,
teve uma tiragem recorde de 720 mil exemplares, numa época em que as vendas de
um periódico raramente chegavam aos 100 mil.
No final dos anos 60, porém, a revista entrou em declínio,
tanto por causa do surgimento de novas publicações quanto pela má gestão do
empreendimento. Sua última edição circulou em julho de 1975.
Disposto a fazer na abertura do VI Festival Folclórico, em
junho, a maior passeata folclórica da história do país, com mais de 10 mil
brincantes vestidos a caráter (em termos proporcionais em relação à população
da época seria como se hoje, em Manaus, os grupos folclóricos reunidos tivessem
um conjunto de 100 mil brincantes distribuídos em mais de 900 agremiações!),
desfilando da Praça São Sebastião até o Estádio General Osório, o jornalista
Bianor Garcia abriu as inscrições em março e teve mais uma ideia de gênio:
decidiu que as disputas seriam exclusivamente entre as quadrilhas, os bumbás e
os garrotes.
Todos os demais conjuntos inscritos seriam considerados
automaticamente campeões e receberiam uma premiação em dinheiro.
Melhor ainda: as disputas pra valer seriam do tipo
“mata-mata”, com no máximo três grupos por chave e no mínimo dois. As chaves
seriam definidas por sorteio.
Mas quando o milagre é demais, o santo desconfia.
Interessado em atingir a marca histórica de 10 mil brincantes, Bianor decidiu
que cada grupo folclórico teria que ter, no mínimo, 80 integrantes,
excetuando-se as quadrilhas infantis e os garrotes. A correria em busca de
novos brincantes virou uma febre entre os dirigentes folclóricos.
Também ficou definido que a Comissão Julgadora, a seu
critério irrecorrível, poderia desclassificar qualquer um dos grupos que não
estavam na disputa pra valer (os teoricamente “campeões antecipados”) se
considerassem as apresentações de baixo nível técnico.
No final de maio, o jornalista apresentou para o governador
Gilberto Mestrinho uma previsão orçamentária da premiação em dinheiro, dentro
das novas regras do jogo, que alcançava a cifra de Cr$ 1 milhão (R$ 400 mil em
valores de hoje, o dobro do ano anterior). O governador aprovou, sem discutir.
Na primeira semana de junho, as inscrições já estavam
encerradas e as chaves definidas:
Quadrilhas adultas
– Chave A: Primo do Cangaceiro, Santo Antônio na Roça e Quadrilha da Paz.
Chave B: Flor do Plano, La Paloma e Flor da Mocidade.
Chave C: Araruamas na Roça, Arautianos na Roça e Ruienses na
Roça.
Chave D: Geraldinos no Roçado, Tio João na Roça e Mocidade
na Roça.
Chave E: Caiçaras na Roça, Folia na Roça e Capitão Varela.
Chave F: Caboclos do Tapauá, Jorgeanos na Soçaite e
Brotinhos na Roça.
Chave G: Quadrilha dos Camponeses, Quadrilha do Bananal e
Canto da Alvorada.
Chave H: Caipirada Normalista, Gregório no Canavial e Cabras
do Lampião.
Chave I: Real Madrid na Roça, Matutos do Inferno Verde e
Quadrilha do Iranduba.
Chave J: Cunhantans Puranga, Roceiros no Asfalto e Matutos
na Roça.
Quadrilhas mirins
– Chave A: Infantil Popular e Festinha na Roça.
Chave B: Brotinhos de Amanhã e Vasquinho na Roça.
Chave C: Curumins da Colina e Curumins da Roça.
Chave D: Americanos na Roça e Filhos do Lampião.
Chave E: Quadrilha dos 40 Anões no Festival e Filhos de Dona
Xandoca na Roça.
Chave F: Caboclinhos de Brasília e Filhos do Cangaceiro.
Bumbás – Chave A:
Tira Prosa e Canarinho.
Chave B: Corre Campo e Mina de Ouro.
Chave C: Caprichoso e Ás de Ouro.
Chave D: Pai do Campo e Veludinho (do Manaquiri).
Garrotes – Chave
A: Teimosinho, Mineirinho e Estrela de Ouro.
Chave B: Luz de Guerra e Treme Terra.
Chave C: Malhado, Tira Teima e Touro Preto.
Chave D: Pingo de Ouro e Veludinho.
Os Tarianos da ETM
desfilando nas cercanias do Teatro Amazonas
Entre as atrações daquele ano que pela primeira vez se
apresentavam no festival estavam a Dança do Cacetinho (Tribo dos Tarianos, dos
alunos da Escola Técnica de Manaus), Dança do Gambá (da comunidade de Borba
radicada em Manaus), a Roda de Coco de Zambê, Danças Colombianas, Polca
Brasileira, Danças Gaúchas, Dança do Arara, Danças Mexicanas, Danças e Ritmos
Latino-americanos, Musas do Ritmo (um conjunto musical formado exclusivamente
por mulheres) e a Pastorinha Filhas de Jerusalém.
As tribos bateram recorde de inscrição: Iurupixunas,
Andirás, Manaú, Guaranis e Amazonas.
Os Pássaros Japiim, Corrupião e Rouxinol perderam a
companhia do Tucano, do Papagaio e do Guará, mas ganharam a companhia da Garça.
Ao todo, 93 grupos folclóricos se credenciaram para participar
do VI Festival.
No dia 6 de junho, o matutino O Jornal publicava uma matéria
intitulada “Tudo pronto para a abertura do Sexto Festival Folclórico do
Amazonas: dia 17”:
Não
falta absolutamente coisa alguma para iniciarmos o Sexto Festival Folclórico do
Amazonas. O palco da festa, no Estádio General Osório, está sendo trabalhado e
dentro de mais oito dias estará definitivamente pronto para receber todos os
brincantes (cerca de 10 mil) e o povo em geral. Espera-se que, desta vez,
tenhamos uma decoração excelente, capaz de constituir outra beleza da maior e
mais linda comemoração típica de todo o território brasileiro.
