Paula Minozzo (*)
Assim que a morte de Eduardo Campos foi confirmada, o nome
do ex-governador de Pernambuco já era o assunto mais comentado no Twitter. Algo
absolutamente normal na rotina do site, até clicarmos e vermos o que se falava
sobre Campos.
Muitos estavam incrédulos. Muitos adotaram uma postura
solidária, pensavam na família do político, nos filhos, compartilhavam os
últimos vídeos que as crianças haviam postado para o pai. Tudo isso
independentemente de discurso ou ideologia política. E alguns reforçavam isso:
Eduardo Campos não era apenas um político, era uma pessoa com sentimentos, uma
pessoa como nós. E eu vi todas essas mensagens. Mas é claro, que entre as
milhares de menções, alguns fariam piadas de mau gosto, politicamente
incorretas, insensíveis. Mas tudo isso não surgiu com as redes sociais.
O ser humano tem maneiras individuais de reagir a tragédias,
ou não reagir a elas. Ou de simplesmente não sentir empatia pelas vítimas ou
pelas suas famílias. Ou de deixar o fanatismo político ou seja do que for, de
impedir de enxergar além disso. Mas não podemos ser tão apocalípticos: as redes
sociais apenas tornaram público o que sempre quisemos esconder. A
insensibilidade, o rancor ou a maldade hoje estão públicos. E prontos para
serem descobertos, retuítados, curtidos e até mesmo louvados.
Hoje, temos acesso às milhares de piadas de mau gosto, e
temos onde publicá-las. Seja por ingenuidade ou por impulso, ou até mesmo por
hábito de não pensar no que publicamos, achamos que nossas palavras nas redes
sociais nunca vão ter a repercussão ou atingir quem não gostaríamos que
atingisse. É a infantilidade de lidar com algo tão novo, tão fácil e intuitivo.
E tudo foi programado para ser assim.
Não pensamos antes de publicar, mas os outros que filtrem ao
ler o que escrevemos. Mas também não sabemos reagir contra as publicações que
expressam sentimentos que consideramos ruins, insensíveis. Muitas vezes se usa
o mesmo discurso de ódio para inibir quem faz a piada de fazê-la de novo. E
novamente, hoje temos como fazer isso, temos como castigar estranhos, puni-los,
expor suas fotos pessoais e desejá-los tudo de ruim. Com a mesma distância e
falta de empatia que condenamos.
Colocar a culpa no Twitter ou transformar as redes sociais
no grande vilão pode parecer raso. É bem provável que estejamos mais impulsivos
e pouco acostumados com a repercussão de nossas palavras quando se tornam
publicamente acessíveis. Mas é provável também que, com os recursos e com os
algoritmos, estejamos vendo apenas aquilo que queremos. Na minha linha do tempo,
vi apenas manifestações agradáveis e sensíveis. Achei que essa tragédia talvez
humanizasse e transformasse o cenário das eleições, que, especialmente, neste
ano, seriam marcadas pela baixaria nas redes sociais. Mas também não procurei
nada além disso. E quem procura, acha.
(*) Paula Minozzo é
editora de Redes Sociais do jornal Zero Hora
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