Por Luiz Carlos Miele
Fernando Faro foi um dos pioneiros da TV no Brasil. Para os
seus programas, gravou depoimentos dos nomes mais significativos da música
popular brasileira.
Não tinha compromisso com o Ibope e, assim, os seus
convidados só faziam o programa depois de uma rigorosa seleção de qualidade.
Seu arquivo é uma verdadeira antologia do que de melhor se
cantou, compôs ou tocou no país.
Dirigiu também vários shows, com o mesmo rigoroso critério.
E dirigiu, principalmente, o último show de Elis.
Seu texto para esse show faz pensar que ele já antecipava o
trágico destino que esperava a maior cantora brasileira de todos os tempos – para
mim, Elis, como o Rei Momo, é primeira e única.
O texto de Faro é absolutamente premonitório:
Agora o
braço não é mais o braço erguido num grito de gol.
Agora
o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante.
E
todas as figuras são assim: desenhos de luz, agrupamentos de pontos, de
partículas, um quadro de impulsos, um processamento de sinais.
E
assim, dizem, recontam a vida.
Agora
retiram de mim a cobertura de carne, escorrem todo o sangue, afinam os ossos em
fios luminosos, e aí estou eu, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida
comigo.
Um
rascunho. Uma forma nebulosa, feita de luz e sombras. Como uma estrela.
Agora
eu sou uma estrela.
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