Por
outro lado, todos os grupos, ou a sua grande maioria, já se encontram
preparados, ensaiados, dando os últimos retoques. Alguns, que lutam com
diversas dificuldades, especialmente de ordem financeira, procuram organizar-se
e até o dia 17 nada lhes faltará. Houve uma verdadeira corrida para o comércio
local, que vendeu milhões de cruzeiros em fazendas, em enfeites e em peças
indispensáveis às mais exóticas fantasias. Pena que muitos estabelecimentos
tenham exercido verdadeira especulação, dificultando as possibilidades de
muitos brincantes.
Apesar
disso, tudo está prontinho da silva para o dia 17, data da abertura solene e
festiva do grande acontecimento popular, idealizado, criado e dirigido, desde
1957, pelo jornalista Bianor Garcia. Nessa tarde, que coincidirá com o término
do Campeonato do Mundo, dar-se-á o desfile de todos os integrantes do festival,
da Praça São Sebastião ao Estádio General Osório, formando, assim, o exuberante
espetáculo de cores, ritmo, graça, coreografia e beleza de todos os anos. O
povo é o grande convidado. A festa é sua, foi imaginada em sua honra e é
pensando no povo, no seu apoio aos nossos diários, que de ano a ano os nossos
esforços se desdobram, à frente o incansável companheiro Bianor Garcia,
coordenador do grande acontecimento popular.
Existem
ainda alguns conjuntos, especialmente tribos, que estão em dificuldades, com a
falta de penas para suas fantasias. Pedimos a quem tiver em casa, como enfeite
ou para vender, que tragam à redação de O Jornal, no horário das 5 às 6 horas
da tarde, pois os interessados comprarão. Quem vier aqui oferecer penas,
estará, também, não só colaborando com a nossa empresa, como ainda ajudando a
embelezar o Festival Folclórico. Essas penas podem ser qualquer uma,
especialmente de tucanos, papagaios, gaviões, araras, garças, etc. Qualquer
pena serve.
Informou-nos
o sr. Luís Costa, subchefe da Casa Civil, que o governador está assinando os
ofícios, com os quais os donos dos grupos folclóricos receberão na Fazenda
Pública, o auxílio de Gilberto Mestrinho. Quando todos estiverem assinados,
Luís Costa marcará o dia e a hora em que todos deverão comparecer, ou mandar
representante autêntico, ao Palácio Rio Negro, para recebê-lo.
Os brincantes do
Cordão de Pássaro Corrupião, um dos campeões antecipados do festival
No dia 9 de junho, o matutino O Jornal voltaria ao assunto,
com uma matéria intitulada “Sexto Festival Folclórico do Amazonas: entrega dos
ofícios, hoje, no Palácio Rio Negro, aos donos dos conjuntos”:
O
governador em exercício, deputado Arlindo Porto, assinou todos os ofícios de
auxílio do Governo aos grupos folclóricos inscritos no Sexto Festival, que se
iniciará no próximo dia 17, à tarde, com o desfile de todos os figurantes.
Mediante esses ofícios, os donos dos grupos receberão, novamente, a tradicional
ajuda do governador Gilberto Mestrinho, para a formação de sua brincadeira
típica.
Em
consequência, todos os dirigentes (ou representantes idôneos) devem comparecer,
hoje, impreterivelmente, às 10 horas, no gabinete do Sr. Luiz Costa, subchefe
da Casa Civil do Governador, para o recebimento dos ofícios. Ninguém deve
faltar. Lá estará, também, o jornalista Bianor Garcia, idealizador, criador e
dirigente da maior e mais linda festa folclórica de todo o Brasil.
A partir da leitura das matérias jornalísticas publicadas
nos dias seguintes, tanto no matutino O Jornal como no vespertino Diário da
Tarde, era possível perceber que Bianor Garcia estava de volta à sua via crucis
de visitar os ensaios das agremiações folclóricas e participar de outras
atividades de cunho filantrópico ligadas ao festival. Selecionamos algumas
dessas notas:
A
Quadrilha dos Camponeses, do bairro de São Raimundo, realizará, hoje, o seu
ensaio geral, com uma grande festa dançante, que só acabará no dia seguinte.
Haverá fartura de guloseimas da época, totalmente de graça para quantos
adquirirem reserva de mesa, com o Sr. José Vicente, no Mercadinho Cunha Melo,
na Av. João Coelho. Fomos gentilmente
convidados.
Realiza-se
hoje, à noite, o ensaio geral da Quadrilha Caboclinhos de Brasília, uma das
veteranas do nosso festival, campeã durante vários anos. A jovem Derbla
Menezes, diretora e marcadora, promete que os “candanguinhos” da Av. Airão
sairão vitoriosos, novamente. Fomos convidados e lá estaremos.
O
Pássaro Japiim, apesar de sérios obstáculos, fará, hoje, a sua singela festinha
de preparação para o VI Festival. É um conjunto harmonioso e bem preparado,
graças à dedicação de Dona Paquita. O Japiim, este ano, entretanto, é campeão
de sua categoria, pois não precisará ser julgado.
O
garrote Luz de Guerra, do nosso amigo Maranhão, também fará, hoje, o seu ensaio
geral na Rua Boa Sorte, na Matinha, com grande festa. Todos os simpatizantes e
amigos do Luz de Guerra, bicampeão da categoria de garrotes, estão convidados.
Também
o veterano Brigue Independência está em festa, hoje, com o aniversário
natalício do jovem Sebastião Gomes do Nascimento, “comandante” daquele “barco”.
Todo o conjunto se reunirá à noite, para comemorar o evento.
Na Av.
