O colunista Gil e o
jornalista Umberto Calderaro
Maio de 1986. O franzino
colunista Gil Barbosa foi receber uma homenagem na Câmara Municipal de Manaus e
ficou perdidamente apaixonado pelo musculoso Ronaldo Redman, irmão mais velho
de Didi Redman, um dos diretores do GRES Vitória Régia. Ronaldo era um dos motoristas
da CMM.
Conversa vai, conversa vem, o colunista convenceu o garanhão
negro a visitá-lo em seu bonito apartamento, localizado na entrada do bairro de
São Francisco.
Renomado abatedor de lebres, potrancas e cabritos, sem
distinção, Ronaldo Redman não se fez de rogado e, na primeira oportunidade,
estava acionando o interfone do apartamento do colunista Gil.
O negão levou um susto quando a envidraçada porta de correr
do apartamento começou a abrir sozinha. Ele só tinha visto aquilo acontecer
antes em porta de elevadores. Na casa de alguém, era a primeira vez.
Deitado numa cama king size, trajando somente um
resplandecente roupão de seda indiana, Gil estava manuseando uma série de
controles remotos. Um para fechar a porta, outro para ligar o ar condicionado,
outro para diminuir a intensidade da luz ambiente, outro para fazer as cortinas
se fecharem sobre a janela, outro para ligar a televisão e assim por diante. O
negão ficou pasmo com tanta tecnologia.
– Aí nesta mesinha de centro tem uma garrafa de uísque
Passport e dentro do frigobar tem bastante cerveja gelada, meu amor, sirva-se
do que quiser! – avisou o colunista.
Ronaldo Redman tomou dois copos grandes cheios até a boca de
“uísque à moda cowboy” e tirou gosto com seis latinhas de cervejas
estupidamente geladas. A operação não durou cinco minutos.
– Se quiser, você pode colocar um filme no videocassete, meu
amor! – explicou o colunista.
O negão foi até a estante, escolheu “Rambo 1 – Programado
Para Matar”, colocou a fita no videocassete e começou a assistir.
Para quem não se lembra mais do enredo, John Rambo é um
desorientado veterano do Vietnam. Ele está indo de cidade em cidade para reencontrar
seus amigos de guerra e tentar reconstruir sua vida. Um xerife tenta fazer com
que ele deixe uma cidade, mas ele se recusa e é preso. Enquanto está na cadeia,
um deputado mostra prazer em torturá-lo.
Rambo foge da cadeia mostrando suas velhas habilidades de
guerra e se prepara para detonar seus algozes. Mas antes que John Rambo
iniciasse a carnificina propriamente dita, Ronaldo Redman já havia detonado
completamente a garrafa de Passport e 24 latinhas de cerveja.
Luiz Lobão e Ronaldo
Redman no Bar da Kátia
Sem dizer uma palavra, ele foi ao banheiro urinar e já
voltou completamente pelado, de arma em punho. O colunista soltou um
involuntário “oh!” de espanto, medo ou nervosismo. Ele nunca tinha visto uma
ferramenta daquele tamanho. Nem daquela grossura.
Quase em estado de choque, Gil indicou timidamente o pote de
vaselina no criado-mudo da cama. Ronaldo Redman começou a besuntar sua espada
sarracena sem desgrudar o olho da televisão, onde Rambo estava matando o
primeiro dos 243 mortos do filme incluindo o xerife Will Teasle.
Depois, se encaixou em cima do colunista e mandou bala, sem
tirar os olhos da televisão. Os gritos do colunista sendo empalado pelo negão
eram abafados pelos gritos dos sujeitos sendo mortos pelo veterano de guerra do
Vietnã.
Meia hora depois, Ronaldo Redman deu os trâmites por findos.
Gil estava desfalecido.
O negão abriu uma nova garrafa de uísque Passport e começou
a beber diretamente do gargalo. Uns 15 minutos depois, Gil recobrou os sentidos
e se dirigiu ao banheiro, lentamente, com as duas mãos apertando a cintura e se
contorcendo como se quisesse desentortar a espinha.
Pra completar, o colunista tinha um defeito físico de
nascença: jogava uma das pernas, o que lhe deixava com um andar mais
desmantelado do que galope de vaca parida. Vendo aquela presepada, Ronaldo
Redman, que não sabia que ele tinha aquele defeito físico, entrou em pânico:
– Puta que pariu, aleijei o homem! – pensou com seus botões.
– Agora é bem capaz de ele não querer me dar um tostão pelo serviço...
Uns dez minutos depois, o colunista Gil Barbosa, ainda
andando lentamente, ainda caminhando todo desmantelado, colocou nas mãos do
negão uma pacoteira de dinheiro e desabou na cama.
Era quase cinco vezes o valor do salário que Ronaldo Redman
recebia mensalmente como motorista da CMM.
O garanhão vestiu-se apressadamente, colocou a grana no
bolso e se mandou, antes que o colunista começasse a sofrer uma hemorragia
interna na sua frente.
Uma semana depois, Gil encontrou casualmente a socialite
Lídia Redman, irmã de Ronaldo, durante uma boca livre no Parque Aquático do Rio
Negro.
– Maninha, aquele teu irmão Ronaldo acabou comigo... –
queixou-se.
– Foi? Por que? – quis saber a socialite.
– Ah, eu tive um babado forte com ele e no dia seguinte
visitei meu proctologista. Ele me examinou e falou: “É, Gil, o negócio foi
feio. No mínimo, eu vou precisar dar uns dezoito pontos internos...”
– Jura? – espantou-se Lídia.
– Juro por Deus, maninha, juro por Deus! Mas aí, eu falei:
“Dê apenas dez pontos, doutor, porque, de repente, eu posso encontrar aquele
negão de novo...” – arrematou Gil, se acabando de rir. Ele tinha muito senso de
humor.
O lovely colunista Gil Barbosa morreu em março de 1996, de
causas desconhecidas. O garanhão Ronaldo Redman jura que os dois nunca mais se
encontraram. Há controvérsias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário