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domingo, agosto 27, 2017

Vitória de Amazonino


Por Paulo Figueiredo

Leonel de Moura Brizola cultivava uma visão prática dos fatos, certamente em razão de sua história de vida, com origem nos estamentos mais humildes da população brasileira. Sobre eleições dizia que tudo era muito simples e que a vitória ou a derrota ocorria em função do candidato a ser enfrentado.

Comparava a disputa politica a um campeonato de natação para observar que ganhava quem nadasse melhor. Parece óbvio, mas nem tanto, uma vez que haverá sempre quem queira encontrar explicações estranhas para os resultados eleitorais, com objetivos ou interesses nem sempre muito claros.

Agora mesmo, nestas eleições suplementares no Amazonas, com o processo ainda em curso, mas com a vitória de Amazonino Mendes já assegurada, há quem diga que foi o candidato quem menos concorreu para o excelente resultado de sua candidatura.

Percentuais foram estabelecidos, não se sabe sequer com que critérios, e neles coube ao candidato o menor índice – 10%, como responsável pelo sucesso da campanha.

Sem a menor cerimônia, os 90% restantes seriam devidos a apoios recebidos de lideranças políticas e do marketing, numa proporção de 60 a 30%, respectivamente, como viabilizadores do projeto político e da conquista do governo.

Lembro da eleição de Omar Aziz governador em 2010. Na ocasião, houve quem sustentasse igual raciocínio, a tal ponto que Aziz fazia questão de destacar que seus apoiadores é que tinham ganho a eleição, em tom de indisfarçável ironia, pois sabia que os louros da vitória lhe pertenciam.

Ora, ora, como é elementar, quem ganha e quem perde é o candidato e seu adversário, um em função da performance do outro, como observava Brizola.

No entanto, como resulta evidente, jamais se poderá diminuir a importância das alianças políticas, do apoio de lideranças fortes e da ação de estrategistas e marqueteiros na edificação do conjunto da obra.

Ainda assim, embora respeitando quem pensa o contrário, inconcebível a inversão de valores de forma tão radical, superestimando-se determinadas participações com menosprezo à atuação do candidato.

No caso da eleição em tela, não custa notar, num e noutro sentido, o peso significativo no concurso eleitoral dos candidatos presentes no segundo turno, ambos com denso currículo político.

Foram governadores, prefeitos de Manaus e senadores da República, com alentada experiência de décadas em várias eleições.

Portanto, nada mais verdadeiro do que afirmar que os dois tiveram peso de extrema relevância no processo, na esteira da vitória ou da derrota, sendo certo que agora colhem o que realmente plantaram ao longo dos anos.

Amazonino Mendes, maduro e tolerante, racional, senhor de sua própria idade, fez uma campanha serena e impecável. Conseguiu inclusive a adesão entusiástica da juventude, tal e qual Bernie Sanders nas eleições primárias estadunidenses, constatação que merece destaque, porquanto demonstra que idade não é documento, pelo lado positivo ou negativo.

Mendes transmitiu segurança e experiência, num momento de graves incertezas em relação aos destinos do Amazonas e da Nação. Em nenhum momento caiu na armadilha de promessas vãs, irrealizáveis, nas quais ninguém mais acredita. Dispôs-se, com base em discurso espontâneo, apenas a arrumar a casa e a reconstruir o Estado, tarefas hercúleas.

Na outra ponta, Eduardo Braga fez o inverso, com linguagem típica de sua personalidade, insolente e autoritária. Nem o enviesado pedido de perdão de público no programa eleitoral no rádio e na tevê, a quem possa ter tratado com rispidez ou grosseria, providenciado sob encomenda e a destempo, foi capaz de convencer potenciais destinatários.

Apresentou realizações imaginárias, com números fictícios, para dizer o mínimo, e montou a campanha estruturada num rosário de promessas não factíveis, em tão curto espaço de tempo, reservado ao mandato-tampão.

De mais a mais, ao contrário de Amazonino, bem-sucedido ao optar pelo nome de Bosco Saraiva, Braga elegeu mal e pagou caro ao trazer Marcelo Ramos para companheiro de chapa, um fiasco sob todos os aspectos, um enorme desastre político e eleitoral.

Ao comparar as escolhas que deverá fazer na hora do voto, a propósito, usando bordão da campanha de Braga, o povo, quando informado com a verdade sobre os candidatos e seus projetos, acerta sempre. Somente erra, quando não recebe dados corretos e reais, em cima dos quais fará suas opções na urna.

Reconhecendo que toda e qualquer adesão é indispensável, diante do brocardo de que em política cisca-se pra dentro, que fique de uma vez assentado que quem perdeu foi Braga e quem venceu foi Amazonino, com escusas pelo truísmo que salta aos olhos.

sábado, agosto 26, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 79)


WEST, Mae (1892 ou 1893-1980) – Mulher incrível, totalmente sem preconceitos, foi perseguida por mais de quarenta anos pela liga da moral americana, por insistir em mostrar no palco e na tela o que as moralistas mostravam entre quatro paredes.
Entra neste meu ABC porque – segundo as suas palavras – foi a mulher mais fudida do mundo.

Explico: em sua autobiografia ela declarou que um homem chamado Ted fez amor com ela durante quinze horas sem parar nem para tomar um cafezinho.
Como só publicou o livro aos setenta anos, a esta altura o Ted, que tinha quinze mais do que ela quando a sessão fodal ocorreu, já não dava nem mais para o cafezinho.
Se Mae foi comida por mais tempo, sua coleguinha Clara Bow foi comida por mais gente ao mesmo tempo: teria dado num dia para todo o time de futebol da Universidade da Califórnia, reservas incluídos.

Ao todo, quarenta armanhos em doze horas.


WHITMAN, Walt (1819-1892) – O maior poeta americano do século XIX, se considerarmos Pound um poeta do século XX. Era enrustidão, mas o seu livro mais conhecido, Leaves of Grass (que começou com uma edição de noventa páginas e acabou com mais de quatrocentas nas edições subsequentes), não deixa dúvidas sobre suas preferências.
Observem este pedaço de poema: “E quando eu pensei que meu querido amigo, meu amante, estava a caminho (o texto original é o seguinte: “And when I thought, how my dear friend, my lover was on his way comming...”, que alguns mais sacanas podem interpretar como “E quando eu senti que meu querido amigo, meu amante, estava para gozar...), Ó, então eu fui feliz! Pois aquele que eu mais amo dormia ao meu lado sob a mesma coberta na noite fria. No silêncio do outono, a sua face se inclinava em minha direção e o seu braço descansava suavemente sobre o meu peito – e naquela noite eu fui feliz”.
Era muita viadagem dele querer esconder a viadagem. Mas ele não era exatamente uma bichona louca, dessas que não podem ver uma fita no meio da calçada sem botar no cabelo.

Ao contrário, quando John Symmons, poeta menor e baitolo maior, tentou fazê-lo confessar o coleguismo, Whitman, que era forte pacas, lhe deu um cacete pouco poético e ainda berrou: “Como é que este sacana tem coragem de me chamar de bicha? Logo eu que fiz mais de seis filhos ilegítimos?”
Grande poeta ou não, forte ou não, pai ou não, a verdade é que Whitman, se não enfornou muitos robalos, pelo menos um ele meteu no forno. O robalo de Peter Doyle, um cocheiro de bonde a cavalo.
Uma noite, em 1867, Doyle estava conduzindo o seu bonde quando notou um único e silencioso passageiro.

Como Doyle também estava se sentindo entediado, decidiu levar um papinho com o passageiro solitário que – vocês já devem ter percebido – era o poeta. Foi amor à primeira vista.
Doyle botou a mão nos joelhos de Whitman, que decidiu não desembarcar no fim da linha.

Desembarcaram juntos muito felizes horas depois e felizes viveram juntos durante vinte e quatro anos (é isto mesmo!) até a morte de Whitman.
Aliás, depois da sua morte, vieram à tona as suas cartas, nas quais o poeta chama o cocheiro de “meu menino querido” e se despede sempre com muitos beijos.

Quando perguntaram a Doyle sobre as mulheres na vida de Whitman, ele não gostou e limitou a comentar: “Walt não era chegado”.


WIG CLUB – Rico, quando não está sacaneando pobres, tem muito pouco para fazer e morre de tédio. Uns aristocratas vagabundos de Londres, por falta de coisa melhor, decidiram fundar em 1767 o Wig Club, ou seja, Clube da Peruca.
O nome do clube onde os sacanas comiam suas amantes se deve ao fato de seu símbolo ser uma cabeleira feita dos pentelhos das amantes de Charles II, rei da Inglaterra e tremendo garanhão.