Airão, 125, proximidades da Matinha, sob as ordens de Walder Caetano, será
realizada, hoje, à noite, a festa de preparação definitiva da Dança Regional do
Arara e da Quadrilha Flor da Mocidade. O negócio ali é para dançar mesmo. O
primeiro jazz da Polícia Militar estará presente, custando a reserva de mesa
Cr$ 500,00, sendo encontrada na banca de revistas em frente à antiga Casa Rio,
no arraial da João Coelho e no Boulevard Amazonas, 555, com a senhora Dalva.
Fomos convidados e lá estaremos, pois não se deve perder um programa excelente
como esse, organizado pelo Walder Caetano.
Dona
Elizabeth e seu Antônio, dois velhos amigos do nosso festival, realizarão,
hoje, à noite, também com uma grande festa, o ensaio geral da Quadrilha
Mocidade na Roça, situada na Rua Boa Sorte, na Matinha. Ninguém deve faltar,
pois haverá muitas surpresas. Fomos convidados e agradecemos.
A partir
das 16 horas de hoje, o jornalista Bianor Garcia, igual como fez com os filhos
sadios dos leprosos (sábado passado) organizará a Festinha de Caridade aos
velhinhos do Asilo de Mendicidade Dr. Thomaz. O povo generoso de Manaus deve
comparecer, infalivelmente, levando camisas, calças, vestidos, sandálias,
chinelos, pijamas, cuecas, calções, já usados, e os que puderem poderão
oferecer latas de leite, de maisena, macarrão e até dinheiro. A veneranda
senhora Dona Virginia Amorim, diretora do asilo, estará presente, para receber
os donativos do povo frequentador do nosso festival. Ninguém deve chegar ali de
mãos abanando. Todos devem oferecer o seu donativo, a sua dádiva, por menor que
seja. Ajudemos, pois, com a nossa alegria, os velhinhos inválidos do Asilo de
Mendicidade Dr. Thomaz.
Os
portugueses do Luso Sporting vão ver hoje o que é uma quadrilha de verdade. O
conjunto Primo do Cangaceiro, do nosso chapa Zacarias, estará realizando, hoje,
a partir das 21 horas, uma festança do arromba nos salões daquela prestigiosa
entidade luso-brasileira. A quadrilha se apresentará e depois cada qual que se
arranje com sua cabrocha pra dançar até de manhã. O traje é esporte ou fantasia
decente e a venda de mesa dar-se-á na sede dos cangaceiros, no bairro da
Cachoeirinha.
A
Tribo dos Tarianos, a grande revelação do festival, organizará, amanhã,
sexta-feira, a sua festança, nos salões da Escola Técnica de Manaus. A famosa
Dança do Cacetinho será novamente apresentada, em todas as suas partes, para
quantos ali comparecerem. Está prevista, também, a presença da Tribo dos Manaú,
uma das campeãs de nosso festival, e outros grupos típicos. A festa será
promovida pelo Centro Estudantil Francisco Montojos, dos estudantes da ETM.
No dia 17 de junho, domingo, o matutino O Jornal publicou
uma matéria de primeira página intitulada “Inaugura-se, hoje, o Sexto Festival
Folclórico do Amazonas”:
Engalana-se,
hoje, novamente, o povo amazonense, dirigindo-se em massa, logo mais, às 14
horas, ao Estádio General Osório, para tomar parte e orgulhar-se do Sexto
Festival Folclórico do Amazonas, promoção eminentemente popular anualmente
realizada por O Jornal e Diário da Tarde, com o apoio maior do governador
Gilberto Mestrinho, prefeito Josué Cláudio de Souza, general Moniz de Aragão,
comandante da Guarnição Federal de Manaus, Companhia de Eletricidade de Manaus,
Indústrias I. B. Sabbá e tantos outros colaboradores.
Essa
festa pública, a maior de todo o território brasileiro, idealizada, criada e
dirigida pelo nosso companheiro Bianor Garcia para os líderes, é hoje um
acontecimento de ressonâncias internacionais. Abala todos os corações, remove
todas as tristezas e concentra, por incrível que pareça (como este ano), cerca
de 10 mil pessoas tipicamente vestidas, o que até hoje não foi possível repetir-se
em qualquer outra região do país. Mostra, assim, o nosso povo, ao resto da
Pátria, através dos nossos diários, a sua desafiadora capacidade de
organização, o seu irrefreável estímulo à cultura popular brasileira e o seu
magnífico exemplo de operosidade e realizações em favor do povo.
A
inauguração do festival, que desde 1957 vem se sucedendo ano a ano ganhando
mais entusiasmo e sucesso transcendentais, dar-se-á, por tradição, com o
desfile de todos os figurantes fantasiados, da Praça São Sebastião ao Estádio
General Osório, onde se encontrarão o governador Gilberto Mestrinho e as mais
altas autoridades federais, estaduais, eclesiásticas, militares, turistas
nacionais e estrangeiros, representantes de cadeias de emissoras de rádio, de
televisão e de cinema.
Aí que
residirá a importância desse espetáculo de cores, de ritmos, de alegria, de
graça, beleza, poesia, jamais visto pelos nossos visitantes. E a partir de
amanhã até o dia 1º de junho, todas as noites e n’algumas tardes, as
competições se desenrolarão no tablado, perante a Comissão Julgadora, que está
incumbida de escolher e proclamar os campeões deste ano, aos quais o governador
Gilberto Mestrinho distribuirá quase um milhão de cruzeiros em prêmios.
Oxalá,
tenhamos, hoje, duplo euforismo. O primeiro já está certo: a abertura do
festival. Falta o segundo, o bicampeonato do Brasil na Copa do Mundo. Aliás,
toda a irradiação do jogo será ouvida no Estádio General Osório, através do
serviço de alto-falantes do festival.
