Pesquisar este blog

segunda-feira, junho 26, 2017

Poeira de estrelas 6: Como uma estrela


Por Luiz Carlos Miele

Fernando Faro foi um dos pioneiros da TV no Brasil. Para os seus programas, gravou depoimentos dos nomes mais significativos da música popular brasileira.

Não tinha compromisso com o Ibope e, assim, os seus convidados só faziam o programa depois de uma rigorosa seleção de qualidade.

Seu arquivo é uma verdadeira antologia do que de melhor se cantou, compôs ou tocou no país.

Dirigiu também vários shows, com o mesmo rigoroso critério. E dirigiu, principalmente, o último show de Elis.

Seu texto para esse show faz pensar que ele já antecipava o trágico destino que esperava a maior cantora brasileira de todos os tempos – para mim, Elis, como o Rei Momo, é primeira e única.

O texto de Faro é absolutamente premonitório:

Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.

Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante.

E todas as figuras são assim: desenhos de luz, agrupamentos de pontos, de partículas, um quadro de impulsos, um processamento de sinais.

E assim, dizem, recontam a vida.

Agora retiram de mim a cobertura de carne, escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos, e aí estou eu, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo.

Um rascunho. Uma forma nebulosa, feita de luz e sombras. Como uma estrela.
Agora eu sou uma estrela.

Nenhum comentário: