Dança popular nordestina, o coco é uma espécie de
canto-dança típico das regiões do agreste e sertão pernambucano, tendo se
originado nas antigas áreas de plantação de cana-de-açúcar, a partir das danças
de umbigadas dos batuques africanos.
Segundo Luís da Câmara Cascudo, provavelmente o coco surgiu
dos batuques do século XVI e, em seguida, os homens e as mulheres na condição
de escravos, que trabalhavam na atividade “coqueira”, os “quebradores de coco”,
deram início ao folguedo.
Enquanto trabalhavam, os escravos tiravam versos e rimas
sobre o seu cotidiano. Desse modo, ficou a ideia de que o coco como música é
algo historicamente construído depois da dança (a umbigada).
Entre os povos indígenas não se constatou movimentos com
umbigadas em suas danças. No entanto, em algumas batidas de pés, sapateados que
compõem as evoluções coreográficas do coco, como no tropel ou tropé, é possível
perceber as influências do toré indígena.
Uma das principais tradições dos índios do Nordeste
brasileiro, o toré – a princípio uma dança ritual – envolve uma dança circular,
em fila ou pares, acompanhada por cantos, ao som de maracás, zabumbas, gaitas e
apitos, de grande importância para os indígenas.
Cada grupo possui um toré próprio e singular, apresentando
variações de ritmos e toadas dependendo de cada povo.
O maracá – chocalho indígena geralmente feito com uma cabaça
seca, sem miolo, na qual se colocam pedras ou sementes – marca o tom das
pisadas e os índios dançam, em geral, ao ar livre e em círculos.
O ritual do toré é considerado o símbolo maior de
resistência e união entre os índios do Nordeste brasileiro.
No caso específico do coco, a música começa com o “coquista”
(ou “tirador de coco”) puxando os versos, que são respondidos em seguida pelo
coro. A forma é de estrofe-refrão, em compassos 2/4 ou 4/4. Os instrumentos
mais utilizados são os de percussão: ganzá, bumbos, zabumbas, caracaxás,
pandeiros e cuícas.
Nas áreas urbanas do litoral, em decorrência das influências
do maracatu de baque virado, a alfaia foi introduzida ao instrumental do coco.
Por vezes, as palmas ritmadas dos seus participantes acompanhadas dos versos
cantados do tirador de coco já são suficientes para formar uma roda festiva.
Há uma variedade de estilos cantados e dançados: o
agalopado, o catolé, o bingolé, o coco praieiro, o coco de zambê, o coco de
roda, este caracterizado pela formação da dança em círculo, o coco de umbigada,
caracterizado também pela dança de umbigada entre os pares, e o coco de tropel,
caracterizado pelo sapateado.
O coco de embolada carrega em sua identidade versos curtos,
com cadência acelerada, textos satíricos (quase sempre improvisados, em clima
de desafio) configurados com a preocupação de não perder a rima.
Diversos nomes
da música popular brasileira ficaram consagrados como intérpretes do gênero.
O paraibano Jackson do Pandeiro, um dos mais célebres
divulgadores do coco, iniciou sua vida artística acompanhando a mãe nos cocos,
tocando zabumba. Sua carreira fonográfica começou em 1953, no Recife, com o
coco “Sebastiana”, o primeiro de muitos que viria a gravar.
Alguns anos depois, nomes como Bezerra da Silva, Genival
Lacerda, Gal Costa, Gilberto Gil e Alceu Valença também se valeram do gênero.
Na década de 1990, no Recife, o movimento mangue beat,
através dos grupos Chico Science & Nação Zumbi e Cascabulho, inspirados em
Jackson do Padeiro, redescobriu o ritmo e deu visibilidade a artistas como
Selma do Coco e Zé Neguinho do Coco.
No sertão pernambucano, no município de Arcoverde, o grupo
Raízes de Arcoverde vem divulgando o coco do sertão.
Segundo Biu Neguinho, um dos integrantes do grupo, o ritmo
que eles tocam surgiu nas décadas de 1940-50, “quando os sertanejos iam
construir suas casas de taipa” (casas feitas com barro massapé e armação de
madeira).
