Por Paulo Figueiredo
Leonel de Moura Brizola cultivava uma visão prática dos
fatos, certamente em razão de sua história de vida, com origem nos estamentos
mais humildes da população brasileira. Sobre eleições dizia que tudo era muito
simples e que a vitória ou a derrota ocorria em função do candidato a ser
enfrentado.
Comparava a disputa politica a um campeonato de natação para
observar que ganhava quem nadasse melhor. Parece óbvio, mas nem tanto, uma vez
que haverá sempre quem queira encontrar explicações estranhas para os
resultados eleitorais, com objetivos ou interesses nem sempre muito claros.
Agora mesmo, nestas eleições suplementares no Amazonas, com
o processo ainda em curso, mas com a vitória de Amazonino Mendes já assegurada,
há quem diga que foi o candidato quem menos concorreu para o excelente
resultado de sua candidatura.
Percentuais foram estabelecidos, não se sabe sequer com que
critérios, e neles coube ao candidato o menor índice – 10%, como responsável
pelo sucesso da campanha.
Sem a menor cerimônia, os 90% restantes seriam devidos a
apoios recebidos de lideranças políticas e do marketing, numa proporção de 60 a
30%, respectivamente, como viabilizadores do projeto político e da conquista do
governo.
Lembro da eleição de Omar Aziz governador em 2010. Na
ocasião, houve quem sustentasse igual raciocínio, a tal ponto que Aziz fazia
questão de destacar que seus apoiadores é que tinham ganho a eleição, em tom de
indisfarçável ironia, pois sabia que os louros da vitória lhe pertenciam.
Ora, ora, como é elementar, quem ganha e quem perde é o
candidato e seu adversário, um em função da performance do outro, como
observava Brizola.
No entanto, como resulta evidente, jamais se poderá diminuir
a importância das alianças políticas, do apoio de lideranças fortes e da ação
de estrategistas e marqueteiros na edificação do conjunto da obra.
Ainda assim, embora respeitando quem pensa o contrário,
inconcebível a inversão de valores de forma tão radical, superestimando-se
determinadas participações com menosprezo à atuação do candidato.
No caso da eleição em tela, não custa notar, num e noutro
sentido, o peso significativo no concurso eleitoral dos candidatos presentes no
segundo turno, ambos com denso currículo político.
Foram governadores, prefeitos de Manaus e senadores da
República, com alentada experiência de décadas em várias eleições.
Portanto, nada mais verdadeiro do que afirmar que os dois
tiveram peso de extrema relevância no processo, na esteira da vitória ou da
derrota, sendo certo que agora colhem o que realmente plantaram ao longo dos
anos.
Amazonino Mendes, maduro e tolerante, racional, senhor de
sua própria idade, fez uma campanha serena e impecável. Conseguiu inclusive a
adesão entusiástica da juventude, tal e qual Bernie Sanders nas eleições
primárias estadunidenses, constatação que merece destaque, porquanto demonstra
que idade não é documento, pelo lado positivo ou negativo.
Mendes transmitiu segurança e experiência, num momento de
graves incertezas em relação aos destinos do Amazonas e da Nação. Em nenhum
momento caiu na armadilha de promessas vãs, irrealizáveis, nas quais ninguém
mais acredita. Dispôs-se, com base em discurso espontâneo, apenas a arrumar a
casa e a reconstruir o Estado, tarefas hercúleas.
Na outra ponta, Eduardo Braga fez o inverso, com linguagem
típica de sua personalidade, insolente e autoritária. Nem o enviesado pedido de
perdão de público no programa eleitoral no rádio e na tevê, a quem possa ter
tratado com rispidez ou grosseria, providenciado sob encomenda e a destempo,
foi capaz de convencer potenciais destinatários.
Apresentou realizações imaginárias, com números fictícios,
para dizer o mínimo, e montou a campanha estruturada num rosário de promessas
não factíveis, em tão curto espaço de tempo, reservado ao mandato-tampão.
De mais a mais, ao contrário de Amazonino, bem-sucedido ao
optar pelo nome de Bosco Saraiva, Braga elegeu mal e pagou caro ao trazer
Marcelo Ramos para companheiro de chapa, um fiasco sob todos os aspectos, um
enorme desastre político e eleitoral.
Ao comparar as escolhas que deverá fazer na hora do voto, a
propósito, usando bordão da campanha de Braga, o povo, quando informado com a
verdade sobre os candidatos e seus projetos, acerta sempre. Somente erra,
quando não recebe dados corretos e reais, em cima dos quais fará suas opções na
urna.
Reconhecendo que toda e qualquer adesão é indispensável,
diante do brocardo de que em política cisca-se pra dentro, que fique de uma vez
assentado que quem perdeu foi Braga e quem venceu foi Amazonino, com escusas
pelo truísmo que salta aos olhos.
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