Todos
os grupos folclóricos devem vir buscar os caminhões, para sua condução à Praça
São Sebastião. Todos devem se vestir cedo, bem cedo mesmo, de preferência à uma
hora da tarde para que, às 16 horas, todos estejam na praça prontos para
desfilar até ao Estádio General Osório.
O jornalista
Bianor Garcia e o radialista Luiz Verçosa, como sempre aconteceu, são os
encarregados da transmissão das solenidades, desfiles e abertura do Festival
Folclórico do Amazonas. Somente estes são os responsáveis por esse espinhoso
trabalho.
A Dança do Tipiti, das
alunas do Colégio Estadual do Amazonas
A ordem de apresentação do VI Festival, com 93 grupos
inscritos e mais de 10 mil figurantes, ficou assim definida:
Dia 17 (domingo) – Desfile de todos os conjuntos, a partir
das 15 horas, da Praça São Sebastião ao General Osório, como parte da abertura
oficial do festival.
Dia 18 (segunda) – À noite. Quadrilha Caboclos do Tapauá,
Garrote Touro Preto, Quadrilha Matutos na Roça, Quadrilha Jorgeanos na Soçaite
e Tribo dos Manaú.
Dia 19 (terça) – À noite.
Garrote Treme Terra, Quadrilha Folia na Roça, Tribo dos Andirás, Pássaro
Japiim e Quadrilha Mocidade na Roça.
Dia 20 (quarta) – À noite. Tribo das Amazonas, Quadrilha Tio
João na Roça, Garrote Estrela de Ouro, Dança do Congo e Quadrilha Roceiros do
Asfalto.
Dia 21 (quinta) – À noite. Quadrilha Ruienses na Roça,
Quadrilha Caipirada Normalista, Garrote Pingo de Ouro, Pássaro Corrupião, Dança
do Arara e Desfeiteira e Quadrilha Canto da Alvorada.
Dia 22 (sexta) – À noite. Quadrilha Santo Antônio na Roça,
Bumbá Mina de Ouro, Dança do Tipiti, Quadrilha Flor da Mocidade, Leão e Dança e
Ritmos Latino-americanos.
Dia 23 (sábado) – À tarde. Garrote Canarinho, Quadrilha
Caboclinhos de Brasília, Quadrilha Filhos do Cangaceiro, Roda de Coco de Zambê
e Pastorinha Filhas de Jerusalém. À noite. Quadrilha Geraldinos no Roçado,
Quadrilha Flor do Plano, Quadrilha Primo do Cangaceiro, Garrote Teimosinho,
Bumbá Tira Prosa, Dança do Cacetinho e Tribo dos Iurupixunas.
Dia 24 (domingo) – À tarde. Quadrilha dos 40 Anões no
Festival, Quadrilha Filhos de Dona Xandoca na Roça, Quadrilha Infantil Popular,
Bumbá Veludinho (do Manaquiri) e Escola de Acordeão Hélio Trigueiro. À noite.
Quadrilha Cunhantans Puranga, Garrote Luz de Guerra, Quadrilhas Cabras do
Lampião, Bumbá Corre Campo, Danças Mexicanas e Quadrilha Caiçaras na Roça.
Dia 25 (segunda) – À noite. Quadrilha da Paz, Garrote
Mineirinho, Tribo dos Guaranis, Quadrilha Arautianos na Roça, Danças
Colombianas e Dança do Gambá.
Dia 26 (terça) – À noite. Quadrilha Brotinhos na Roça,
Garrote Tira Teima, Quadrilha do Bananal, Pássaro Garça e Dança do Arara.
Dia 27 (quarta) – À noite. Quadrilha Matutos do Inferno
Verde, Garrote Veludinho, Quadrilha Gregório no Canavial, Polca Brasileira e
Xote do Interior.
Dia 28 (quinta) – À tarde. Quadrilha Curumins da Colina,
Quadrilha Curumins na Roça, Danças Gaúchas e Brigue Independência. À noite.
Quadrilha Araruamas na Roça, Quadrilha do Capitão Varela, Garrote Malhado, Balé
Folclórico Japonês e Bumbá Pai do Campo.
Dia 29 (sexta) – À tarde. Quadrilha Americanos na Roça,
Quadrilha Filhos do Lampião, Quadrilha Festinha na Roça e Quadrilha Brotinhos
de Amanhã. À noite. Quadrilha dos Camponeses, Quadrilha La Paloma, Bumbá Ás de
Ouro, Musas do Ritmo e Pássaro Rouxinol.
Dia 30 (sábado) – À tarde. Quadrilha Vasquinhos na Roça,
Dança do CEA e Cavalo Marinho. À noite. Quadrilha Real Madrid na Roça, Escola
de Acordeão Santa Terezinha, Quadrilha de Iranduba e Bumbá Caprichoso.
Dia 1º de julho (domingo) – Desfile de encerramento do
festival, com proclamação dos campeões e distribuição de prêmios aos
vencedores.
A história da conquista do bicampeonato do Brasil, naquele
ano, também merece ser relembrada. Foram quatro os candidatos a ser a sede da
Copa de 1962: Espanha, Alemanha, Argentina e Chile.
A Fifa deixou logo claro que, depois de dois Mundiais
seguidos na Europa, era a vez da América do Sul. Com isso, sobraram Argentina e
Chile, considerado por muitos um país pobre. Mas com o apoio de Carlos Dittborn
Pinto, filho de diplomata chileno, 32 dos 56 países-membros votaram no Chile
como sede – 11 cravaram Argentina e 13 se abstiveram – no Congresso de 1956.
Quatro anos depois, em 1960, após terremoto no país que
deixou mais de dois milhões de vítimas, entre mortos, feridos e desabrigados, a
Fifa quase mudou de ideia. Dittborn, contudo, garantiu a realização do Mundial.