Aos pentelhos das amantes do rei, os nobres juntaram os pentelhos das suas amantes.
Aliás, nego só podia entrar para o clube se junto com os pentelhos da amante trouxesse também uma declaração dela mais ou menos do seguinte teor: “Venho através desta confirmar que os pentelhos trazidos para o Wig Club pelo lorde Moray foram raspados da minha vagina”. Seguia-se a data e a assinatura.
O clube acabou quando este mesmo lorde Moray pediu demissão e levou consigo a longuíssima peruca.


WOLSEY Thomas (1475-1530) – Cardeal e estadista que dominou o reinado de Henrique VIII. Era um bom filho da puta e subiu à custa de intrigas. 

Além de ladrão, ainda se dava ao luxo de ter filhos ilegítimos. Os nobres não gostavam dele porque era filho de um açougueiro. 

Tinha grande influência sobre o rei, que preferia fuder e deixar os negócios da corte a cargo do cardeal, entre 1515 e 1529.
Oficialmente, ele foi julgado e condenado, por não ter conseguido fazer com que o papa permitisse que Henrique VIII se divorciasse de Catarina de Aragão para se casar com Ana Bolena (que devia ter uma chave na xota, pois além de feia, tinha seis dedos numa mão).
Extra-oficialmente, o rei teria ficado puto dentro das calças ao descobrir que a sífilis que tinha lhe fora transmitida pelo cardeal.

É que a fim de botar no popô dos seus inimigos, o cardeal passou quase quatorze anos cochichando no ouvido do monarca. Sua saliva teria transmitido a sífilis.
Sifilítico ou não, a verdade é que o rei casou com Ana Bolena, mãe da futura rainha Elizabeth, e depois mandou decapitá-la.

Reinou ainda dezoito anos depois da morte do cardeal que ele ia mandar matar de qualquer maneira, caso ele não houvesse morrido de cagaço ao ser chamado pelo rei para ouvir a sentença de morte.


WOOLF, Virgínia (1882-1941) – Maluquete, mas trabalhava bem as pretinhas (as teclas da máquina de escrever) e foi, juntamente com Proust, Kafka e Joyce, uma das pioneiras da literatura moderna.

Fora de brincadeira, quem não leu a obra dos quatro não pode nem começar a pensar em discutir literatura do Século XX.
Proust entregava o anel e escrevia muito, Kafka provavelmente morreu virgem e Joyce era taradão: andava com as calcinhas usadas da mulher pelas ruas de Dublin.

Virginia aparentemente não gostava do esporte, mas se tivesse que ir para a cama com alguém preferia que fosse uma mulher.
Seu desinteresse pelo sexo oposto devia-se a seus dois meio-irmãos, também meio-babacas, Gerald e George Duckworth.

O primeiro tinha mais de vinte anos quando começou a boliná-la e olhem que ela só tinha seis aninhos.
Até os vinte e dois anos ela aguentou as visitas de George à sua cama.

Discretíssima, não dizia nada, mas no íntimo a raiva contra mastruços e mastrucinhos crescia como urtiga.
Juntamente com os irmãos fez parte de um clube de intelectuais de Cambridge, o Bloomsberry, cujo hobby era sacanear as pessoas sérias.
Uma vez, disfarçados de árabes, fizeram uma visita “oficial” a um vaso de guerra britânico e receberam as honrarias estabelecidas pelo cerimonial.

Comeram, beberam, se divertiram e depois deram no pé.
Não posso, realmente, lhes assegurar se ela era bonita, mas classuda ela era.

Embora meio nariguda, tinha o olhar misterioso da nossa poeta maior, Cecília Meirelles.
Aos vinte anos se apaixonou por Violet Dickenson, que tinha trinta e sete. Escrevia-lhe cartas na base de “meu amor”, “minha mulher”, “beijo-te as mãos, os lábios e...”
Embora este “e” pareça muito loquaz, quem conheceu a dupla garante que elas não foram para a cama.
Fazia parte do Bloomsberry Club um viado chamado Lytton Stachey, conhecido como arquisodomita.

Ele propôs casamento a Virginia em 1909 e ela chegou a ficar assanhada com a ideia, pois a bicha tinha fama de ser uma intelectual brilhante.
No dia seguinte, porém, o “ele-ela” disse para o “ela-ele”: “Não vai dar, meu bem. Não suporto mulher me beijando”.
Entretanto, foi Lytton que sugeriu ao escritor e ativista político Leonard Woolf que namorasse Virginia.

Ele namorou, noivou, casou (foi assim que ela virou Virginia Woolf, pois antes era Virginia Stephen) e até trepou com ela.

Ela gostou do namoro, do noivado, do casamento, mas detestou a trepada.
Apesar disso – ao modo deles –, eles se amavam. Infelizmente, ao fim de cada romance – escrevia, pelo menos, um por ano –, ela tinha acessos de loucura, sofria de melancolia e era internada em sanatórios.
Sua grande paixão em termos sexuais (foram para a cama umas vinte vezes, realizando lutas aranhais extremamente bem-comportadas) foi uma lésbica, igualmente casada, chamada Vita Sackville-West, que outro dia estive lendo e que escrevia direitinho.
Vita, além de despertar tesão em Virginia também despertava inspiração. Ela foi a musa do seu romance mais conhecido, Orlando, uma biografia de Vita, vista como um adolescente, em forma de ficção.
O marido de Vita, Harold Nicolson, disse que Orlando foi a carta de amor mais longa e charmosa da história da literatura ocidental.
O marido de Virginia também não se importou, pois afinal de contas “Vita é bonita, inteligente e no meio das pernas tem um clitóris”.
Embora deixasse escrito para o marido que “nunca houve no mundo duas pessoas mais felizes do que nós”, um dia, depois de uma crise de angústia, Virginia encheu os bolsos de pedras, entrou no rio Ouse e morreu discreta e elegantemente.

ABC do Fausto Wolff (Parte 80)


XANTIPA (Fim do Século V a.C.) – Mulher do filósofo Sócrates. Era feia, chata e forte. Vivia cobrindo o Só (para os íntimos) de porradas. Apesar disso, ele conseguiu ter três filhos com ela.

Há quem diga que Xantipa o aporrinhava porque, em vez de ficar em casa, ele vivia batendo papo e coxas com os rapazes nas saunas de Atenas, papos sobre Ética, Estética, Verdade, Virtude, conforme Platão anotou tão bem em seus Diálogos.

De lá para cá, se excetuarmos Leibniz, Kierkegaard, Marx e alguns poucos outros, nada mais se fez em matéria de filosofia.

Se o Sócrates era chegado a uma mandioca entre uma aula e outra? Era.

Aliás, foi condenado por corromper a juventude.

Deram-lhe amplas possibilidades de fugir, mas ele preferiu beber veneno (cicuta) a voltar para Xantipa, que jamais imaginou que mais de 2 mil anos depois iria aparecer neste ABC só por sacanear o marido.


XANTORRÉIA – Perdão, leitores, menti. No verbete anterior eu disse que Xantipa só apareceu neste meu livrinho porque sacaneava o bom Sócrates.

Em verdade ela só faz parte desta seleção de vocábulos, acontecimentos e personalidades porque seu nome começa com “X”.

Se um sacanólogo fosse depender da letra “X” para viver, não daria pra média, pão e margarina.

É que essa letrinha, além de dar nome ao cromossomo feminino XX, só é chegada à química e aos povos incas, astecas e maias, que os espanhóis do século XVI gostavam de chacinar em nome de Deus, porra!

Depois da Xantipa e antes de encontrar a xantorréia, eu só conseguia lembrar de um carteiro chamado Xavierzinho, que gostava de pegar nos pauzinhos da gurizada da avenida Farrapos em Porto Alegre, durante os anos 40.

Nunca me aproximei do Xavierzinho, mas os meninos de oito a dez anos contavam que a coisa era nesta base: “Quer uma balinha? Então deixa eu segurar o pintinho”.

Quase tão sacana quanto o Xavierzinho, que hoje já deve estar morto ou, pelo menos, aposentado de suas funções de correio da manhã viadal, é a xantorréia, também conhecida como xantorreia australis.

Trata-se de um cacto típico das regiões desérticas da Austrália. O tronco é muito grosso e curto e termina num tufo floreáceo. Do meio deste tufo se levanta uma inflorescencia longa, reta e dura.

Dizem os aborigines (aquele pessoal que gosta de furar os lábios com ossos e que come lagartixa crua) que a xantorréia é a sua única atração turística.

