Por Luiz Carlos Miele
Numa tarde ensolarada, Billy Blanco, a bordo de um daqueles
lotações do Rio de Janeiro que ofereciam perigo tanto para quem estava na rua
quanto para quem estava dentro deles, teve a percepção de uma melodia, do
início da letra e da idéia geral da obra. Para não esquecer, principalmente da
melodia, desceu do lotação, entrou no primeiro botequim que encontrou e ligou
para Antônio Carlos Jobim:
– Ô, Tom, tive uma idéia. Escreve a melodia que eu vou
cantar ao telefone que é para eu não esquecer.
E cantarolou:
– Rio de Janeiro que eu sempre hei de amar. Rio de Janeiro,
a montanha, o sol e o mar.
Tom rabiscou a letra, colocou as notas na partitura e
intimou Billy:
– Desliga e vem correndo aqui pra casa.
Nasci nesse momento a mais bonita homenagem que a cidade já
recebeu até hoje – A sinfonia do Rio de
Janeiro.
Inexplicavelmente a sinfonia jamais foi encenada como um
grande espetáculo com grande orquestra, balé etc. Mas é um sonho que eu, como
produtor, ainda não abandonei.
“Um dia rasgaram a montanha e o túnel do Leme se abriu, o
mar recuou gentilmente...”
Essa e outras passagens da letra de Billy me emocionam a
cada vez que escuto essa obra-prima. Na sequência da repercussão da Sinfonia do Rio, Billy compôs (letra e
música desta vez) A Sinfonia de São Paulo,
a Paulistania, que se torno o hino da
cidade e o sufixo de encerramento das transmissões diárias da TV Record, muito
embora eu não tenha certeza de que isso tenha rendido algum dinheiro ao Billy.
Talento e dinheiro nem sempre caminham juntos. No meu caso,
o dinheiro me odeia, e acho que com o Billy não foi muito diferente a vida
inteira. A banca do distinto, Pistom na gafieira, Viva meu samba, Mocinho bonito,
Estatutos da gafieira, Samba triste, Praça Mauá, Rio do meu amor
(que virou quatrocentão), Se a gente
grande soubesse etc, etc, etc.
A qualidade dessa obra já deveria render uma boa tranquilidade
tipo rede na varanda, calção largo, uísque e água de coco. Não precisa ser nada
como o saldo bancário de pagodeiros e sertanejos. Também não vamos exagerar.
Tenho certeza de que o Billy não precisa dos aviões particulares e das grandes
fazendas. Acho que a felicidade basta.
Enquanto isso, continuamos a fazer o que sempre fizemos:
estamos “correndo atrás”. Eu digo “estamos” porque somos colegas como
contratados da Universidade Estácio de Sá, participamos da produção cultural da
casa. E eu tenho a chance de fazer vários shows ao lado do seu talento e humor.
(É claro que Tereza da praia, dele e
do Tom, é uma das músicas mais pedidas pelo público, e a gente se diverte muito
com uma nova versão que ele fez uma Tereza das praias de hoje.)
Billy Blanco, arquiteto de primeira profissão, engenheiro e
artesão da música, nós gostamos de você, até como artista. Millôr Fernandes
disse de Billy Blanco: “Conhecido e prestigiado, acho porém que não é nem tão
conhecido, nem tão prestigiado quanto merece”.
E quem sou eu para contradizer Millôr?
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