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quarta-feira, agosto 27, 2014

Manara e a polêmica de bunda murcha


Poderoso Porco  (*)

Evidentemente, todo mundo viu a polêmica gerada pela capa variante produzida por ninguém menos que Milo Manara para o número de estréia da HQ da Mulher-Aranha. Evidentemente porque até o Búguima, que não lê o MdM, tá sabendo. Então… o que mais ainda precisa ser dito?

Muita coisa, mas vamos com calma.

Primeiro, qual é o problema da maldita capa? “É a sexualização? Mas não é o Manara? Reclamar de sexualização no trabalho dele é como reclamar que os filmes do Rocco Siffredi objetifica a mulher!”, vocês vão dizer.

E estarão certos em alguns pontos.

Tipo, reclamar que o Milo Manara, autor da série O Clic, que ilustrou o Kama Sutra e tantas outras coisas, que basicamente é um desenhista pornô, fez uma capa erotizada é no mínimo ignorância. É como reclamar que as coisas explodem nos filmes do Michael Bay.

Logo, pra mim o problema não é a hipersexualização da personagem. O problema é que trata-se de uma capa do Manara. Sim, ele é o rei da HQ pornô – é isso que ele faz, é por isso que ele é famoso. O problema dessa capa é que, comparada à toda história do Manara, comparada ao “portfólio” dele, é uma capa ruim.

Porra, peguem as capas d’O Clic, peguem as capas de Bórgia, Gullivera, peguem mesmo a (pobre, tadinha) capa que ele fez com as X-Women…


Daí, a capa da Mulher-Aranha fica, em sua construção, muito pobre. Parece alguém querendo causar mostrando uma bunda enluarada, coisa que o Manara, nos seus 70 milhões de anos de carreira, já não precisa fazer.

Ainda, a capa tem outros problemas, como a curvatura absurda do pescoço, a quase ausência do nariz e os beiços picados por marimbondos (sim. Eu sou preto, beiçudo e já tive a boca picada por um marimbondo na feira. Sei do que tô falando).

E nisso, pintaram os redesigns. Abrindo umas aspas, os redesigns viraram moda sobretudo depois que sites como o Escher Girls ou o The Hawkeye Initiative usaram desse recurso para criticar a representação feminina nos comics.

No Caso Manara/Mulher-Aranha, o mais famoso redesign foi feito pelo “Less tits n’ ass, more kickin’ ass“ (que resenheou também a capa xexelenta – Oh, really? – do Greg Land).


O redesign gerou controvérsia. E revolta. Como do Kevin Maguire (ele mesmo!):


Bem, vamos aos pontos: primeiro, o redesign é uma forma (gráfica) de crítica. E a crítica é crítica, ninguém é intocável.

Manara, Stan Lee, Jack Kirby, Romita Jr., Kevin Maguire… pense em qualquer um: se estão na chuva é pra se molhar, e às os pingos veem grossos, às vezes veem finos. Acontece.

Chamar a crítica de censurável me dá preguiça. E olha! Teve um cara que, se referindo ao trabalho de um gênio absoluto, falou que podia dar “mais polimento” ao trabalho dele.

O cara que falou isso foi ninguém menos que Alex Ross e o gênio que ele ia “dar mais polimento”, era ninguém menos que Jack Kirby, mas disso ninguém reclamou.

Assim como ninguém reclama dos incontááááááveis redesigns de “artes” do Liefeld. Looogo…

Outro redesign foi feito pelo Carlo Pagulayan, artista com trabalhos na Marvel. Ele fez uma modelagem em 3D pra justificar a anatomia manariana e, bem…

Se por um lado ele teve uma sacada que o pessoal do “Less tits” não teve, que foi o fato da perna direita da personagem estar fora do prédio, para baixo, por outro ele também fingiu que não viu que o seu redesign confirma só parcialmente o desenho do Manara, porque, bem, ele de fato está inadequado.

Observem aí a modificação da bunda, da angulação da cabeça (e, consequentemente, a torção do pescoço), etc.


Enfim, o que me deixa desgraçado da minha cabeça é a Marvel já ter censurado capas muito melhores (e mais eróticas) do que essa e… agora taí fingindo de morta pra comer o coveiro.

Como não se lembrar daquela capa do Frank Cho pro Homem-Aranha em que ele teve de acrescentar uma toalha na bunda da Mary Jane?


Mais do que isso, tentando desesperadamente emplacar uma personagem feminina (Miss e Capitã Marvel, agora a Mulher-Aranha), faz sentido chamar o Manara pra fazer a capa?

Ou colocar o Greg Land(!) no miolo? A ideia é emplacar com a galera fapista e só?

Como eu disse lá no podcast sobre o uniforme da Batgirl: não tem problema em uma personagem de quadrinho ser hipersexualizada. O problema é serem TODAS assim…

(ô Fiorito, valeu pelos links!)

(*) Um policial civil mordido por um porco psicólogo radioativo. Quer dizer, um psicólogo radioativo mordido por um policial civil porco. Não, péra...

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