Pena que, um mês antes do começo, o dirigente morreu. Recebeu a homenagem no
nome do estádio em Arica.
Quarenta e nove países disputaram as eliminatórias e outros
cinco – Canadá, Egito, Indonésia, Romênia e Sudão – desistiram.
Quatro países americanos e 10 europeus se classificaram,
juntando-se ao Brasil, com vaga assegurada por ter sido o campeão mundial, e o
Chile, por ser a sede, para formar os 16 que disputariam a competição. Colômbia
e Bulgária faziam seu début em Mundiais.
O Brasil mudou muito pouco para chegar ao bicampeonato. A
principal troca foi no comando técnico: saiu Vicente Feola, entrou Aymoré
Moreira.
O que ninguém imaginava é que Pelé sofresse séria contusão
na segunda partida. Mas Garrincha foi Pelé e foi Garrincha. A Copa foi do Mané
e do Brasil. E a Seleção, de novo com Didi, Nilton Santos, Djalma Santos, Vavá,
Zagallo...
Com Mauro e Zózimo na defesa e um Amarildo Possesso no lugar
do Rei no ataque, voltou a encantar o planeta. A campanha foi de cinco vitórias
e um empate, contra a Tchecoslováquia, que voltou a enfrentar na final e venceu
por 3 a 1, gols de Amarildo, Zito e Vavá.
Quando a Copa terminou, eram seis os artilheiros: Vavá e
Garrincha, do Brasil, Leonel Sánchez, do Chile, Albert, da Hungria, Valentin
Ivanov, da União Soviética, e Jerkovic, da Iugoslávia, todos com quatro gols.
Mas, em 1993, 31 anos depois, uma revisão no filme do jogo
desvendou uma confusão do árbitro do jogo Iugoslávia x Colômbia. Na súmula, o
terceiro gol da goleada de 5 a 0 tinha sido dado a Galic, mas foi de Jerkovic.
O iugoslavo passou a ter cinco gols e ficou isolado na artilharia.
Se Maradona carregou a Argentina nas costas em 1986,
Garrincha fez isso muito antes, em 1962, com o Brasil. Sem Pelé, contundido,
foi o camisa 7, aos plenos 28 anos, que tomou conta do Mundial.
E o cardápio não foi só de dribles impossíveis de ser
contidos: o Mané fez gols, cruzamentos perfeitos, cobrou faltas magistrais,
escanteios perigosíssimos... Foi um craque completo, a ponto de arrancar a
seguinte manchete do jornal chileno El Mercurio: “Garrincha, de que planeta
vienes?”
Campeão mundial em 1958, o Brasil chegou favorito em 1962.
Mas outra seleção despertava a curiosidade. A União Soviética tinha sido campeã
europeia em 1960 e contava com uma equipe poderosa, a começar pelo goleiro
Yashin.
Na primeira fase, bateu seleções poderosas como Iugoslávia e
Uruguai. Mas, nas quartas de final, caiu para os donos da casa, os chilenos. E
o Aranha Negra, como era conhecido o arqueiro, sofreu dois gols “anormais”. Os
soviéticos até fizeram pressão para empatar, mas acabaram eliminados da Copa.
Pela última vez a Fifa permitiu num Mundial um jogador poder
defender outra seleção que não a do país onde nasceu e pela qual já atuara. Foi
o caso do argentino Di Stéfano, do húngaro Puskas e do uruguaio Santamaria, que
atuaram pela Espanha; dos brasileiros Mazola (Altafini no título de 1958) e dos
argentinos Maschio e Sivori, todos atuando pela Itália.
Sem Pelé, e com Garrincha absolvido da expulsão contra o
Chile, o Brasil entrou favorito no Estádio Nacional de Santiago para a final
contra a Tchecoslováquia. Foi surpreendido com o gol do craque Masopust aos 15
minutos, mas não esperou muito para o empate: dois minutos depois, Amarildo,
sem ângulo, marcou em falha do goleiro Schrojf.
No segundo tempo, o Possesso, que substituiu Pelé, dessa vez
foi garçom e serviu Zito para desempatar, aos 24. E Vavá, em nova falha do
arqueiro, fez o terceiro, aos 33. Com muita febre, Garrincha nem se destacou
tanto na final, mas nem precisou. O Brasil era, com toda justiça, bicampeão
mundial.
A festa de abertura do VI Festival Folclórico do Amazonas se
transformou em carnaval e entrou pela madrugada. No inconsciente coletivo da
população, o ex-prefeito e então governador Gilberto Mestrinho conquistou a
fama de “pé quente”. Assim nascem as lendas.
No dia 26 de junho, em meio a uma matéria em que explicava a
impossibilidade de atender aos reiterados pedidos da população que exigia uma
segunda apresentação de vários grupos que haviam se exibido no Estádio General
Osório, o matutino O Jornal noticiava pela primeira vez aquela que seria a
grande atração do festival daquele ano:
Há
três anos consecutivos que o jornalista Bianor Garcia vem tentando trazer a
Manaus o bumbá Garantido, de Parintins, para se exibir no nosso festival.
Somente agora será possível dada à insistência junto ao prefeito José Esteves.
Provavelmente o Garantido, composto de 82 pessoas, terá saído, ontem, dia 25,
rumo à capital, a bordo do motor Alfredo, estando, portanto, sendo esperado a
qualquer momento no Roadway da Manaus Harbour.
A colônia
parintinense radicada em Manaus, à frente dona Walcira Sabbá, dona Maria Clara
Braga, as moças Etelvina e Mirza Praia e os rapazes Paraguassú Malcher,
Raimundo Praia, Luiz Pimentel, Waldecir Queiroz e Mário Belém, esperam que
todos os parintinenses compareçam ao desembarque e à apresentação do Garantido
no palco da maior e da mais linda festa folclórica do Brasil.
