Por Neusa Barbosa
Um dos documentaristas mais
respeitados do país e dos que mais se dedicam à política – caso de “Os anos JK”
(1980) e “Jango” (1984), dois sucessos inclusive de bilheteria –, Sílvio
Tendler lançou-se, durante 19 anos, num ambicioso balanço dos sonhos e
decepções de sua geração – aquela que nasceu logo depois da Segunda Guerra
Mundial.
O resultado está em “Utopia e
barbárie”, documentário lançado no dia 2 de novembro de 2009, que já foi
exibido com sucesso em mais de 20 países e está disponível no YouTube.
O filme fala da geração que viveu
as revoluções de esquerda e da contracultura, as guerras de independência na
África e na Ásia, a guerra do Vietnã, as ditaduras latino-americanas, a queda
do muro de Berlim e a disseminação da globalização e do neoliberalismo,
funcionando como um “pensamento único”.
“Utopia” e “barbárie” são, para o
diretor, dois movimentos complementares, sucedendo-se um ao outro pela história
– assim como ao sonho igualitário da Revolução Russa de 1917 seguiu-se o
pesadelo do genocídio estalinista, ao projeto do Brasil Novo de Juscelino
Kubitscheck e João Goulart, a ditadura militar de 1964.
O filme de Tendler é,
assumidamente de esquerda, embora tente ouvir posições contrárias. Abre espaço
para que ex-integrantes da luta armada, como Franklin Martins (ex-porta-voz do
governo Lula) e Dilma Roussef (ex-ministra da Casa Civil e ex-presidente pelo
PT), façam a autocrítica e a justificação de seu rumo extremo no passado.
Ao mesmo tempo, ouve o poeta
Ferreira Gullar, um dos mais notórios críticos da gestão petista e, nos anos
70, opositor da opção pela resistência armada ao regime militar.
Viajando nestes anos por 15
países, Tendler acumula entrevistas históricas – como a do lendário general
Giap, 94 anos, o estrategista vietnamita que derrotou sucessivamente os
colonizadores franceses, em 1954, e os invasores norte-americanos, nos anos 70.
O escritor uruguaio Eduardo
Galeano, autor de uma das bíblias para o entendimento do continente, “As veias
abertas da América Latina”, além do poeta Amir Haddad, do dramaturgo Augusto
Boal, e os cineastas Denys Arcand, Gillo Pontecorvo e Amos Gitai, vêm somar
suas posições.
Todos reveem os erros e acertos
desta geração que tentou mudar o mundo pelas ideias e pelas armas, e hoje
repensa não só os motivos de seus fracassos como tenta entender o contexto
atual.
Juntando biografia pessoal com
História, Tendler revisita suas raízes judaicas, mesclando a sua análise das
utopias o sonho igualitário dos kibbutz de Israel.
Esta digressão para o Oriente
Médio, no entanto, ajusta-se mal aos demais assuntos tratados, talvez porque
não se tenha feito uma amarração mais consistente.
Repleto de assuntos e personagens,
“Utopia e barbárie” é um instrumento eficaz para olhar o presente sem tirar os
olhos do passado.
Outro mérito está em mostrar
materiais de arquivo eloquentes por si – caso do áudio da gravação da
tristemente célebre reunião que aprovou o AI-5, em 1968.
Quem quiser conferir, basta clicar
no link abaixo:
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