James Holloway
(traduzido por Ronaldo Moretti)
Desde a invenção do cinema, os fãs de filmes têm se
divertido com a capacidade da sétima arte de trazer de volta à vida tempos
remotos de nossa História. Para muitas pessoas, mencionar um período histórico
traz cenas de filme à mente, desde os filmes de faroeste de John Wayne até
Russell Crowe interpretando um gladiador romano ou Kiera Knightley como uma
dama à moda antiga. Infelizmente, a versão de Hollywood da História e dos fatos
muitas vezes pode ser um pouco diferente. Aqui estão alguns dos mais comuns
mitos históricos espalhados por filmes.
Vikings com capacetes
de chifres
Caçadores, mercadores e exploradores que navegaram ao redor
das costas da Europa e do Atlântico para a América, os Vikings são grandes
heróis e vilões de filmes de aventura. Infelizmente, os capacetes com chifres,
retratados em muitos filmes - incluindo clássicos de Hollywood e blockbusters
recentes - são uma invenção. O único capacete Viking conhecido por arqueólogos,
o capacete Gjermundbu, tem uma coroa redonda simples, enquanto a arte Viking
retrata outros capacetes com forma cônica.
Flechas flamejantes
As cidades medievais eram feitas principalmente de materiais
combustíveis como madeira e palha. Como resultado, o fogo representava um
grande perigo e muitos exércitos medievais usavam flechas flamejantes ou outros
projéteis para tentar queimar as cidades inimigas. Os filmes, no entanto,
parecem sugerir que flechas flamejantes eram armas comuns nas batalhas, bem
como os cercos. Isso pode ser porque as setas iluminadas parecem mais
impressionantes na tela. Na realidade, as pontas de ferro afiadas das setas
eram mortais o suficiente para que os arqueiros não precisassem desperdiçar seu
tempo colocando fogo nelas.
O gatilho do oeste
selvagem
O Western prospera em contos de violência. Um observador do
Oeste poderia ser perdoado por pensar que os estados de Texas e Arizona do
século XIX eram lugares onde eram realizadas frequentemente disputas rápidas
com pistolas. No entanto, mesmo as cidades de fronteira mais duronas tinham
relativamente poucos tiroteios. Incidentes como o tiroteio no OK Corral, onde
três homens foram mortos, são famosos precisamente porque eram raros. Sendo
justo com Hollywood, este é um verdadeiro mito do século XIX. Escritores contemporâneos
exageraram as contagens de corpos de pistoleiros como Billy the Kid e Doc
Holliday para tornar seus livros mais emocionantes.
Napoleão era baixinho
A estatura de Napoleão é lendária: a expressão “Complexo de
Napoleão” entrou para a fala cotidiana para descrever um homem pequeno com um
grande ego. Nos filmes, Napoleão é geralmente interpretado por um ator de
estatura baixa, até mesmo, em alguns casos, um anão. No entanto, não há nenhuma
evidência real para sugerir que Napoleão era anormalmente baixo. Fontes
contemporâneas colocam sua altura em 1,52 m, tornando-o perfeitamente na média
para um homem do início do século XIX.
O Titanic era
inafundável
Muitos filmes se basearam na história do Titanic, incluindo
um dos filmes mais populares de todos os tempos, a versão de James Cameron, que
em 1997 bateu inúmeros recordes. A maioria desses filmes usa a ironia do navio
“inafundável” ser afundado em sua viagem inaugural. Há apenas um problema: a
White Star Line não afirmou que o navio fosse inafundável. Como acontece com
muitos mitos históricos, esse resulta de roteiristas que precisam criar uma
narrativa caótica e insatisfatória de um evento histórico.
300 espartanos que
lutaram em Termópilas
Filmes como 300 e Os 300 de Esparta contam a história de 300
hoplitas espartanos que, embora predominantemente em desvantagem, lutaram
contra o exército persa na batalha das Termópilas. Essa é uma história
empolgante e interessante, mas com um pequeno problema: essa cifra está um
pouco fora de contexto. Pelo menos 5 mil tropas de uma coalizão de
cidades-estado gregas ocuparam inicialmente o passe. Mesmo depois de parte do
exército se retirar, o número de defensores era provavelmente mais perto de 3
mil do que de 300. Como aconteceu com o Velho Oeste, isso é um mito
contemporâneo: os escritores gregos usaram a história do confronto heróico para
elevar a moral e transformar uma vitória persa em uma derrota simbólica.
William Wallace, o
lutador da liberdade
O filme de Mel Gibson de 1995, Coração Valente, é um filme
de ação emocionante, mas como uma biografia do líder escocês William Wallace
deixa bastante a desejar. Pouco se sabe sobre a vida de Wallace, mas a maioria
das fontes concorda que ele era um rico fazendeiro, ao invés de um plebeu. Ele
certamente não teria usado um kilt, uma invenção que apareceu muito mais tarde.
O filme retrata Wallace como um apaixonado defensor da independência escocesa,
mas negligencia o fundo complicado de rivalidades escocesas internas que levou
à guerra com a Inglaterra. A sugestão de que Wallace era o verdadeiro pai de
Edward III é particularmente surpreendente, considerando que Edward III nasceu
vários anos após a execução de Wallace.
Os americanos se
metem em todos os lugares
Uma das peças mais comuns de intromissão em história de
filmes é a inserção frequente de um ponto de vista americano. Isso geralmente
acontece porque os estúdios de Hollywood acreditam que o público americano pode
não curtir filmes sobre protagonistas que não sejam americanos. O exemplo mais
notório é U-571, um filme em que uma equipe americana é mostrada como
responsável pela captura de Enigma, uma máquina de código alemão. A ironia
desse tipo de representação é que reais contribuições feitas pelos
estadunidenses são muitas vezes descartadas como fantasia hollywoodiana.
Heróis acreditam na
democracia
Assim como os estúdios podem se preocupar com públicos que
não simpatizam com estrangeiros, alguns roteiristas parecem acreditar que os
cinéfilos não gostarão de personagens que não compartilhem de seus valores
modernos. Como resultado, crenças históricas são muitas vezes ligadas a
personagens históricos. Considere o filme O Patriota, de Mel Gibson, em que o
herói, um proprietário de terras do sul dos Estados Unidos, não possui
escravos, ou o filme Gladiador, em que o imperador romano Marcus Aurelius é retratado
como sendo a favor da democracia. Na realidade, muitos líderes na guerra de
independência americana possuíam escravos e Marcus Aurelius foi firmemente a
favor da autocracia.
Tudo acontece por uma
razão
Se os mitos históricos vendidos pela indústria
cinematográfica têm uma coisa em comum é que eles são todos parte de um esforço
concentrado para forçar a história a caber em um roteiro de filme. Más decisões
voltam para assombrar os heróis, escolhas individuais são mais importantes do
que as tendências sociais e as batalhas são sempre sobre liberdade versus
tirania em vez de, digamos, França e Inglaterra. É fácil ver por que cineastas
decidiram contar histórias dessa forma. O perigo só vem quando começamos a
pensar sobre a história real dessa maneira.
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