No dia 27 de junho, o matutino voltava ao mesmo assunto:
Chegou,
ontem, conforme divulgamos, o bumbá Garantido, campeão do município de Parintins,
sob a direção do jovem Ironildo e do “amo” Lindolfo Monteverde. Os rapazes, em
número de 62, estão bem dispostos, ensaiaram devidamente, têm alguns problemas
no conjunto, mas prometem arrancar estrondosos aplausos do povo, hoje, às 9
horas da noite, na sua primeira exibição, no palco do Sexto Festival Folclórico
do Amazonas, para o qual foram convidados pelo jornalista Bianor Garcia. A
colônia parintinense e o nosso povo estarão em massa, no Estádio General
Osório, aplaudindo o bumbá parintinense e os demais, de Manaus, que hoje,
também, serão alvo da curiosidade pública.
Ontem,
os parintinenses radicados em Manaus efetuaram uma reunião, em frente ao
estádio, traçando planos para receberem, hoje, o bumbá Garantido, no
tablado. Espera-se, pois, uma grande
movimentação dos filhos de Parintins, incentivando aquele grupo folclórico a
uma exibição convincente e primorosa, o que certamente acontecerá. O Garantido
escolheu como seu Presidente de Honra, o governador Gilberto Mestrinho e
Presidente da Embaixada, o prefeito José Esteves.
No dia 28 de junho, a presença do bumbá Garantido, em
Manaus, era noticiada mais uma vez nas páginas de O Jornal:
Em
frente à nossa redação exibiu-se ontem à noite o bumbá Garantido, de Parintins.
A féerie dos seus trajes e o ritmo vivo das suas músicas despertaram a atenção
dos transeuntes, que pararam para assistir a demonstração do mais autêntico
folclore por parte dos nossos irmãos de Parintins. O Boi Garantido, pelo que
mostrou ontem na sua curta exibição em plena Avenida Eduardo Ribeiro, pode
considerar-se, sem dúvida, a grande atração do VI Festival, por que há nele
qualquer coisa de diferente a começar nos trajes, de uma policromia e de uma
estilização de fato fora do vulgar. Segundo nos anunciaram, o Boi Garantido vai
exibir-se hoje, pelas 21 horas, na Escola Técnica de Manaus, num espetáculo
oferecido aos alunos, ex-alunos e professores daquele estabelecimento de
ensino. Parabéns ao povo de Parintins pela embaixada de puro folclore que nos
mandou, onde além do respeito à tradição existe uma nota de bom gosto que
merece ser ressaltada.
Naquela série memorialística já citada antes, publicada em
1989, o próprio Bianor Garcia rememorou com detalhes a passagem do bumbá
Garantido pela nossa cidade:
Aproximava-se
o 6º Festival Folclórico, em 1962, quando recebi a visita, na redação de O
Jornal e Diário da Tarde, do dirigente do Garantido, o velho Lindolfo
Monteverde, que viera de Parintins para conhecer o nosso festival. Se não estou
enganado, Lindolfo me procurou por recomendação de meu ex-colega do Colégio
Estadual do Amazonas, Mano Maia, que se transferira para Parintins e com o qual
ate hoje não me encontro.
Lindolfo,
como sempre modesto, me contou o que era o Garantido. Segundo ele, nascera de
uma promessa a São João Batista, por volta de 1913. Na verdade, o Garantido era
um conjunto magnífico, como até hoje, mas Lindolfo escondia essa fama. Talvez
até para surpreender a população de Manaus, como aconteceu, que estava
acostumada com seus bois mais destacados: Mina de Ouro, Corre Campo, Tira
Prosa, Vencedor, Rica Prenda, etc.
Disso
nasceu a ideia de trazer o Garantido a Manaus, o que implicava em muitas
despesas, a começar pela viagem de barco, alimentação, hospedagem e atenção
total em caso de doenças, etc. Muitos componentes, aliás, nunca tinham vindo a
Manaus e estavam ansiosos por isso.
O
Garantido fez duas apresentações no tablado. Foi um delírio em tudo, nas
toadas, no ritmo, na coreografia, na cadência, na impecável vocalização
coletiva – o que não é fácil, sobretudo porque um só microfone não podia e nem
pode transmitir com perfeição um cântico, a céu aberto, onde o som se espalha.
Se a
gente observar bem, nas apresentações dos nossos bumbás, aqui ou em qualquer
lugar, é fácil constatar que muitos brincantes “atravessam” a toada,
especialmente aqueles que estiverem longe do microfone ou não tiverem o som de
retorno. Por causa disso, eu sempre defendi a instituição de um grupo de
vocalistas ao microfone, tal como acontece quando um cantor está se apresentando
no palco, na televisão, etc. Mas isso envolve muita organização.
Poder-se-ia
obter esse aprimoramento se Manaus tivesse grupos folclóricos permanentes,
funcionando o ano todo, como empresa, para apresentar-se a qualquer momento,
tal como acontece com o Centro Cultural das Tradições Gaúchas, em Porto Alegre,
existente há muitos anos.
Já
defendi essa ideia de grupos permanentes, aproveitando a estrutura da Tribo dos
Andirás, do Corre Campo, do Tira Prosa, da Ciranda, do Cacetinho. Teríamos,
assim, folclore o ano inteiro, a qualquer dia, e não apenas nas festas juninas.
Parintins, por exemplo, com a estrutura que adquiriu, com Bumbódromo, teria
condições de implementar esse gerenciamento empresarial, conservando as suas
origens.
Há,
evidentemente, muita diferença entre os bois de Manaus e os de Parintins, ou de
outros municípios. No entanto, parece que o respeito às raízes e às tradições
ainda se conserva quase intacto, certamente porque a influência da televisão,
com seu modismo e sua modernidade, ainda não os afetou, como sucedeu em Manaus.