Nessa ocasião, “o dono da casa chamava os amigos para cantar
e dançar a noite toda sobre o barro, com o objetivo de assentar o chão”. As
sambadas de coco do Raízes de Arcoverde são caracterizadas pelo sapateado com
os tamancos, espécie de calçado típico do dançarino, que se agrega também ao
seu instrumental.
Apesar de ser dançado em qualquer época do ano, o coco se
faz fortemente presente durante o ciclo junino, integrando a programação da
festa nas principais capitais das regiões Norte e Nordeste do país.
No Recife, vários grupos, como o Raízes de Arcoverde, Selma
do Coco, Grupo Bongar, entre outros, realizam apresentações em vários locais da
cidade e também no interior do Estado.
O Bongar é merecedor de atenção especial, pois divulga um
estilo próprio de tocar o gênero, que ficou conhecido como coco do Xambá.
Segundo Guitinho, vocalista e líder do grupo, a identidade musical do grupo se
dá através da tradição da religião afro-brasileira a qual os integrantes do
grupo pertencem.
Outra característica está no rufado da alfaia, que ao ser
tocada, nas duas peles, emite o som de um trovão.
Em 1903, o jornal “A República”, órgão oficial do governo do
Rio Grande do Norte, publicou uma nota repudiando o chamado “samba” que
ocorriam aos sábados, noite adentro, no município de Timbau do Sul, onde eram
promovidos “gritos infernais” por uma “súcia de vadios” e que “ameaçava a
segurança e a higiene pública do local”.
Esse samba mencionado na nota referia-se aos encontros
ocorridos na casa de um homem conhecido como Paulo Africano, onde se dançavam
nada mais que o coco de zambê, uma “brincadeira” que foi inserida no universo
dos engenhos de cana de açúcar e localidades pesqueiras, trazidos através de
africanos escravizados e criando um sincretismo com culturas brasileiras.
Essa brincadeira nascida dentro de um contexto político de
afirmação identitária quilombola, se trata uma dança de canto improvisado ou
previamente ensaiado, ritmados por instrumentos denominados “zambê” e “chamá”,
tambores de pau furado cobertos com couro de animais.
Para esta dança acontecer, forma-se uma roda onde os
tocadores ocupam uma posição central, e nela somente homens podem participar,
entoando cantos enquanto os brincantes se revezam na entrada da roda,
executando passos que lembram capoeira, afoxé e frevo, numa agilidade de
movimentos e performances frenéticas.
Um de cada vez, se dirige ao “chefe” fazendo reverência ao
tambor, que possui um papel fundamental, e logo em seguida dirigem a outro
dançarino com cumprimento de umbigada, convidando-o a entrar a roda.
Agindo de forma intensa dentro de narrativas relacionadas ao
passado e ao presente, o coco de zambê ocorre geralmente no mês de São João,
mas também serve como comemoração a grandes colheitas e pescas, sendo uma forma
de diversão após longas jornadas de trabalho.
Visto como um elemento indicativo de pertencimento e igualmente
ligado à ancestralidade negra local, a comunidade de Sibaúma (RN) resgatou essa
tradição popular, revitalizando e elegendo-a como patrimônio cultural da
região, definindo assim sua singularidade entendida como prática social onde se
associa a origem da própria identidade do grupo e seu processo de
reconhecimento étnico quilombola.
Mario de Andrade, em suas andanças pelo Brasil na década de
20 do século passado, registrou: “De longe se escuta um zambê noutra casa de
empregados. O som do bumbo zambê se escuta longe. Vamos lá. O pessoal dança
passos dificílimos. O também bate soturno em ritmo estupendo. Estou no meu
quarto e inda o zambê ruga no longe. Adormecerei e ele ficará rufando. Pleno
século XIX. Plena escravidão. Minha comoção é dramática e forte”.
Irmã bastarda do coco, a ciranda nordestina também é uma
dança típica das praias que começou a aparecer, simultaneamente, no litoral
norte de Pernambuco e em áreas do interior da Zona da Mata Norte do Estado.