Baitolos milionários do mundo inteiro aparecem por lá apenas para enfiar a inflorescência no rabo e morrer com o próprio cheio de espinhos, com um sorriso nos lábios. Deve ser simpatia.


XINGU O rio Xingu, como todo mundo que estudou geografia no primário já devia ter esquecido, passa pelo Mato Grosso e pelo Pará.

Juntamente com seus afluentes, acaba desembocando seus 1.980 quilômetros no Amazonas, ao sul da ilha Grande de Gurapá.

O Xingu foi explorado pela primeira vez pelo etnologista alemão Karl Von Steiner, por volta de 1884.

Dá o ar da sua graça neste ABC porque em 1959, fazendo uma reportagem para a revista Manchete (tinha esperanças de acabar na Academia, como o Arnaldo Niskier), deparei com alguns puteiros bem pobrezinhos às suas margens.

A periguete, fui ver as moças, que vinham de longe e cobravam caro para atender à clientela composta quase que exclusivamente de mineradores.

Quando disse à moça que estava na cama comigo que queria algo mais que papai-mamãe, ela me mandou à merda.

Disse: “Eu sou puta, mas tenho noivo e minha boca é só para ele”.

Devia tomar lições com algumas senhoras da sociedade carioca.

Ficamos no papai-mamãe e não peguei gonorréia.

Fazia-se chamar Tânia Verônica, mas em verdade se chamava Das Dores.

Era sarará e tinha um dente de ouro.


XOCHIQUETZAL – Deusa asteca da beleza, do amor sexual, das artes, associada também às flores e às plantas em geral.

Na mitologia, ela teria vindo de Tomoancham, o paraíso verde do oeste.

Originalmente, mulher de Tlaloc, o deus da chuva, como era boa demais, acabou sendo raptada por Tezcatlipoca, o nefando e sacaníssimo deus da noite.

Tezcatlipoca (bom nome de um jogador do Madureira para ser pronunciado por aquele cara que diz “dá-lhe garotinho!”), depois de trepadas divinas, acabou por coroá-la deusa do amor.

Em algumas regiões ela é confundida com Chalchithlicue, a deusa da água fresca. Já imaginaram esses dois fudendo: “Você é demais, Xochiquetzal!”. “Me chama de Chal-chithlicue!”. “Você é demais Chalchithlicue!”. “Bondade tua, Tezcatlipoca”.


YAB-YUM – A letra Y se amarra em clãs japoneses, arranjos florais e porcelana chinesa. Mas o Yab-Yum é do Tibete e em tibetano quer dizer pai-mãe.

Na Índia, no Nepal e no Tibete é representado como a divindade masculina abraçada à sua consorte feminina.

Ela é branca e está sentada sobre as pernas dele enquanto que ele, que é escurinho, vai fundo. 
Representa a união mística da força ativa ou método (upaia) masculino com a sabedoria (praina) feminina.

Trata-se da fusão necessária para sobrepor a falsa dualidade do mundo de aparências na luta por um plano espiritual mais alto.

O uso da união sexual como símbolo da união mística vem do tantra hindu e também está presente no hinduísmo, embora nunca tenha sido aceito pelos budistas da China e do Japão.

Ignoro a razão deste caretismo sino-nipônico.

ABC do Fausto Wolff (Parte 81)


YEVTUCHENKO, Yevgeni Aleksandrovich (1933- ) – Poeta, se tornou líder da juventude russa depois da morte de Stálin, ocasião em que caiu de pau no falecido ditador.

Viajou pela Europa Ocidental e Estados Unidos como garoto-propaganda de Kruschev.

Caiu em desgraça em 1963 quando publicou sua autobiografia. Alguém devia lhe ter dito que a autobiografia era precoce demais.

De qualquer modo, foi reabilitado em 1967, quando publicou seu ciclo de poemas Estação Bratska.

Nos anos 70 andou meio desaparecido e eu já estava pensando em escrever um conto chamado “Whatever happened with Geny Tuchenko?” quando ele pintou aqui no Rio de Janeiro em 1987.

Não é um grande poeta, mas passei a gostar mais da poesia dele depois que me disseram que, apesar dos insistentes pedidos dos poetinhas locais para discutir literatura, Yevtuchenko só queria saber de tomar cana.

Aparentemente, por onde passou, não sobrou puta pobre. Quem diz que só se faz poesia escrevendo?


YING-YANG – A cidade gaúcha de São Borja, onde nasceram Getúlio Vargas e João Goulart, é uma homenagem a um santo italiano chamado Bórgia que teve muitos filhos – alguns deles, papas – que, por sua vez, tiveram muitos filhos.

Apesar disso, apenas agora – e muito reticentemente – a Igreja admite que o ato sexual pode ser praticado por outros motivos que não os puramente reprodutivos. Motivos recreativos, digamos.

Dois mil e quinhentos anos antes de Cristo, os religiosos chineses já haviam descoberto este segredo de polichinelo. (Não, não se trata de um chinelo para usos múltiplos, mas sim o nome aportuguesado de Pulcinela, personagem da Commedia dell'Arte, cujos segredos eram de conhecimento público).

Ying-Yang é um símbolo chinês cuja origem se perde literalmente nas improváveis esquinas do tempo. Trata-se de um círculo dividido em duas partes iguais por uma linha curva e significa a união perfeita dos opostos, principalmente da mulher, Ying, e do homem, Yang.

Segundo os taoístas, e creio que poucos imbecis ousarão duvidar disto, quando Yang e Ying se amam, o orgasmo de ambos os transporta para outra dimensão, a dimensão de total harmonia com o universo.

Ou, como eu coloquei num romance chamado O Acrobata Pede Desculpas e Cai: “E é neste momento, da união mais profunda, que eu e a mulher sentimos a presença de Deus”. Pode ser pouco carola, mas sem dúvida é muito católico, no sentido universal do termo. Se Deus houvesse feito o sexo apenas para efeitos reprodutivos não faria do ato sexual a coisa mais gostosa do mundo.

Mas voltando ao Ying-Yang: os taoístas achavam que tudo que fosse humanamente possível devia ser tentado para que a trepada entre um homem e uma mulher fosse a mais harmônica e transcendental possível.

Eis o que diz o já citado neste ABC, TungHsuan Tzu, no século VII, em seu livro A Arte de Alcova: “Todos os homens têm obrigação de conhecer os diversos modos de se ter prazer com uma mulher. Ele deve saber os diversos modos de deitar (se de frente ou de lado, se sentado ou de pé) e escolher o momento exato de preferir a parte da frente ou a parte de trás: de penetrá-la violenta ou suavemente. Se souberem, viverão felizes. Caso contrário, perecerão miseravelmente”.

O Livro dos Ritos diz o seguinte: “Não basta ao homem saber fazer amor bem. Ele deve fazer amor com frequência. Até os cinquenta anos o homem deve entrar no pavilhão do prazer de suas mulheres pelo menos de três em três dias. Deve entrar no pavilhão de suas concubinas pelo menos de cinco em cinco dias. No pavilhão das outras mulheres da sua casa, quando lhe der na telha. A esposa principal deve permanecer na alcova enquanto o marido estiver fazendo amor com uma concubina de extração inferior. Depois do ato a esposa pode mandar a concubina embora e ficar no quarto com o marido pelo resto da noite. Sua posição merece honra e respeito”.

Se isto deixar as feministas menos irritadas, devo informar que Mao Tsé Tung não concordava com esta trepação toda e acabou com a alegria fodal da classe dominante chinesa.

É que para os pobres da China, desde sempre, durante dezenas de séculos, sexo era “papai-mamãe e vamos trabalhar que o dia tá raiando”.

Estou, porém, de acordo com o imperador Huang Ti que mais de 2 mil anos antes de Cristo, no primeiro livro de sacanagens jamais escrito, sentenciava: “Se queres conhecer o cérebro, investiga-o com o sexo”.

Que é que vocês acham? Ele estava se referindo ao pentelho luminoso ou à foda cerebral?


YOUNG, Brigham (1180-1877) – Tremendo cara de pau, foi o segundo presidente da igreja mórmon e o responsável pela transferência dos fiéis de IIlinois para Utah, nos Estados Unidos.

Através de Smith, o primeiro presidente, Young descobriu no livro dos mórmons a necessidade de casamentos múltiplos. De todos os mórmons foi o que mais praticou o que pregava. Tinha cerca de setenta mulheres.

Conhecido como o “Leão do Senhor”, o pastor Young mandou construir uma casa enorme num quarteirão central de Salt Lake City e nela nunca dormiam menos de doze esposas ao mesmo tempo.

As demais tinham casas monogâmicas espalhadas pela cidade, onde esperavam a eventual visita do marido.