Salvo melhor juízo, Parintins, por exemplo, ainda apresenta reco-reco,
lamparina, triângulo, cheque-cheque, etc. Quem pode explicar melhor isso, fruto
de muita pesquisa e cultura, é o professor Mário Ipiranga Monteiro.
Mas o
Garantido, em Manaus, surpreendeu com o “Bicho Folharal”, a “Vaquejada”, a
“Cobra Grande”, e cada toada, com ritmo rural, longe da influência da melodia
carnavalesca, deixou a impressão de que
eles preservam os primórdios. Seria muito salutar que as autoridades iniciassem
um intercâmbio entre Parintins e Manaus, levando e trazendo os grupos
folclóricos para exibições nas duas cidades, para se estabelecer as suas
diferenças, que devem permanecer a vida inteira, por respeito ao folclore.
Manaus
deve a vinda do Garantido à cidade ao governador da época, Gilberto Mestrinho,
que nos deu tudo, da lancha à alimentação. Os rapazes passaram aqui quatro dos
cinco dias e foram de um comportamento irrepreensível. A colônia parintinense
cercou-os de atenção e homenagens, a começar pela família Menezes (Tude,
Aderson, Aurélio, Almir, Armando) e de tantas outras, como Cid Cabral, o
alfaiate dos homens elegantes, etc.
O
sucesso do Garantido em Manaus foi tão espetacular, que a sociedade acabou
levando-o a se apresentar na boate Acapulco, do saudoso Mário Cuia, que naquela
época era o ponto preferido da classe alta e Mário Cuia, o “rei da noite”.
O
Acapulco organizou um arraial ao lado da boate, onde o Garantido se exibiu de
graça para os moradores do bairro (Rua Recife), onde praticamente a cidade
terminava. Depois, a uma da madrugada, na pista da boate.
Lembro-me
que aconteceu um fato pitoresco no Acapulco. Mário Cuia, depois das exibições,
reuniu todos os brincantes parintinenses em torno da piscina e avisou: “Mandei
preparar para vocês um filé gostoso, recheado com batata, etc e tal. Também
será servido um Campari.”
Mário
pensou que estava agradando. Ledo engano. Os rapazes ficaram caldos, meio
tristes, um olhava para o outro. Aí o Mário me chamou e perguntou: “Será que
eles gostaram?”
“Vou
perguntar”, disse-lhe. Aproximei-me do grupo e não deu outra. Eles queriam
peixe e cachaça. O peixe não era problema, mas encontrar Cocal àquela hora da
madrugada... Mesmo assim, dois táxis saíram em disparada e voltaram com 30
garrafas de aguardente. Em meia hora, não havia nem uma para contar a história.
Apesar disso, os parintinenses mantiveram a linha e a elegância.
Mestre Manoel Pedro e
o garrote Teimosinho, que conquistou seu primeiro título
No dia 1º de julho, no Estádio General Osório, a Comissão
Organizadora anunciou o nome dos 49 campeões do VI Festival Folclórico do
Amazonas:
Bumbás: Tira Prosa, Corre Campo, Pai do Campo e Caprichoso,
de Manaus, e Garantido, de Parintins.
Garrotes: Teimosinho, Treme Terra, Pingo de Ouro e Malhado.
Quadrilhas adultas: Primo do Cangaceiro, Flor do Plano, Araruamas
na Roça, Geraldinos no Roçado, Caiçaras na Roça, Brotinhos na Roça, Quadrilha
dos Camponeses, Gregório no Canavial, Real Madrid na Roça e Cunhantans Puranga.
Quadrilhas mirins: Infantil Popular, Brotinhos do Amanhã,
Curumins da Colina, Filhos de Lampião, Filhos de Dona Xandoca na Roça e
Caboclinhos de Brasília.
Tribos: Andirás, Manaú, Iurupixunas, Guaranis e Amazonas.
Pássaros: Corrupião, Japiim e Garça.
Danças Regionais: Dança do Cacetinho, Dança do Tipiti, Dança
do Arara, Xote do Interior e Dança do Congo.
Outros grupos: Danças Gaúchas, Roda de Coco de Zambê, Polca
Brasileira e Cavalo Marinho.
Brigues: Independência.
Pastorinhas: Filhas de Jerusalém.
Rainha do Festival: Francisca Cleide (Tribo dos
Iurupixunas).
Rainha de Beleza: Violeta Menescal (Quadrilha Cunhantans
Poranga).
Rainha Mirim: Ana Maria Boaventura Gomes (Quadrilha
Americanos na Roça).
Melhor sanfoneiro: Elpídio Araújo (Quadrilha Brotinhos na
Roça).
Prêmio Extra: Musas do Ritmo.
O único impasse surgido deveu-se ao fato de que, pela
segunda vez seguida, a Comissão Julgadora resolveu estourar a previsão
orçamentária do jornalista Bianor Garcia.
O acerto com o governador Gilberto Mestrinho era de que
seriam premiados quatro bumbás (Cr$ 40 mil para cada um ou R$ 16 mil em valores
de hoje), mas a Comissão Julgadora achou por bem também incluir o bumbá
Garantido, de Parintins, por ele ser o primeiro grupo folclórico vindo do
interior a se apresentar em Manaus.
As 15 quadrilhas adultas receberiam CR$ 30 mil cada uma. Até
aí, tudo bem. Os quatro garrotes, 20 mil cada um. Até aí, tudo bem. E as seis
quadrilhas mirins, assim como os demais grupos não concorrentes, incluindo as
rainhas e o sanfoneiro, Cr$ 10 mil cada um.
Foi quando a jiripoca piou. A Comissão Organizadora achou
que Cr$ 10 mil (R$ 4 mil, em valores de hoje) era muito pouco para incentivar
os esforçados brincantes e transformou todos os prêmios de CR$ 10 mil em
prêmios de Cr$ 20 mil.