Não se sabe ao certo a origem da ciranda. A maioria dos
pesquisadores acredita que a dança surgiu na Europa (em Portugal mais
precisamente).
Já outros historiadores acreditam que ela se originou a
partir dos pescadores brasileiros que observando o balançar das ondas criaram
um folguedo tentando imitar esses movimentos.
É muito comum no Brasil definir ciranda como uma brincadeira
de roda infantil, porém na região Nordeste e, principalmente, em Pernambuco ela
é conhecida como uma dança de roda de adultos. Os participantes podem ser de
várias faixas etárias, não havendo impedimentos para a participação de crianças
também.
Há várias interpretações para a origem da palavra ciranda,
mas segundo o Padre Jaime Diniz, um dos pioneiros a estudarem o assunto, vem do
vocábulo espanhol zaranda, que
significa instrumento de peneirar farinha e que seria uma evolução da palavra
árabe çarand.
A ciranda, assim como o coco em Pernambuco, era mais dançada
nas pontas-de-rua e nos terreiros de casas de trabalhadores rurais, partindo
depois para praças, avenidas, ruas, residências, clubes sociais, bares e
restaurantes.
Seus participantes eram basicamente trabalhadores rurais,
pescadores, operários de construção e biscateiros, entre outros.
A ciranda é uma dança comunitária que não tem preconceito
quanto ao sexo, cor, idade, condição social ou econômica dos participantes,
assim como não há limite para o número de pessoas que dela podem participar.
Começa com uma roda pequena que vai aumentando, a medida que
as pessoas chegam para dançar, abrindo o círculo e segurando nas mãos dos que
já estão dançando.
Tanto na hora de entrar como na hora de sair, a pessoa pode
fazê-lo sem o menor problema. Quando a roda atinge um tamanho que dificulta a
movimentação, forma-se outra menor no interior da roda maior.
Os participantes são denominados de cirandeiros e
cirandeiras, havendo também o mestre, o contramestre e os músicos, que ficam no
centro da roda.
Voltados para o centro da roda, os dançarinos dão-se as mãos
e balançam o corpo à medida que fazem o movimento de translação em sentido
anti-horário.
A coreografia é bastante simples: no compasso da música,
dá-se quatro passos para a direita, começando-se com o pé esquerdo, na batida
forte do bumbo, balançando os ombros de leve no sentido da direção da roda.
Há cirandeiros que acompanham esse movimento elevando e
baixando os braços de mãos dadas.
O bumbo ou zabumba, mineiro ou ganzá, maracá, caracaxá
(espécie de chocalho), a caixa ou tarol formam o instrumental mais comum de uma
ciranda tradicional, podendo também ser utilizados a cuíca, o pandeiro, a
sanfona ou algum instrumento de sopro.
O mestre cirandeiro é o integrante mais importante da
ciranda, cabendo a ele “tirar as cantigas” (cirandas), improvisar versos, tocar
o ganzá e presidir a brincadeira. Ele utiliza um apito pendurado no pescoço
para ajudá-lo nas suas funções.
O contramestre pode tocar tanto o bumbo quanto a caixa e
substitui o mestre quando necessário.
As músicas podem ser as já decoradas, improvisadas ou até
canções comerciais de domínio público transformadas em ritmo de ciranda.
Pode-se destacar três passos mais conhecidos dos
cirandeiros: a onda, o sacudidinho e o machucadinho.
Alguns dançarinos criam passos e movimentos de corpo, mas
sempre obedecendo a marcação que lhes impõe o bumbo.
Não há figurino próprio – apesar da predileção por saias
rodadas. Os participantes podem usar qualquer tipo de roupa e a ciranda é
dançada durante o ano inteiro.
Um comentário:
Olá! Chamo-me Renata Freitas e sou iconógrafa da Editora FTD S/A. Estou interessada no conteúdo do Blog. Por gentileza, entrar em contato comigo no e-mail: renata.freitas@ftd.com.br . Obrigada!
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