Quando Young decidia com que esposa ia passar a noite, marcava a porta do quarto dela com uma cruz de giz. Antes, porém, comia duas dúzias de ovos “para aumentar a minha virilidade”.

Não é à-toa que, apesar do manto religioso que envolve a cidade, ainda recentemente disseram que se alguém pusesse um teto sobre ela, Salt Lake City seria o maior bordel do mundo.


YPACARAI Lago ao sul do Paraguai, com 12 quilômetros de comprimento e 6,5 de largura. Tornou-se famoso no Paraguai, no Brasil e até mesmo nos Estados Unidos graças à uma guaraña na qual o compositor narra as sacanagens que fazia com uma índia chamada Cunãtaí.

A música diz, entre outras coisas: “En una noche tibia nos conocimos junto al lago azul de Ypacaraí. Tu cantabas triste por el camino, viejas melodias en guarany”. Sentiram a falta de vergonha?

Aliás, as sacanagens junto ao lago azul de Ypacaraí não vêm de hoje, uma vez que recentemente foram encontrados fósseis de homens e mulheres pre-históricos às suas margens.

Passei a simpatizar mais com o Stroessner, ditador do Paraguai, depois que ele mandou explodir o filho da puta do Somoza, que andava levantando a asa para a nora dele.

Ainda assim acho que, em vez de ficar comprando terras no Paraná (para onde pretende fugir quando quiserem pregar seus ovos num muro), deveria fazer uma campanha chamada “Venga amar en Ypacaraí”, uma vez que no Paraguai existem oito mulheres para cada homem.


YÜGEN – Este Yügen aí tem trema. Aviso porque editor brasileiro acha que trema é como fio dental em bunda de mulher: se tirar não faz a menor diferença.

Se o Yügen não tiver trema, vocês podem parar de ler por aqui, pois continuar dá azar. Se tiver trema podem prosseguir, pois todos os desejos de vocês serão atendidos.

Yügen é um termo japonês indefinível que se refere a uma qualidade especial de beleza ou de essência estética, cujo significado é misterioso e profundo como, aliás, tudo o que aconteceu no Japão depois da invasão dos jesuítas, dos transistores e do software que, como todos sabem, quer dizer vara borrachuda.

Se vocês quiserem maiores informações procurem se familiarizar com a obra do dramaturgo Zeame Motokiyo.

Yügen, quando não é marca de queijo, é palavra doce que traduz muito amargor; Yügen é como se fosse espinho cheirando a flor. Leu sem trema? Fudeu-se.

ABC do Fausto Wolff (Final)


ZALTYS – A letra Z é muito popular nos países balcânicos e está no sobrenome de uma porrada de poetas do século XIX que ninguém conhece. Tem pouco a ver com o esporte que, mal ou bem, explica a nossa existência.

Cheguei a pensar em apelar e botar o Zorro. Acontece que o Zorro, que dava pro índio Tonto, em verdade só era Zorro aqui no Brasil.

No resto do mundo o nome do marmanjo que usava uma máscara negra era Lone Ranger.

O Zorro que agia na Califórnia tinha um irmão gêmeo viado, segundo recente versão hollywoodiana, mas... Ah, deixa pra lá que o verbete é Zaltys.

Zaltys é uma cobra verde inofensiva, mas altamente respeitada nas antigas religiões bálticas.

Para assegurar saúde e fertilidade na família, cada casa, principalmente na Lituânia, tinha uma cobra verde dessas num canto da cozinha.

Volta e meia a família se reunia e adorava a cobra.

Se Freud fosse vivo, imaginem quantas ilações sacanas tiraria deste ingênuo culto primitivo! 

Às vezes a cobra era convidada a jantar  com a família. Se ela se recusasse, a desgraça era iminente: as plantas se recusavam a crescer, o leite talhava, o chefe da casa brochava e, naturalmente, não nasciam mais filhos.

Os russos botaram na poupança dos lituanos porque pegaram eles desprevenidos: as cobras verdes estavam em falta.


ZAPATA, Emiliano (1879-1919) – Vocês achavam que eu ia deixar  ele escapar? Líder revolucionário mexicano que começou como camponês guerrilheiro em Morelos, onde nasceu.

Ajudou Francisco Madero (“Poco trabajo, mucho dinero, pulque barato, viva Madero!” e vocês já viram que, com uma canção dessas, a revolução só podia dar no que deu) a derrubar o tirano Porfírio Dias em 1911. 

Zapata foi perguntar a Madero, acabada a revolução, quando ele pretendia distribuir a terra aos camponeses.

Madero respondeu como Sarney: “Tu estás levando esta tal de reforma agrária muito a sério”. 

Foi o bastante para Zapata recomeçar a revolução com o lema “Terra e Liberdade”.

Madero caiu em 1913 e foi substituído por outro ditador, Vicente Huera, que Zapata também botou pra correr com a ajuda de Pancho Villa.

Como todo cara pobre que luta contra o poder, foi traído e assassinado, em 1919.

Aliás, não só em 1919.

Segundo Elia Kazan em seu filme Viva Zapata!, na noite de sua lua-de-mel, em vez de mel teria pedido a sua noiva que o ensinasse a ler. Não fez o que as pessoas normais fazem com as noivas.

Por outro lado, o Elia Kazan também não é de confiança, haja visto que dedurou atores e diretores esquerdistas para o senador MacCarthy, mas isso é outra história.


ZEUS – Filho mais novo de Cronos (Tempo, daí cronômetro), que tinha mania de comer literalmente os seus filhos, como, aliás, o tempo faz com todo o mundo. O tempo é um grande mestre, mas mata seus alunos antes que eles aprendam a lição.

Cronos, que havia castrado o próprio pai (Urano), foi vencido por Zeus, já crescidinho, que tomou conta do Olimpo. Deu o inferno para seu irmão Hades e o mar para seu irmão Poseidon e aproveitou para casar com a irmã, Hera.

Ao contrário de religiões anteriores e posteriores, os gregos humanizaram ao máximo o seu deus supremo.

Zeus era um pai de família justo, mas passível de cometer erros motivados por paixão; era tremendamente galinha, mas acabava sempre perdoado pela irmã-mulher que, porém, era extremamente vingativa com as amantes eventuais do marido; tinha pavio curto mas sua ira podia ser apaziguada e, principalmente, tinha muito senso de humor.

Seu nome deriva provavelmente de uma raiz que significa “brilhante”, pois é o deus do céu e dos fenômenos atmosféricos.

Em algumas lendas ele aparece como marido de uma porrada de deusas, mas como os gregos eram monogâmicos, acabaram por amarrá-lo a Hera, o que não o impediu de comer quem quisesse.

Para conquistar mulheres e deusas, às vezes se disfarçava de cavalo, touro, chuvinha de prata.

Trepou com Metis, a deusa da sabedoria, com a qual, segundo Hesíodo, teve Atena. Outras lendas dizem que Atena já nasceu adulta e armada do cérebro de Zeus.

Com Demetér teve Perséfone; com Leto teve Apolo e Ártemis; com Hera teve Hebe, Ares e Eileitiia; com Maia, filha do gigante Atlas, teve Hermes.

Mulheres mortais comeu as que quis, na conversa, na marra ou no disfarce.

Com Semeie teve Dionisos, com Alcmene teve Héracles, com Leda (disfarçado de cisne, daí a expressão “afogar o ganso”, para os comuns mortais, pois Zeus afogava o cisne) teve Helena, Clitemnestra, Castor e Polideuces, com Io teve Êpafos, com Europa teve Minos e Radamantis, com Antíope teve Anfion e Zetos. Chega? É que tem muito mais.

Como era (é?) imortal podia ter um filho com uma mulher e, posteriormente, cem anos depois, ter outro filho com a tetraneta desta mesma mulher, que assim seria irmã de sua própria trisavô.

Verdade é que suas  uniões com mulheres mortais correspondia ao desejo de certos reizinhos de serem descendentes dele.

Zeus era o dispensador do bem e do mal no destino das criaturas humanas, mas principalmente do bem.

Era o regulador do curso dos acontecimentos, conhecia o futuro que, eventualmente, revelava através de oráculos.

Era ele quem aplicava a justiça e punia a calúnia, além de ser o defensor da casa e da liberdade.

Seu poder só não é ilimitado porque é obrigado a obedecer aos caprichos do destino.

Pessoalmente, não me considero ateu, pois acredito em Zeus, que nunca botou cobra alguma em paraíso algum.


ZOLA, Emile (1840-1902) – Bem mais sacana que o falecido Zola, foi o vivíssimo Carlos Zéfiro. Autor de histórias em quadrinhos de sacanagem, seus desenhos não são grande coisa e seu texto não é melhor.

