Augusto Nunes
Em 2 de agosto, no noticiário sobre a escala em Montes
Claros da trupe governista, a Folha de S. Paulo expôs na vitrine o lixo
despejado pelo palanque ambulante e escondeu a vassoura finalmente sobraçada
por um oposicionista de alta patente. “Dilma e Lula ironizam Aécio por ter
feito aeroporto em terra de tio”, berrou a manchete da página A6. Três dias
antes, num artigo publicado no mesmo jornal, o candidato do PSDB à Presidência
admitiu ter usado quatro ou cinco vezes o aeródromo de Cláudio, reconheceu que
deveria ter verificado previamente a situação legal da pista e, de novo, provou
que não cometeu nenhuma irregularidade.
Alheios às explicações de Aécio, o enviado especial e o
editor abriram a reportagem com a transcrição sem ressalvas do palavrório de
Dilma. “Nós aumentamos a capacidade dos aeroportos em 67 milhões de passageiros
e ninguém ficou com a chave desses aeroportos”, elogiou-se a supergerente de
araque que só improvisou puxadinhos, enxerga multidões inexistentes nos
saguões, inventou a privatização com codinome, entregou a empreiteiros amigos
as chaves dos principais aeroportos e mantém engavetados os 800 novinhos em
folha que prometeu inaugurar ainda em 2014.
O desfile de fantasias, insultos insinuados e bazófias
difamatórias prosseguiu com a reprodução de um trecho da entrevista de Lula à
Gazeta do Norte de Minas: “O Estado não pode ser tratado como propriedade para
benefício de uma família”, provocou o ex-presidente ao comentar o “caso do
aeroporto”. Mesmo para a oposição mais gentil da história republicana, passou da conta a aula de ética
proferida pelo pai do Lulinha e provedor de Rosemary Noronha. Só então, pela
primeira vez desde a divulgação parcial das maracutaias descobertas pela
Polícia Federal em novembro de 2012, o oportunista que vive confundindo o
público e o privado foi confrontado com o escândalo que protagonizou ao lado de
Rosemary Noronha.
Coube ao ex-deputado Pimenta da Veiga cutucar a fratura
exposta: “Misturar assuntos pessoais com assuntos de governo não é prática do
PSDB”, advertiu a nota oficial divulgada pelo candidato do PSDB ao governo
mineiro, antes da frase de 23 palavras que merecia virar manchete de primeira
página em todos os jornais que prezam a inteligência dos leitores: “O
presidente perdeu mais uma boa oportunidade para dar as explicações que o
Brasil aguarda há muito tempo sobre pessoas da sua intimidade”.
Embora Pimenta da Veiga não tenha identificado pelo nome e
sobrenome a larápia que o então chefe de governo transformou em segunda-dama,
chefe do escritório paulista da presidência e passageira clandestina do
AeroLula, a Folha tratou de confinar o
histórico revide em dois parágrafos. O Globo e o Estadão, que também destacaram
o lixo, não concederam uma única e escassa linha à vassoura desfraldada por
Pimenta da Veiga. Cabe ao exército de Aécio intensificar a ofensiva até que
Lula já não possa fingir que nada ouviu, até que a imprensa dócil seja forçada
a curar a miopia seletiva.
É hora de trocar mensagens cifradas por recados com todas as
letras. Os oposicionistas sem medo precisam deixar claro que Lula deixou de ser
inimputável., e que a licença para pecar ultrapassou o prazo de validade. Como
registra o post reproduzido na seção Vale Reprise, faz 620 dias que o chefão da
seita foge de pelo menos 40 perguntas vinculadas ao caso Rose. Faz mais de um
ano e meio que a oposição e os bravos rapazes da imprensa se dispensam de
perguntar-lhe o que não tem resposta.
Durante 10 dias, repórteres dos três maiores diários
brasileiros exigiram que Aécio Neves revelasse quantas vezes utilizara o
“aeroporto” de Cláudio. Agora que o segredo foi desvendado, os sherloques
especializados em mistérios da aviação civil têm tempo de sobra para investigar
o enigma muito mais relevante. Para facilitar o trabalho dos repórteres, a
coluna enfileira dez perguntas que envolvem a dupla Lula e Rosemary.
1. Quantos vezes o Aerolula decolou com Rosemary Noronha a
bordo?
2. Quais os motivos da inclusão de Rose na comitiva
presidencial em pelo menos 20 viagens internacionais?
3. Por que foi contemplada com um passaporte diplomático?
4. Quem autorizou a concessão do passaporte?
5. Por que o nome de Rosemary Noronha nunca apareceu nas
listas oficiais de passageiros do avião presidencial divulgadas pelo Diário
Oficial da União?
6. Quem se responsabilizou pelo embarque de uma passageira
clandestina?
7. Por que Marisa Letícia e Rose não eram incluídas numa
mesma comitiva?
8. Quais eram as tarefas confiadas a Rose durante as
viagens?
9. Todo avião utilizado por autoridades em missão oficial é
considerado Unidade Militar. Os militares que tripulavam a aeronave sabiam que
havia uma clandestina a bordo?
10. Como foram pagas e justificadas as despesas de uma
passageira que oficialmente não existia?
Não é tudo. Mas já basta para autorizar a decolagem rumo à
verdade.
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