O valor total da premiação ficou em Cr$ 1.430.000,00 (R$ 572
mil). Magnânimo como sempre, o governador concordou, sem discutir. Os cheques
foram emitidos.
Ocorre que a magnanimidade tem razões que até a razão
desconhece. Dali a quatro meses ocorreria a eleição para governador do Amazonas
e o PTB não pretendia entregar a rapadura aos inimigos.
Na verdade, o governador Gilberto Mestrinho pretendia deixar
o caminho livre para Plínio Coelho, porque assim se cacifava para voltar ao
governo em 1966. E que melhor vitrine política do que ser o padrinho
incontestável da “maior e mais bonita festa típica do país?”
Gilberto não apenas pagou generosamente a nova conta que lhe
foi apresentada, como convenceu Bianor Garcia a fazer um repeteco do festival,
no fim de semana seguinte, somente com os 49 grupos campeões e alguns grupos
convidados pela própria Comissão Organizadora.
Todos os participantes receberiam troféus doados pelos
comerciantes e instituições financeiras locais, a pedido do governador. Foram
convocadas para fornecer os troféus, entre outras, as empresas Real-Varig,
Serraria Pereira, Vasp-Lóide, Massas Papaguara, Panair do Brasil e Mambra S.
A., além da Caixa Econômica Federal, Banco do Estado do Amazonas e Banco do
Brasil.
A ordem de apresentação da “Festa dos Campeões”, com cada
grupo se apresentando por 15 minutos,
ficou assim definida:
Dia 6 (sexta) – À noite. Quadrilha Cunhantans Puranga,
Quadrilha Gregório no Canavial, Coral Norte-americano, Orfeão Villa-Lobos (de
Rio Branco) e Bumbá Caprichoso.
Dia 7 (sábado) – À tarde. Quadrilha Curumins da Colina,
Quadrilha Caboclinhos de Brasília, Quadrilha Filhos de Lampião, Cavalo Marinho,
Roda de Coco de Zambê, Pastorinhas Filhas de Jerusalém e Brigue Independência.
À noite. Garrote Treme Terra, Danças Gaúchas, Quadrilha Geraldinos no Roçado,
Garrote Luz de Guerra, Pássaro Japiim, Quadrilha dos Camponeses, Tribo dos
Manaú, Tribo dos Iurupixunas, Garrote Malhado, Quadrilha Primo do Cangaceiro,
Dança do Cacetinho, Xote do Interior, Quadrilha Araruamas na Roça e Bumbá Corre
Campo.
Dia 8 (domingo) – À tarde. Quadrilha Infantil Popular,
Quadrilha Brotinhos de Amanhã, Quadrilha Filhos de Dona Xandoca na Roça,
Garrote Pingo de Ouro, Pássaro Corrupião, Polca Brasileira, Musas do Ritmo,
Pássaro Garça e Bumbá Pai do Campo. À noite. Garrote Teimosinho, Tribo dos
Guaranis, Quadrilha Flor do Plano, Quadrilha Real Madrid na Roça, Quadrilha
Caiçaras na Roça, Tribo das Amazonas, Quadrilha Brotinhos na Roça, Tribo dos
Andirás, Dança do Tipiti, Dança do Arara, Dança do Congo e Bumbá Tira Prosa.
Em matéria publicada no dia 4 de julho, o matutino O Jornal
informava que, por sugestão do jornalista Bianor Garcia, unanimemente aprovada
pelos dirigentes dos grupos vencedores, não haveria nesses três dias de
apresentação a escolha do “Campeão dos Campeões” de cada categoria, por motivos
diversos e perfeitamente justificáveis.
Se houvesse, seriam disputados os Cr$ 100 mil prometidos
pelo Fundo Nacional de Cultura, do Governo Federal, e confirmados pelo
embaixador Paschoal Carlos Magno, que aqui esteve na abertura do festival.
O jornalista sugeriu que esse dinheiro fosse distribuído aos
diversos conjuntos vice-campeões, que perderam por poucos pontos, sendo também
acolhida essa ideia.
O dinheiro acabou sendo rateado entre os bumbás Mina de Ouro
e Ás de Ouro, garrotes Touro Preto e Tira Teima, quadrilhas adultas Mocidade na
Roça, La Paloma, Arautianos na Roça, Folia na Roça, Capitão Varela, Caboclos do
Tapauá, Jorgeanos na Soçaite e Roceiros no Arraial, e quadrilhas mirins
Vasquinhos na Roça, Americanos na Roça, 40 Anões no Festival, Filhos do
Cangaceiro e Festinha na Roça, contemplados com Cr$ 5 mil cada um.
O garrote Luz de Guerra
perdeu o tricampeonato para o Treme Terra por apenas três décimos de diferença
A única exceção foi o garrote Luz de Guerra, que recebeu Cr$
15 mil, por ter conquistado o maior número de pontos entre todos os
vice-campeões.
Em outubro, o governador Gilberto Mestrinho articulou uma
coligação partidária incluindo PTB-PDC-PL-PST, elegeu seu sucessor ao governo
(Plinio Coelho), os dois senadores (Mourão Vieira e Artur Virgilio Filho) e
cinco deputados federais (Almino Afonso, Paulo Coelho, João Veiga, José Esteves
e Djalma Passos) das oito vagas em disputa.
Ele próprio se elegeu deputado federal pelo PST de Roraima,
sem jamais ter feito um único comício em Boa Vista, tal a sua popularidade na
região Norte.
E foi o Festival Folclórico do Amazonas, sem sombra de
dúvidas, que proporcionou a grande visibilidade do governador junto às camadas
mais populares do eleitorado.
Se ele voltasse a se candidatar ao governo do Amazonas, em
1966, seria eleito com um pé nas costas. Os verdadeiros defensores do autêntico folclore e
da cultura popular não dão ponto sem nó.
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