Em compensação, quebrou o galho de adolescentes desde 1950, quando seus livrinhos começaram a aparecer. 

Homem que nasceu entre 1940 e 1950 e não bateu uma punheta vendo as histórias do Zéfiro ou era cego ou doente do pau. 

Ninguém sabe a verdadeira identidade do Carlos Zéfiro que, por sinal, é mais misterioso que o B. Traven, o maior escritor norte-americano da primeira metade do século XX, autor de O Tesouro de Sierra Madre.

Mas voltando ao Zola, ele não era sacana e está aqui porque impediu uma grande sacanagem que queriam fazer com um tenente judeu chamado Alfred Dreyfus.

Há quem diga que Dreyfus quer dizer tripé. Mas ninguém sabe nada sobre o tamanho da rola do tenente, pois tripé era o seu nome mesmo.

Tripé no duro era o jogador de futebol que, apesar de se chamar Germano, era crioulo. Um dia a contessina Agusta foi ver um treino de futebol do Fiorentina (se não me engano) e teve a impressão de que o Germano tinha três pernas.

Se apaixonou pela perna do meio e se casou com ele, apesar da grita da família, uma das mais ricas da Itália. Quando encheu o saco do Germano, a contessina pediu o divórcio e o burro do Germano, que até teve uma filha com ela e podia ter pedido aos tubos do velho conde que, afinal, era ladrão, aceitou os termos impostos pela justiça italiana e voltou para o interior de Minas onde vive sem um tusta. Na Itália era conhecido como Germano Tre Gambe.

Mas voltando ao Dreyfus. Ele fora acusado de traição injustamente pelo governo francês. Zola escreveu o seu célebre J'Accuse (em alguns países a imprensa já servia para alguma coisa mesmo no século XIX) e o militar acabou sendo libertado da ilha do Diabo.

Zola era gordo, tinha mais de 110 quilos e menos de 1,60 m, além de ser desdentado. Não trepou muito e com este physique de rôle que só perde para o Adolph Bloch, não podia querer grande coisa.
Em compensação, suas descrições do ato sexual em Nana e Pat-Bouille foram tão realistas que influenciaram o curso da literatura ocidental.

Morreu aos sessenta e dois anos com uma mulher e uma amante com quem teve duas filhas.

Aos doze anos foi comido por um empregado turco chamado Mustapha, mas ao contrário de Lawrence, que também entregou o anel de couro para um turco, Zola não gostou.

Considerou a vida inteira uma sacanagem o que o Mustapha fez com ele.


ZOOFILIA – Como os mais inteligentezinhos sabem, não quer dizer amizade aos animais, mas “uma certa inclinação” para os animais.

Os zoófilos mais moderados limitam-se a ver os animais fuque-fuque, segundo o nobre estilo de O Dia.

É que, anos atrás, o redator-chefe, furioso, rasgou o título de uma matéria: “Tarado enrabou o porco”. Substituiu-o por “Tarado enrabou o suíno”.

Aliás, este cinéma-cochon ou cinéma-cheval é tão comum em todas as regiões rurais do mundo que só um cretino o classificaria de perversão.

Há ainda os zoófilos que não se limitam a olhar. A perigo, traçam suas vaquinhas, porcas, éguas, etc. Mas só a perigo.

Segundo o velho Kinsey, mais de 40% dos rapazes habitantes do campo tiveram algum contato sexual com animais na fase pré-adolescente e adolescente. É o chamado quebra-galho.

Perversão mesmo, no caso, é o bestialismo. Bestialismo, como vocês sabem, é o cara que só encara uma mulher quando não tem uma cabrinha à mão.

Embora na Idade Média o sujeito que fosse apanhado botando na olhota de um bicho qualquer corria o risco de acabar na fogueira, hoje em dia ninguém dá grande importância ao bestialismo, desde que praticado com discrição.

Pessoalmente, desaconselho os leitores a induzirem animais à prática do felacio. Uma mordida e AAAAIIII!

As lagostas e as polvas são mais ternas e compreensivas.

Eu poderia ainda falar dos zéfiros, uns ventos brincalhões que adoravam levantar as tules das ninfas dos bosques gregos ou dos zannis, personagens cômicos da Commedia dell'Arte; de Maria Zayas, escritora espanhola de novelas eróticas do século XVI ou das Ziegfield Girls, que mostravam as coxas nos palcos de New York nos anos 10 e 20.

Mas a luz apagou, meus fósforos acabaram e enchi o saco de procurar safadezas para satisfazer a curiosidade mórbida de um bando de relambórios safardanas. Acabou, chega, vão pra casa! Vocês são muito doidos!

Manual do Lenhador Sensível


Por Xico Sá

A fêmea é mesmo um jogo de adivinhação. Governar bem um desses seres colossais passa sobretudo pela nossa capacidade de correr à frente dos seus desejos. E realiza-los a contento.

Todas são naturalmente parecidas com aquela personagem de O piano – não falam e querem que a gente cumpra todas as funções, todos os trabalhos de Hércules. Precisamos adivinhar o momento certo de praticarmos sexo com alguma delicadeza. Um pouco antes disso, todavia, não podemos nos esquecer de correr à floresta, cortar lenha e pôr lenha à beira do fogão antes que venha a tempestade.

Homem sensível e lenhador ao mesmo tempo. Adivinhar onde quer ser tocada e também a hora da chuva. Isso é que querem as mulheres. O que implica o mais completo domínio de uma arte que junta conhecimento tântrico com a meteorologia. Preocupado com os meus párias, iniciei o esboço do Pequeno manual de adivinhação e encorajamento do macho diante do silêncio da fêmea e outros perturbadores, do qual subtraí os verbetes que seguem:

Fêmea sacudindo o vasto cabelo loiro – Esqueça esse tal de Marcel Proust, meu amigo, antes que ela confunda com outro personagem do mundo da velocidade e diga que preferia o Ayrton Senna. Corra em busca do tempo perdido e atraque no motel com cascata e teto para as estrelas mais próximo.

Fêmea sacudindo o cabelo castanho ou preto – Também quer sexo, mas adora falar antes sobre a personalidade de peixes-com-peixes, peixes-com-sagitário, peixes-com-virgem, numerologia, Caminho de Santiago, Paulo Coelho, búzios, cristais, a cura pelo vento...

Fêmea em mostra de filme francês – Diga à gazela, assim bem brega: “Se o Truffaut a tivesse conhecido, Bertrand, o Homem que Amava as Mulheres, teria final feliz – e seria com você.”

Fêmea silenciosa no café da manhã – Espere que ela consuma todo o líquido. Mire o fundo da xícara e arrisque uma leitura árabe da borra de café. Só assim será possível descobrir a demanda provocada ao longo do tempo pela sua incompetência.

Fêmea sentada na cama mirando a guarda-roupa – Ela vai experimentar um, dois, três vestidos: quatro, cinco saias: uma dúzia de blusas com calças tantas... Quando atingir o desespero, na tentativa do tubinho preto, pegue-a pelo braço, corra aso shopping mais próximo e realize o seu sonho de Uma Linda Mulher.

Fêmea no teste do biquíni – Ao perceber que ela ficou incomodada ao sentar pela primeira vez na areia daquele verão, não adianta nem mesmo a mais derramada e lírica das declarações de amor. Mesmo que você não saiba sequer a diferença entre estria e celulite, mesmo que prefira uma “botterinha”, não adianta convencê-la. Nada vai adiantar, nobilíssimo macho. Melhor presenteá-la com uma temporada de alcachofras num bucólico spa das redondezas.

Fêmea louca para repaginar o lar – Não tem jeito. Ela quer mudar o fogão, a cama, a mesa, os livros, os discos, os jarros... Não se aperreia, sob pena de ter lugar trocado também – sai o respeitável marido entra o nobre amante. A receita é entrar no embalo da nega, ajuda-la na missão. Esqueça a cara feia, mude pelo menos uma planta, um lírio de lugar.

Fêmea em pleno desejo de um rebento – Faça você mesmo, antes que ela torre o seu cartão de crédito em um banco de espermas qualquer, para dizer o mínimo.

sexta-feira, agosto 25, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 76)


VERLAINE, Paul (1844-1896) – Ele era filho de militar e um excelente poeta lírico, provavelmente o melhor da sua época. Ela chamava-se Mathilde Mauté, da classe média francesa, bonita e apaixonada.

Quando se conheceram e casaram, ele tinha vinte e cinco anos, era gentil, boa-pinta e famoso. Ela era uma menina de dezessete anos que queria ser feliz.
Algumas semanas após o casamento ela notou que o seu Paul estava sempre cansado na hora do fuder e quando o fazia, fazia mal.

