A musa Petronília, a
rainha Érika Tatiana e o patrono Armando Soares
Fevereiro de 1997. O promotor público José Bernardo, irmão
dos homeboys Lélio (ex-Secretário de Justiça), Sérgio (juiz federal) e Flávio
Lauria (escritor e advogado), está no Bar do Armando, bebendo animadamente com
o juiz trabalhista Jorge Álvaro (hoje desembargador) e conversando lorotas. Os
dois estão do lado de dentro do balcão.
O bar está completamente lotado, aguardando a chegada do
grupo Demônios da Tasmânia para iniciar mais um pré-aquecimento da famigerada Banda
Independente da Confraria do Armando (BICA).
Culto, educado e incapaz de fazer mal a uma mosca, José
Bernardo está fazendo hora no bar à espera do telefonema de uma namorada para
se encontrarem dali a pouco.
Alguns minutos depois, a sexagenária Petronília, eterna musa
da banda, se aproxima dos dois e reclama que alguns rapazes estão zoando com
ela, lhe atirando pinchas de cerveja e sobras de isca de leitão, entre outras
coisas.
José Bernardo olha para a mesa dos rapazes e reconhece entre
eles os irmãos Carlinhos, Luiz e Marcos, filhos do comerciante Antônio
Português, proprietário do restaurante Calçada Alta, localizado nas
proximidades da Praça São Sebastião.
Fazendo alguns sinais com as mãos, José Bernardo pede
amistosamente para os rapazes pararem de sacanear a Petronília. Ainda bastante
injuriada, a anciã implora delicadamente que Jorge Álvaro lhe pague uma cerveja
e então fica bebendo na companhia dos dois, do lado de fora do balcão.
Impaciente com a demora do telefonema da namorada, José
Bernardo resolve ligar para a menina do telefone particular do Armando, que
também fica do lado de dentro do balcão. Ele não consegue concluir a tarefa
porque o telefone convencional estava sem linha.
Os rapazes da mesa observam o promotor desligar o telefone e
sair muito puto em direção ao orelhão existente quase na entrada do bar.
Completamente bêbados e paranoicos, eles deduzem que José Bernardo está ligando
pra polícia e resolvem agir.
Assim que colocou a primeira ficha no orelhão, o promotor
público recebeu um tapa no pé do ouvido, que lhe arremessou os óculos de grau a
um metro de distância. Em seguida, recebeu uma rasteira que lhe levantou um
metro do solo.
Ao perceber o amigo sendo agredido, Jorge Álvaro correu em
sua direção. Levou um contravapor na nuca que quase o levou a nocaute.
Caído no chão, José Bernardo limitava-se a proteger o rosto
enquanto recebia uma saraivada de pontapés, socos e tentativas de
estrangulamento.
O comerciante Armando Soares e mais meia dúzia de biqueiros
tradicionais se envolveu na confusão e, depois dez minutos de pancadaria, os
biqueiros conseguiram expulsar os agressores de dentro do bar.
Com escoriações generalizadas pelo corpo, José Bernardo
entrou no seu carro e foi ao Instituto de Medicina Legal (IML) fazer exame de
corpo de delito. De posse do laudo, foi ao 1º DP e fez um Boletim de Ocorrência
(BO).
Mais judiado do que ovo de ciclista durante o “Tour de
France”, José Bernardo voltou para o Bar do Armando e falou grosso, pra todo
mundo ouvir:
– Esses filhos da puta vão se foder comigo! Já falei com o
secretário Klinger Costa e ele vai pegar de um por um...
Um ano depois da confusão e totalmente esquecido da promessa
de vingança, José Bernardo estava flanando despreocupadamente pela Rua Costa
Azevedo quando foi abordado pelo comerciante Antônio Português, em frente ao
restaurante Calçada Alta. Nervosíssimo, o lusitano abriu o jogo:
– Doutor Bernardo, pelo amor de sua querida mãe, revogue a
pena de morte dos meus filhos! Eu já tive que enviar dois para Portugal e um
para o Rio de Janeiro, para não serem mortos pelo Doutor Klinger Costa. Por
favor, Doutor Bernardo, revogue a pena de morte dos meus filhos! É só isso que
lhe peço!
Foi um parto o legalista José Bernardo explicar que não
tinha nada a ver com os “presuntos” desovados semanalmente pela PPK (“Polícia
Paralela do Klinger”).
Naquele ano, a PPK matou mais de 80 marginais – entre eles
alguns amigos dos filhos do português –, que eram ligados ao tráfico de drogas.
O comerciante estava cismado de que seus meninos estavam na
lista negra por solicitação do promotor público. Foi um alívio saber que tudo
não passara de um mal entendido.
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