Melo pode levar o jogo
pra prorrogação. Ou, no mínimo, recuperar as melenas perdidas
Carlos Pastoriza
Propércia! Essa a palavra mágica! Os marqueteiros baianos do
governador Zé Melo deveriam, antes de iniciar qualquer trabalho, reunir-se e
pronunciar três vezes: Propércia! Propércia! Propércia! Mas pronunciar com
fervor. Com fé autêntica e determinada. Como a desses pastores que evangelizam
as massas pela TV e com um copo d’água espantam o diabo do couro. A esta altura
do campeonato, com apenas 40 dias para o primeiro turno, só um milagre poderia fazer
os índices de Melo levar a disputa para o segundo turno. Pois eu acrescentaria:
um milagre sim, mas milagre científico.
Assisti apenas ao primeiro capítulo da insossa maratona que
transcorrerá durante o chamado horário gratuito da televisão. Aliás, no Sul,
ele se chama assim. Aqui no Norte ele é conhecido como “guia eleitoral”. Por
razões óbvias, suponho. É que aqui na Terra de Ajuricaba o voto dito popular
sempre foi mais dirigido pelas mãos das elites. Quem dirige, guia. Daí a
expressão “guia eleitoral”. Mas isso são tergiversações. O que eu queria dizer
é que, assistida à estreia do “horário” (ou do “guia”), senti que os
“zemelistas” ainda vão lutar muito, pelo menos até o dia 5 de outubro, para
virar o jogo ou forçar uma prorrogação. E com essa produtora Ginga, periga o
governador levar um couro de criar bicho...
Mas voltemos à Propércia e seus poderes mágicos. Em primeiro
lugar esclareço ao prezado leitor que se trata de um remédio para a calvície. O
que no caso de Melo (e do autor dessas linhas), tem tudo a ver. É mais um
remédio contra o fim das aflições das pessoas que, diante do espelho, vão
contando os números fúnebres: um... dois... três, ao todo 28 cadaverezinhos
entre os que ficaram agarrados ao pente ou que se precipitaram em direção ao
ralo da pia.
O médico Richard Selzer, escrevendo sobre essa dramática
situação, comparou-a a dos soldadinhos de Napoleão, caindo, um a um, sobre as
estepes geladas da Rússia.
Há 30 anos, num artigo que entraria para a história,
produzido para a revista Esquire,
Selze bradava: “Oh! escalpo, escalpo, não vais sangrar nem gritar? Vê, és
ceifado pela raiz e não emites um som. Apenas um silêncio tenebroso da nuca à
sobrancelha”.
Bebi com atenção cada palavra do texto de Selzer e enviei uma
xerox para o Zé Melo. Fomos vizinhos, certa época, no Palácio do Governo. Ele,
o já influente secretário de Educação. Eu, um discreto assessor de imprensa do
governador Amazonino Negão.
Infelizmente, quando descobri sobre a Propércia já estávamos
separados pelas encruzilhadas da vida. Depois, no nosso caso, conhecer mais um
remédio para a calvície já de nada adiantaria. Não haveria vestígios dos
soldadinhos de Napoleão sobre as nossas estepes.
Além disso, o que saiu publicado na imprensa brasileira
sobre a Propércia foram rápidos registros. Uma página de Veja e um comentário, que considerei insultuoso, num texto do
suplemento Mais, da Folha: “No futuro, só vai ser careca
quem quiser, como os múltiplos imitadores do jogador de futebol Ronaldinho”.
Quanto distanciamento do redator dessa frase da realidade
trágica de uma calvície que se alastra! Imagine comparar os nossos padecimentos
com pessoas que raspam o cocoruto por modismo.
Segundo a Veja, em testes feitos com a Propercia, um dos
efeitos colaterais constatados (muito desagradável, diz a revista) foram
relacionados com a diminuição da libido. Chegou-se em alguns casos à impotência
temporária.
A própria bula da Propércia esclarece que em apenas 2% tais
efeitos foram constatados. Hoje, com o Viagra, tudo tem conserto.
Claro que a simples presença de mais testosterona, um
hormônio masculino, no organismo não garante uma cabeleira farta. Só a
castração tem eficácia. Por isso, Aristóteles, que era careca, contemplava com
tanta inveja as madeixas esvoaçantes dos eunucos atenienses.
A recente adoção da técnica de transplante de cabelo e do
autotransplante de cabelo retirado das laterais da cabeça (um tufo reimplantado
cresce na incrível velocidade de 4 décimos de milímetro por dia e seus fios são
eternos, não caem nunca) mostram, na realidade, que a ciência sabe muito pouco
sobre os fenômenos que pairam sobre nossa cabeça.
Imaginem vocês que existem ali, em baixo do couro cabeludo,
os chamados folículos, e que seu comportamento define quem vai ser ou não
careca. Mas seu funcionamento é um mistério. Os tais folículos nunca morrem.
Apenas adormecem e isso, esse sono folicular, faz os cabelos caírem.
Em todo careca que se preza, como o governador Zé Melo, o
que ocorre é uma desproporção entre os folículos acordados e os adormecidos. No
caso de Melo, essa desproporção deve ser de 90% de folículos sonolentos, 10% de
folículos lépidos, acordadinhos, com insônia.
Por favor, não pensem que estamos especulando, isso é
CIÊNCIA!!!
Os mais recentes tratados sobre o assunto admitem,
inclusive, a possibilidade de, sem motivo aparente, os folículos adormecidos
despertarem de um sono prolongado. Assim, uma careca que durou décadas de repente
se transforma num bosque frondoso. Insisto. Isso não é milagre, É CIÊNCIA!
Portanto, Egberto Batista, Nelsinho Biondi, Zé Lopes,
Jefferson Coronel, Jorge Bastos e demais marqueteiros importados de Salvador
(BA) tenham fé, corram atrás da Propércia, consigam o produto. Pelo menos
pensem sempre nela com fé e devoção. Repitam em voz alta três vezes ao dia:
Propércia... Propércia... Propércia!
Vocês podem não ganhar a eleição. Mas o Melo pode se
transformar num cabeludo de dar inveja aos concorrentes.
E o que é melhor? Administrar essa crise permanente chamada
Amazonas, ou recuperar as melenas perdidas, que, na sua idade, poderiam
apresentar dissonantes e atraentes mechas cinza-azuladas ou simplesmente
grisalhas.
Ele ficaria irresistível e, pessoalmente, eu fico com a
segunda opção.
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