Às vezes passava dois, três dias sem aparecer em casa e se ela ousasse reclamar, ele a cobria de porradas.
Ela ficou grávida, mas continuou apanhando e quando o filho do casal – George – nasceu, ele quase o matou quando o nenê o acordou com o seu choro.
Como ela era uma menina muito asseada, ele passou a não tomar banho, provavelmente para fazer com que ela se afastasse dele.
Pobre Mathilde, devia pensar: “O que será que o Paul quer?”
Fora eu vivo e conhecesse o casal naquela época diria: “Mathilde, o Paulinho quer sentar em cima de um trolho”.
Mathilde acabou descobrindo de que coceira sofria o seu marido quando um dia – eles já estavam casados há três anos – ele apareceu em casa com um garoto de dezessete anos e disse: “Mathilde, te apresento o meu amigo Arthur Rimbaud. Ele vai morar conosco”.
Rimbaud, embora garoto, era um bom filho da puta e um melhor poeta, melhor que Verlaine, inclusive.
Uma noite, Mathilde acordou e encontrou Verlaine dormindo com Rimbaud.
A partir desta noite os dois perderam a vergonha. Se comiam na frente de Mathilde que, dura, não teve coragem de se mandar.
Em 1872, vendo que Mathilde não se mandava, Verlaine e Rimbaud saíram de casa para não mais voltar. Rimbaud, aliás, aproveitou para afanar uma flauta de marfim de Mathilde.
Se Verlaine se apaixonou, aparentemente, o mesmo não aconteceu com Rimbaud, que trepava com todos os viados de Paris quando não estava escrevendo ou enchendo a moringa de absinto, bebida muito em moda na época.
Paulette não aguentou e deu um tiro nele. Ele não morreu, mas Verlaine passou dois anos na cadeia.
Rimbaud aproveitou para abandonar a poesia e a viadagern. Viajou para a Etiópia, onde comeu muitas nativas enquanto contrabandeava armas.
Em 1891, voltou para a França a fim de se casar, mas morreu no mesmo ano em Marselha, graças a uma perna gangrenada.
Mathilde, assim que passou a lei do divórcio, entrou com uma ação e se casou de novo aos trinta e três anos. Teve dois filhos com um mestre de obras.
George, seu filho com Verlaine, nunca passou de chefe de estação do metrô de Paris e toda vez que ouvia falar no nome do pai, tomava um porre. Morreu de porre em 1926.
Verlaine continuou escrevendo poesia – nada que pudesse se comparar com a produção dos primeiros anos – e morreu na casa de uma velha prostituta – Eugénie Krantz –, todo fudido, aos cinquenta e dois anos.
Apesar dessa história sórdida, em menos de cinco anos Paul Verlaine e Arthur Rimbaud produziram a melhor poesia francesa da última metade do século XIX.
Hoje dão nome a dois edifícios contíguos, de luxo, em Ipanema, no Rio de Janeiro, cujos moradores só lêem Vinícius de Moraes, com exceção do inquilino do 701 do Verlaine, que é vidrado em Baudelaire, que também era francês, também era bom poeta, mas não sentava em objetos estranhos.

VENÉREA, Doença – Não, não é isso que a senhora está pensando. A doença não se chama venérea porque Vênus um dia pegou uma gonorréia de Marte, com o qual corneava seu marido, Vulcano.

Aliás, Vênus era uma deusinha muito mixuruca de origem desconhecida, associada à jardinagem. Mais tarde é que os romanos decidiram associá-la a Afrodite, a deusa grega do amor.

Como não há setor da história da humanidade que não esconda alguma sacanagem política, Vênus não fugiu à regra.
Júlio César clamava ser descendente de Enéas, o fundador do Lazio, filho de Afrodite. Isso lhe dava origem divina e o direito de ser proclamado deus, bem como os seus descendentes.

Quem sabe um pouco de História sabe também o mal que esta pretensão fez à saúde de Júlio César.
Mas voltamos à doença venérea. Como a gonorréia, a sífilis, o cancroide, o galo, a linfogranulama, são transmissíveis por microorganismos muito sacanas como os espiroquetas, os gonococos, os bacilos e os vírus, através da relação sexual, receberam o nome de doença do amor.
Até Alexander Flemming descobrir a penicilina na primeira metade deste século, milhões e milhões de homens e mulheres morreram de doenças do amor.
Todas essas doenças, entretanto, não passam de frescuras se comparadas com a AIDS, que também se transmite através do ato sexual.
Para que esses vírus todos não entrem dentro do organismo é que se inventou a camisa-de-vénus, ou seja, a camisa do amor para combater a doença do amor.
Hoje em dia é difícil encontrar uma mocinha dadeira que não ande com uma coleção de camisas-de-vênus na bolsa.
As mais sofisticadas chamam as camisas de blusas de Afrodite.
Outra versão apócrifa diz que deuses astronautas trouxeram as camisas do planeta Vênus para o México no século II d.C. e informaram aos astecas: “Um dia virão homens pelo grande rio, montados em animais de quatro patas. Eles virão para fuder o povo de vocês. Para evitar isso, dêem-lhe essas camisas que trouxemos do nosso planeta”.
Com camisa ou sem camisa, a verdade é que os espanhóis fuderam os astecas, cujos descendentes, hoje em dia, continuam sendo fudidos pelos americanos.

VERMILYE JR., Claudius (1929- ) – Todos achavam que ele era um bom pastor episcopal, assim como o Jimmy Swagart, que até pouco tempo atrás aparecia na televisão brasileira e, em voz dublada com acento americano, dizia aos mortos de fome do meu país que se eles parassem de bater punheta e de pensar em sacanagem, iriam para o céu.
Mas, como eu ia dizendo, todos achavam que o Claudius Vermilye era gente fina porque havia fundado uma instituição de caridade para garotos desamparados, chamada “A Fazenda dos Meninos”, perto de Winchester, no Estado do Tennessee.
Gostavam dele principalmente porque não vivia enchendo o saco da vizinhança pedindo donativos.
Um dia, porém, uns sete anos atrás, umas velhinhas, como acontece no cinema, resolveram fazer uma visita ao bom pastor.
Encontraram o bom pastor enrabando um menino de onze anos e sendo enrabado por um de quinze.
Como ele arranjava dinheiro para manter a fazenda? É simples: convidava viados e bocas de fogo riquíssimos para orgias com os garotos. 
Filmava o troço todo e depois revendia as cópias pelo mundo afora. 
Tinha clientes até na Arábia Saudita, o encuflechado!
As velhinhas foram à polícia e a garotada botou a boca no trombone.
Hoje o filho da puta está na cadeia cumprindo uma pena de quarenta e cinco anos.
Na mesma cadeia, aliás, deviam botar o Jimmy Swagart, que pregava a fidelidade ou a total abstenção sexual mas pagava prostitutas para desfilar peladas na frente dele. Troço nojento. 
Não ele pagar as putas pra desfilar, mas o fato de ser ele o pagador: o tartufo que sabia que na prática a teoria é outra. Roubava do povão pra dar pras putas.

ABC do Fausto Wolff (Parte 77)


VILLA, Pancho (1878-1923) – Bom sacana! As mulheres que ele não conseguia comer na conversa, comia na marra. Apesar disso, juntamente com Emiliano Zapata, foi o grande herói da revolução mexicana iniciada em 1910.

Corajoso, grande estrategista, foi também objetivamente cruel. Imaginem que matou mais de oitenta mulheres e crianças que viviam no seu próprio acampamento, pois elas atrasavam a marcha das tropas.

Mesmo assim, é o personagem que mais se aproxima da descrição de Robin Hood, o aventureiro que roubava dos ricos para dar aos pobres.

