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terça-feira, junho 27, 2017

Os dez anos do Pornhub


Por José Orenstein

O Pornhub é o 38º site mais acessado do mundo, de acordo com a lista da Amazon atualizada a cada três meses. A página de pornografia só fica atrás de páginas de busca, como o Google, de redes sociais ou sites de compra.

Em maio de 2017, o portal, que funciona como um YouTube de pornografia — abrigando vídeos enviados pelos usuários —, completou dez anos de existência. E divulgou dados referentes à última década sobre como e o que as pessoas buscam quando entram no site.

Os números saíram em um especial comemorativo do próprio Pornhub e também, em mais detalhe, no site The Cut, ligado à revista americana “New York”.

De tempos em tempos, o Pornhub faz resumos sobre o perfil de utilização do site. Nestes dez anos, a página fez um apanhado maior que é revelador sobre o consumo de pornô gratuito na internet.

Em um longo texto em que comenta o papel educativo do site, a revista “New York” defende que o Pornhub é o Kinsey Report de nosso tempo — uma referência aos relatórios sobre sexualidade feitos pelo biólogo Alfred Kinsey no fim da década de 1940 e que chamaram a atenção por falar de temas que até então eram tabu, como o orgasmo feminino.

75 milhões de visitantes diários. O Pornhub atingiu a marca em 2017
10 minutos é o tempo aproximado que os usuários passam no Pornhub
10 milhões de vídeos estão disponíveis na plataforma

Ao longo de dez anos, o Pornhub tornou-se assim a maior plataforma de conteúdo pornográfico do mundo na internet. Seria preciso 173 anos para assistir, sem parar, os 10 milhões de vídeos que estão na página — e que aumentam a cada dia. “O que significa que qualquer pessoa com acesso à internet pode ver mais conteúdo pornô do que ela jamais terá tempo de consumir em vida”, descreve a “New York”.



Pornô móvel

Em primeiro lugar, os dez anos de Pornhub evidenciam uma mudança no uso da internet. Em 2008, só 1% dos usuários acessava o site pelo celular ou outro dispostivo móvel. Em 2017, esse número subiu para 75%. Ou seja, apenas um quarto das pessoas que acessa o conteúdo pornô o faz no computador.

Perfil de quem acessa

Com a ajuda do Google Analytics, o Pornhub consegue identificar com razoável precisão quem são seus usuários. A Índia, por exemplo, é o país onde mais jovens acessam o Pornhub: 45% do público tem menos de 25. Já a Alemanha é o país que tem os idosos mais ativos: 8% dos usuários têm mais de 65 anos.

Tendências anuais

As buscas mais comuns no Pornhub refletem o interesse e o comportamento dos usuários com relação ao sexo. A partir dos termos mais procurados e vistos a cada ano, o site consegue observar a evolução dos modismos e, também, a popularização de práticas muitas vezes abusivas ou prejudiciais à saúde dos atores, como sexo sem proteção.

2007: a vez das Milfs Na estreia do Pornhub, Milf, sigla em inglês para “Mothers I’d like to fuck”, ou “Mães com as quais gostaria de transar”, foi o termo mais buscado do site. Em dez anos, é o segundo mais popular, atrás apenas de “Amateur”, ou amador.

2008: o prazer das mulheres Neste ano, a busca pelo termo “squirt” e suas variantes chamou a atenção. Ele se refere à ejaculação feminina.

2009: autopublicação amadora Dois anos depois de ser lançado, o Pornhub criou a seção “community”, que tornou mais fácil aos usuários enviar vídeos caseiros. Isso fez a plataforma crescer e mudou a estética das produções, não mais restrita a estúdios.

2010: produção de sofá Um estúdio alcançou o topo do ranking de audiência com vídeos em que simula testes de elenco. As produções ficcionais reproduziam os “testes do sofá”, prática abusiva em que o empregador exige favores sexuais.

2011: bunda no topo O termo “ass”, “bunda” em português, foi o mais procurado neste ano. Os editores do site não sabem explicar o motivo.

2012: sexo animado Neste ano, o termo que teve o maior surto de buscas em todo o site foi “cartoon”, animação em inglês. É que, em 2012, ficaram populares versões eróticas de desenhos animados, como “Os Simpsons”, feitas sem participação das empresas que produzem os desenhos.

