Vamos discorrer sobre
o dilema sempre em questão: o homem mais velho diante da namorada mais nova e a
condenação alheia
Ricardo Coiro
“Cara, vamos tomar umas cervejas hoje? Eu preciso de uma
opinião sua!”, ele me disse, por telefone, de forma bem objetiva, elevando o
tom de voz ao mencionar a palavra “preciso” e com o timbre típico daquele que
carrega alguma preocupação.
Aquele convite serviu como a desculpa perfeita para que eu
me desvencilhasse, sem peso na consciência, dos conselhos saudáveis da minha
Pugliesi interior e, mais uma vez, não pisasse na academia. Ou acha que eu
deveria trocar, por halteres pesados e movimentos dolorosos, a chance de ajudar
um amigo em aparente situação de desespero?
Então eu disse “sim” ao convite dele e, até a hora que eu
havia combinado de encontrá-lo em frente a um boteco da Paulista, ocupei o meu
tempo criando hipóteses mirabolantes para a aflição do meu irmão por opção e
ex-chefe no banco em que trabalhei logo que larguei as fraldas e o vício na
punheta.
E como eu conheço muito bem o enorme potencial que o André
tem de se meter em confusões parecidas com aquelas que eu costumo presenciar
nos filmes do Guy Ritchie, cheguei até a pensar que ele poderia estar devendo
grana para membros da máfia russa, ou, até – o que me pareceu ainda mais
insolúvel e nocivo à saúde –, que ele havia dormido com alguma das mulheres do
Mr.Catra. Só que não!
Para o meu alívio, depois de alguns goles “pelicanescos” na
cerveja, ele iniciou o momento desabafo: “Irmão, seja sincero! Eu tenho cara de
velho?”.
“Velho? Não, cara, por quê? A sua pipa não está subindo
mais? Ou você quer dar uma de espertão e começar a estacionar o carro em vagas
de idoso?”, eu respondi, com ironia e tentando afastar a seriedade de nós.
Mas ele logo me repreendeu com um olhar de pai bravo e
repetiu, com outras palavras, a mesma pergunta que já havia feito: “Eu tenho
aparência de tiozinho?”.
“Tiozinho? O que você tem? Que papo estranho é esse?”.
E ele então, para findar aquele mistério e me tranquilizar,
contou tudo: “Sabe, Rica, eu comecei a sair com uma menina bem mais nova do que
eu e estou com medo de ser muito velho para ela”.
Confesso que senti certa preocupação quando ele me disse
isso, pois imaginei, de forma clara – como as imaginações do Bobby, do “O
Fantástico Mundo de Bobby” – o André comprando um presente de Dia dos Namorados
em uma loja de brinquedos e, em um sábado qualquer, depois de ajudar a namorada
a montar a surpresa do Kinder Ovo, perguntando algo como: “E aí, bebê, você
mandou bem na prova de ciências?”.
Aí seria assustador, certo? Mas respirei fundo, contive o
princípio de pânico, pedi um conhaque e perguntei: “Mas quantos anos ela tem?”.
“24”, ele respondeu. “E você?”. “42!”. “E vocês se dão bem?”. “Muito!”. “E você
gosta de estar com ela?”. “Muito!”. “Então, qual é o problema?”
Depois de alguns segundos de silêncio, ele me disse: “É que
quando eu estou com ela sinto que os outros estão me olhando como se eu
estivesse cometendo um crime!”. “E você está?”. “Claro que não! Eu gosto muito
da Clarinha e a bundinha dela é bem mais durinha do que a da minha ‘ex’; você
precisa ver!”. “Opa! Só chamar. Eu posso dar uma apertadinha também?”. “Vai se
ferrar!”, ele me respondeu, deu o primeiro sorriso franco da noite e, após
finalmente inflar o peito como um adulto destemido e que não liga para a
opinião dos outros, disse-me: “E sabe o mais louco? Eu dou um pau nos amigos
dela no PlayStation!”.
A verdade é que a maioria das pessoas, quando sente
insegurança devido à idade da nova parceira, é motivada pelo medo do julgamento
alheio, e se esquece, completamente, da importância que deve ser dada à própria
satisfação.
“O que os outros vão pensar de mim quando me virem, de mãos
dadas, com uma novinha?”, eles se perguntam, quando, na verdade, deveriam se
questionar: “Essa novinha me faz sorrir?”. O mesmo vale para mulheres que se
sentem envergonhadas por curtirem papar anjos e em qualquer outra situação na
qual o número que está impresso no RG se torna quesito determinante na hora de
achar que um futuro relacionamento é inviável.
A idade é uma forma que o ser humano encontrou para
quantificar os nossos dias de existência, apenas, nada além. Maturidade é outra
coisa e algo muito mais importante a ser pensado no momento em que cogitamos a
formação de um novo laço com alguém. Já vi quarentões que ainda dependem da
mamãe quando precisam arrumar uma mala e moleques de dezoito anos que, com o
próprio suor, sustentam famílias numerosas.
Percebe que a maturidade é algo que está muito mais ligado à
capacidade de realizar do que ao número presente no documento de identidade? E
além da maturidade, irmão, existe uma pergunta importante a se fazer na hora de
pensar em iniciar algo sério com alguém: “Estamos em vibes parecidas?”. Como
assim? Simples: mais importante do que ter a mesma idade do que o parceiro é
estar em um momento de vida cujos desejos são similares ou ajustáveis.
Mesmo que você tenha a mesma idade dela, o relacionamento
dificilmente dará certo se você estiver na “vibe de passar a semana inteira
tostando cada centavo do seu salário em pinga” e ela na “vibe de passar a
semana inteira comendo Miojo para economizar”, saca?
Não estou dizendo que vocês tenham que desejar exatamente a
mesma coisa, nada disso! Estou falando, apenas, que vocês, independente da
idade e de outros fatores superficiais, têm mais chance de dar certo, como um
casal, se estiverem em momentos de vida parecidos e buscando, de alguma forma,
caminhos que visam levar ao mesmo lugar ou a lugares com certa equivalência.
Cara, quer um conselho? Pare de encanar com aquilo que os
outros vão pensar da sua novinha – ou velhinha -, comece a se preocupar com
aquilo que VOCÊ pensa dela e, principalmente, com o quanto ela deixa você
sorridente depois das horas que passam juntos.
E, quando disserem que ela é muito velha para você, irmão,
educadamente, responda: “Engraçado, pois a sua mãe tem a mesma idade que ela e,
na cama, harmonizou perfeitamente comigo; inclusive nos quesitos flexibilidade
e fôlego!”.
Brincadeira! Não diga nada, afinal, a mulher é sua ou é
dele?
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