Infelizmente, no Brasil temos apenas Nibors Doohs, ou seja, Robins Hoods ao contrário, que roubam dos pobres para dar aos ricos.
Villa tinha 1,80m de altura, cabelos pretos ondulados, um bigode do tamanho do do Sarney e uma cara de idiota, pois, sofrendo de adenóides, não conseguia fechar os lábios. Muita gente morreu por não entender que o dono da cara de idiota não era idiota.
Não se pode acusá-lo de ter sido feminista, mas como ele mesmo dizia, “me gusta casar”. E gostava mesmo de casar. Tanto que casou setenta e cinco vezes. Nem esperava uma mulher morrer para casar com outra. Era um verdadeiro polígamo.
Um dia lhe perguntaram: “Como el general”, patente que se autoconcedeu, “consegue padres para casá-lo?” Resposta: “Es simples. Digo a el padre que sino me casa le meto una bala en la cabeza”.
Villa, que em verdade se chamava Dorotéo Arango, usava o pseudônimo porque teve que fugir de casa aos quinze anos, depois de matar o cara que tinha comido a sua irmã. Deve ter pensado: “Se comeram a minha, vou comer a dos outros”.
Certamente não era o que se poderia chamar de marido fiel, mas exigia fidelidade das suas mulheres.
Às vezes não casava, quando as mulheres já eram casadas, por exemplo.
Adelita – quem não conhece a famosa canção-símbolo da revolução mexicana? – era mulher de um dos seus soldados. Ele a surpreendeu na cama com Villa. Em vez de dar um tiro nos dois, imaginem o que fez o corno idiota? Deu um tiro nos próprios cornos.
Chateado, Villa mandou Adelita se coçar nas ostras. Sorte dela, pois ele poderia tê-la matado, uma vez que era de opinião que “las mujeres infieles deben ser muertas”
Manteve durante toda a vida uma incrível tesão por sua primeira mulher – Manuela Casas –, que morava na cidade de Parral.
De quinze em quinze dias ia visitar a cama de “la senõra”. Seus inimigos sabiam disso.
No dia 20 de julho de 1923, ano do nascimento de Stanislaw Ponte Preta, que não tem nada a ver com esta história, o pessoal que não ia com a cara do Pancho deixou-o comer Manuela durante horas.
Quando ele saiu e embarcou no seu Dodge do ano, levou treze tiros no peito para aprender a não querer ser mais macho que os outros.

VIRGINDADE – Como a dos jornalistas independentes, a classe das virgens está em plena extinção. Principalmente depois do advento da pílula.

Há na Dinamarca, em pleno centro de Copenhague, a estátua de um soldado prestes a soprar uma corneta.

Diz a lenda que ele a soprará quando passar à sua frente uma virgem com mais de quinze anos. De virgem mesmo, só a corneta, que jamais emitiu um som.
Mas vamos à virgindade propriamente dita.
Quando levada a sério, pode ser classificada como um estado de total inexperiência sexual.
Quando a serviço da hipocrisia e do falso moralismo, é a história da mocinha que deu todos os orifícios menos aquele.
A importância dada à virgindade, principalmente a feminina, varia de cultura para cultura.
Os povos antigos davam pouca importância ao assunto, embora os árabes, até hoje, considerem as não-virgens inaptas para o casamento.
Estas firulas, evidentemente, acontecem com as filhas de pais pobres que chegam a gastar um dinheirão para convencer o médico a passar um atestado afirmando que a moça perdeu a virgindade sem que houvesse contato sexual.
Eis as estimativas levadas a efeito nos Estados Unidos: em 1920 cerca de 70% da população feminina chegava virgem ao casamento.
Trinta anos depois apenas 40% era virgem e, provavelmente, todas feias.
Hoje em dia as virgens não chegam aos 10%.
E tem mais: a maioria das garotas modernosas dos grandes centros como Roma, Paris, Londres, New York, Los Angeles e – palmas para ele que ele merece – Rio de Janeiro têm vergonha de se confessarem virgens.
Com a aparição do vírus da AIDS, há uma possibilidade da virgindade voltar à moda. Melhor ser quadrada que defunta.
Pessoalmente, acho que se trata de uma questão de hábitos, costumes, tabus, com os quais não se deve interferir e que tem seu tempo de vida.
Do mesmo modo que compreendo que um casal jovem não queira se arriscar a um casamento sem antes testar sua compatibilidade sexual, também entendo que uma jovem – e até mesmo um jovem – queira manter a sua virgindade até o casamento.
O que é criminoso é querer impingir, através de novelas cretinas de televisão, os hábitos de Ipanema nas pequenas cidadezinhas do Nordeste.
Observem este primor de hipocrisia na Inglaterra vitoriana, quando era inconcebível a ideia de uma jovem não casar virgem: os javalis taradões da sociedade inglesa pagavam os tubos para as donas de puteiros lhes arranjarem donzelas para serem defloradas.
Cada bordel tinha um médico de plantão para recosturar a “virgem” assim que o freguês saísse. Esta mesma virgem seria desvirginada por outro tarado no dia seguinte. Todo mundo ganhava muita grana, mas devia doer pacas.
De qualquer modo, aí vai um aviso para moças e rapazes: uma jovem pode romper o hímen sem fazer amor ou pode fazer amor sem romper o hímen.
A moralidade, a justiça, a fraternidade de uma sociedade independem de uma membrana. Uma coisa, porém, é certa: a membrana está lá por algum motivo e é frágil.
Quando tinha menos de vinte anos escrevi um poeminha para uma adolescente. Era mais ou menos assim: “Não vende esta flor que nasce entre as coxas tão cedo na feira, menina! Há um jardineiro só para ela. Ele virá em silêncio e na hora certa, o reconhecerás”. Esses troços...

VOYEURISMO – O voyeur está para o exibicionista assim como o sádico está para o masoquista. Um não existe sem o outro. O exibicionista gosta de se mostrar enquanto que o voyeur, para completar sua satisfação, precisa ficar na moita, escondido, discretíssimo.

De uma certa forma a quase totalidade dos homens e uma minoria de mulheres são voyeurs.
Quem, caso tenha a oportunidade de ver uma bela mulher tirando a roupa no edifício em frente, não apagará a luz do seu apartamento para curtir a cena com calma? Se tiver um binóculo, melhor ainda.
Neste sentido inofensivo, todos os homens são voyeurs e todas as mulheres são exibicionistas: basta ir a qualquer praia e ver milhares delas de fio dental.
O verdadeiro voyeur, o profissional, porém, só obtém satisfação sexual olhando.
É capaz de se arriscar a levar um tiro, escalar um edifício inteiro, só para ver um casal trepando. Bate a sua punhetinha e vai embora sem aporrinhar ninguém.
Existem, é claro, mulheres exibicionistas que se despem com toda a calma do mundo em frente a uma janela aberta e que gozam simplesmente por saberem que no escuro, em algum lugar qualquer, escondidão, tem alguém olhando para ela.
A diferença fundamental entre o voyeur amador e o profissional é a seguinte: enquanto o amador, ao ver um casal trepando, gostaria de estar no lugar do homem, o profissional não tem nenhum interesse nisso; quer mesmo é ficar espiando.


VULVA, José Maurício (1923- ) – Chegou a jogar algum tempo no São José, de Porto Alegre, que não existe mais. Em 1947, fez parte do famoso trio de alfes, Orozimbo, Prego e Vulva.

Abandonou o esporte para fazer carreira no Itamaraty e chegou a ser segundo-secretário da nossa embaixada em Lagos, na Nigéria, onde foi visto pela última vez em 1958. 
Sua carreira, dizem, foi bastante prejudicada pelo fato de ter lábio leporino, o que dificultava a comunicação com os nativos.

Chama-se vulva, também, a parte externa da genitália feminina: grandes lábios, pequenos lábios, clitóris, abertura da uretra e a abertura da vagina (é, ali mesmo!) propriamente dita.
Voltando ao desaparecido José Maurício, no dia em que perdeu um pênalti contra o Juventude, de Caxias do Sul, em jogo decisivo, a torcida do São José cobriu ele de porradas.
O locutor da rádio Farroupilha se esbaldou: “Estão tascando o pau no Vulva”. Coisas da vida.

ABC do Fausto Wolff (Parte 78)


WAGNER, Richard Wilhelm (1813-1883) –Tem muito idiota que não gosta de Wagner porque ele seria anti-semita. Sandice, ele se interessou durante toda a sua vida apenas por duas coisas: fuder e compor.