2013: exposição sem proteção O termo “crampie” foi o segundo mais buscado neste ano. O fato chamou a atenção dos editores do site. A palavra refere-se à prática de exibir a ejaculação masculina ao fim do vídeo, como prova de que não foi usada camisinha no sexo. A transmissão de DSTs é um dos principais problemas entre atores pornôs, como alertou uma campanha promovida em 2017 por uma organização feminista.

2014: o caso Belle Knox Neste ano, ficou famosa a história de uma estudante da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, que fazia pornô para pagar os estudos. Ela revelou ser Belle Knox, que acabou usando a publicidade do caso para denunciar os abusos da indústria.

2015: busca por madrastas Pela primeira vez aparece no topo das buscas o termo “stepmom”, que é “madastra” em inglês. O termo seria o mais procurado, de novo, em 2016.

2016: lésbicas em foco Chamou atenção neste o crescimento das buscas pelo termo “lesbians scissoring”, referência a uma posição sexual usada no sexo entre mulheres.

2017: desenho japonês O “hentai” vem se consolidando no Pornhub como um dos termos mais procurados. Ele se refere a desenhos animados eróticos japoneses, com a estética do mangá.



Como eventos afetam uso do site

O Pornhub costuma divulgar dados sobre picos ou baixas de uso do site durante alguns eventos importantes. Em 2014, por exemplo, durante a semifinal da Copa do Mundo entre Brasil e Alemanha, o acesso ao site caiu 60% entre alemães e 40% entre brasileiros. Depois do 7 a 1, o nível de acessos por aqui voltou ao normal, e, na Alemanha, foi 60% maior do que a média.

Ao longo dos dez anos de Pornhub, observou-se também uma tendência na época do Natal: na noite de 24 de dezembro, o acesso ao site cai 45%, sobe 34% acima da média na manhã do dia 25 e cai novamente, 38% abaixo da média anual, à tarde.

Nas eleições de 2016 nos EUA, aumentou em 10% o acesso ao Pornhub logo após a constatação de que Donald Trump havia vencido a disputa, às 2h da manhã. Em Estados predominantemente republicanos, esse aumentou foi maior: de 20%. Outros eventos políticos também têm impacto na busca pornô: depois da morte de Fidel Castro, em 25 de novembro de 2016, subiu 104% a procura por “Cuba” no Pornhub.

O Brasil no Pornhub

Um dos dados revelados pelo Pornhub sobre seus dez anos de funcionamento refere-se ao Brasil: o país, junto com as Filipinas, é o que tem a maior taxa de acesso por mulheres: 35%. Nos EUA, por exemplo, mulheres representam 25% do público do site. O termo mais procurado pelas brasileiras, segundo o Pornhub, é “shemale”, ou “travesti” em português.

Em 2015, o Pornhub havia divulgado dados específicos sobre o Brasil que mostravam que o país ocupava a oitava posição no ranking dos que mais usavam o site no mundo. O Pornhub era mais acessado pelos brasileiros às segundas-feiras — e menos aos sábados. Também há um pico de acessos em janeiro e, em junho, é quando a plataforma pornô é menos usada.



Como a plataforma lida com o problema do ‘revenge porn’

Quando o Pornhub teve um aumento no número de vídeos amadores enviados, em 2009, abriu espaço para o aumento de envios de vídeos não consensuais. A prática é chamada de “revenge porn”, ou “pornô de vingança”, em tradução literal. A exposição sexual pública de parceiros sem consentimento é uma prática criminosa. Como o Pornhub não modera o conteúdo dos vídeos que os usuários enviam, ele acabou recebendo uma série de vídeos de “revenge porn”.

O problema só começou a ser tratado a partir de 2016 pelo site, que agilizou a denúncia de conteúdo inadequado por parte dos próprios usuários. Questionado pelo Nexo, o site enviou comunicado por meio de sua assessoria, em que cita o presidente da empresa, Corey Price.

Segundo ele, esse tipo de material, que viola sua política de conteúdo, “não será nunca, jamais, permitido em nossa plataforma, de forma alguma”. “Para garantir a segurança de nossos fãs, neste ano passado [2016] tomamos uma atitude contra o ‘revenge porn’, que acreditamos ser uma forma de abuso sexual, e introduzimos um formulário de fácil remoção de conteúdo não consensual”.

No entanto, pesquisas com os termos “revenge porn”, ou, em português, por termos como “caiu na net”, ainda retornam milhares de vídeos amadores.

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