Se não tivesse existido, provavelmente a ópera moderna não existiria. Falar em romantismo é falar neste homem de fortíssima personalidade e penetrantes olhos azuis que, para os medíocres de ontem e de hoje, tinha um grave defeito: sabia que era um gênio e queria ser reconhecido como tal.
O mundo seria bem mais pobre do que é sem o Anel dos Nibelungos, uma série de quatro óperas baseada na mitologia nórdica, para não falar de Parsifal, sua última produção, que foi produzida por três judeus.
Dava-se ao luxo de escrever seus próprios libretos, cujo valor musical não excedia o valor poético.
No seu tempo nenhum homem conseguiu cantar, representar e reger suas óperas como ele.
Aprendeu a tocar piano sozinho e aos quinze anos já havia escrito uma tragédia em versos. Antes disso, porém, já havia comido todas as empregadas que passavam pela casa de seus pais (que mexiam com música e teatro) e um sem-número de primas.
Tinha essa capacidade incomum de botar os olhos numa mulher e ter a certeza – sempre confirmada – de que ela iria para a cama com ele.
Em 1833, deixou a Universidade de Leipzig para ser maestro de pequenas companhias de ópera que viajavam pelo interior da Alemanha e da Áustria. Comeu quem quis.
Aliás, houve uma que não deu para ele: Christianne Wilhelmine Planer, atriz de uma companhia da qual ele era maestro. Perseguiu-a durante dois anos até que ela disse: “Dou, mas só casando”.
Casaram, ele com vinte e três e ela com vinte e sete anos. Amavam-se muito, mas cedo ela descobriu duas manias do marido: uma tesão que ia além dos limites da sua cama e uma capacidade fora do comum de viver atolado em dívidas.
Richard Wagner achava que dava muita beleza ao mundo e que merecia ser recompensado, pagando ou não as suas contas.
De 1839 a 1842, os dois passaram um tempo tumultuado em Paris. Lá conheceram Jessie e George Laussot. Ela inglesa, boérrima, de vinte e um anos, e ele francês, riquíssimo, amante da boa música, com quarenta anos.
George manteve Wagner financeiramente durante dois anos até descobrir que há dois anos ele comia a sua mulher. Com um revólver na mão, o francês disse ao compositor alemão: “Você é um filho da puta mal-agradecido. Tira o time antes que eu te dê um tiro”.
Antes de tirar o time, Wagner tentou convencer Jessie a fugir para a Grécia com ele. Ela, porém, havia se afeiçoado ao dinheiro do francês.
Wagner ficou putíssimo, mas continuou compondo, comendo o mulherio sempre fascinado por seu talento músico-sexual, gastando acima de suas posses e se desculpando com a mulher: “Minna, eu te amo muito. Não podes dizer que sou um mau amante. Mas tenho uma tesão gigantesca. Essas mulheres todas, porém, são paixões passageiras. Não valem nada comparadas ao nosso amor”.
“E se eu resolver sair dando por aí?”, perguntou ela.
E ele: “Por que, se faço amor contigo sempre que sentes vontade?”
Assim foram levando a vida até o dia em que Wagner conheceu Karl Wasendonck, um homem riquíssimo que, penalizado com as dívidas do compositor, sempre perseguido por credores e pela polícia, resolveu pagá-las.
Karl o apresentou a sua belíssima mulher, Mathilde. Assim que se viu sozinha com ela, ele não perdoou: “Você sabe que nós nos amamos, não é mesmo?”
Mathilde devia ter uma personalidade extraordinária, pois respondeu: “Eu te amo e você me ama, mas antes de irmos para a cama quero contar tudo ao meu marido”.
Não só contou como convenceu o marido: 1) a aceitar a situação; 2) a desistir de fuder com ela; 3) a sustentar Wagner e a sua mulher Minna e a instalá-los numa casa vizinha à deles.
Mathilde e Wagner eram extremamente discretos, mas um dia Minna descobriu uma carta dele para ela em termos francamente fodais. Ficou irritadíssima e foi tomar satisfações com Mathilde, que também ficou putérrima. Respondeu: “Em primeiro lugar, eu pensei que você soubesse, e em segundo lugar, acho uma sacanagem ele não ter te contado”. Ipso facto mandou Wagner à merda e voltou para a cama do marido, cujo moto era “quem espera sempre alcança”.
Aliás, Minna também mandou o marido à merda e foi viver a sua vida. Ocasionalmente, ele a visitava para uma fodinha, mas nunca mais voltaram a viver juntos.
Pouco antes disso tudo acontecer, porém, Wagner recebeu a visita de seu aluno predileto, o pianista Hans von Bülloweda e a mulher dele, Cósima von Büllow, filha do grande concertista e grande comedor Franz Liszt, apenas dois anos mais velho que Wagner que, na época, tinha quarenta e cinco anos.
O grande erro da vida de Büllow foi ter dito a Cósima, logo após o casamento: “Vamos passar a Iua-de-mel na casa do meu mestre, Richard Wagner”.
Lá eles foram apresentados à amante Mathilde e à mulher Minna. Cósima não sabia que seria a terceira.
Ela tinha vinte e cinco e ele quarenta e cinco anos. Wagner já havia comido a irmã mais velha de Cósima, mas levou três anos para convencê-la a trepar com ele.
Durante muito tempo ela ficou dividida entre von Büllow e Wagner, mas este era um profissional.
Cósima acabou abandonando o marido e indo viver com o amante, levando com ela as duas filhas.
Foi nesta época que alguém se apaixonou loucamente por Wagner, já considerado gênio e irresponsável. Nada menos que Luís II, da Baviera. Tinha dezoito anos, gostava de música e de tomar no rabo.
Wagner estava longe de qualquer tendência homossexual, mas o seu ego ficou inchadíssimo: “Porra, estou com quase cinquenta anos e tem um rei apaixonado por mim. Será que vou conseguir renunciar às mulheres?”
O rei idolatrava Wagner, a quem chamava de “Meu amado mestre”, e Wagner idolatrava a grana do rei, que durante um ano gastou à vontade, até que os conselheiros do Viadarca lhe informaram: “Majestade, ousamos informar que a influência do compositor Richard Wagner não é saudável nem para o senhor e nem para a Baviera”.
Ninguém sabe se Wagner introduziu a sua batuta na tuba real, mas o fato de acabar com o rei parece não tê-lo afetado.
Aproveitou o fato de Minna ter morrido e de von Büllow ter pedido o divórcio alegando infidelidade conjugal para se casar com Cósima, que acabou se revelando a mulher da sua vida. “Ele é um gênio e eu tenho que conviver com isso.” Tiveram dois filhos e viveram felizes para sempre.
Treze anos depois do casamento, Wagner já rico e famosíssimo, estava num castelo em Veneza compondo à luz de vela. Como era também um atleta, disse a uma das suas filhas: “Quer ver como seu velho pai ainda dá umas cambalhotas?” A menina disse que sim e ele deu dois saltos mortais e caiu de pé. Voltou para o piano e continuou compondo.
De madrugada, Cósima o encontrou agonizante. Dizem que ela teria ficado vinte e quatro horas abraçada ao seu cadáver e em seguida teria cortado seus longos cabelos e os colocado dentro do caixão sobre o peito do marido.
Lizst, seu sogro e outro grande fudedor, embora bem mais discreto e menos agitado, teria comentado: “Desconfio que este sacana comeu mais mulheres do que eu”.

WENDY Carlos (1939- ) – Já imaginaram, vocês estarem vendo televisão cm casa à noite e de repente aparecer uma cantora de seus quarenta e poucos anos chamada Caetana Velez? Até aí nada demais.

Mas se ela for autora da música, a música for excepcional e ela possuir uma voz bela e afinadíssima? Vocês, certamente, se perguntarão: “Mas quem é esta mulher maravilhosa? Onde esteve escondida este tempo todo?” 
E se, em seguida, Caetana Velez se tornar uma sensação com milhões de fãs no Brasil inteiro, faturando os tubos com discos onde só aparecem composições interpretadas por ela? 
Vocês compreenderiam tudo se depois de alguns anos, Caetana Velez desse uma entrevista à revista Playboy e confessasse: “Em verdade, eu já fui Caetano Veloso. Hoje, depois da operação, sou Caetana Velez”.
É claro que isso não aconteceu com Caetano Veloso, que continua aí mais caetaníssimo que nunca, amado por centenas de milhares de fãs.
Mas aconteceu com Walter Carlos, cantor, compositor e músico, cujo álbum Switched on Bach vendeu milhões de cópias no fim dos anos 60 nos Estados Unidos e na Europa.
Rico, famoso, boa-pinta, Walter não era feliz pois se sentia uma mulher, presa num corpo de homem.
Um dia, encheu o saco e começou a andar vestido de mulher.
Não deixou de fazer sucesso por isso.
Ao contrário: foi co-responsável pela trilha sonora do filme Laranja Mecânica, escrito por Anthony Burgess e dirigido por Stanley Kubrick.
Depois disso, Walter Carlos desapareceu durante alguns anos e em seu lugar surgiu Wendy Carlos, que em 1979, confessou numa entrevista à revista Playboy: “Eu já fui Walter Carlos. Hoje sou Wendy Carlos”.
O que restava de Walter ficou na mesa de operações do médico que extirpou o pênis e os testículos do famoso músico. '
P.S.: Em verdade, este verbete deveria estar na letra “C”, pois o sobrenome é Carlos, mas quando vi já era tarde. Há quem garanta que Wendy Carlos disse a amigos depois da operação: “Quando acordei da anestesia, me arrependi. Mas quando vi já era tarde”.