Por Xico Sá
A fêmea é mesmo um jogo de adivinhação. Governar bem um
desses seres colossais passa sobretudo pela nossa capacidade de correr à frente
dos seus desejos. E realiza-los a contento.
Todas são naturalmente parecidas com aquela personagem de O piano – não falam e querem que a gente
cumpra todas as funções, todos os trabalhos de Hércules. Precisamos adivinhar o
momento certo de praticarmos sexo com alguma delicadeza. Um pouco antes disso,
todavia, não podemos nos esquecer de correr à floresta, cortar lenha e pôr
lenha à beira do fogão antes que venha a tempestade.
Homem sensível e lenhador ao mesmo tempo. Adivinhar onde
quer ser tocada e também a hora da chuva. Isso é que querem as mulheres. O que
implica o mais completo domínio de uma arte que junta conhecimento tântrico com
a meteorologia. Preocupado com os meus párias, iniciei o esboço do Pequeno manual de adivinhação e
encorajamento do macho diante do silêncio da fêmea e outros perturbadores,
do qual subtraí os verbetes que seguem:
Fêmea sacudindo o vasto cabelo loiro – Esqueça esse tal de
Marcel Proust, meu amigo, antes que ela confunda com outro personagem do mundo
da velocidade e diga que preferia o Ayrton Senna. Corra em busca do tempo
perdido e atraque no motel com cascata e teto para as estrelas mais próximo.
Fêmea sacudindo o cabelo castanho ou preto – Também quer
sexo, mas adora falar antes sobre a personalidade de peixes-com-peixes,
peixes-com-sagitário, peixes-com-virgem, numerologia, Caminho de Santiago,
Paulo Coelho, búzios, cristais, a cura pelo vento...
Fêmea em mostra de filme francês – Diga à gazela, assim bem
brega: “Se o Truffaut a tivesse conhecido, Bertrand,
o Homem que Amava as Mulheres, teria final feliz – e seria com você.”
Fêmea silenciosa no café da manhã – Espere que ela consuma
todo o líquido. Mire o fundo da xícara e arrisque uma leitura árabe da borra de
café. Só assim será possível descobrir a demanda provocada ao longo do tempo
pela sua incompetência.
Fêmea sentada na cama mirando a guarda-roupa – Ela vai
experimentar um, dois, três vestidos: quatro, cinco saias: uma dúzia de blusas
com calças tantas... Quando atingir o desespero, na tentativa do tubinho preto,
pegue-a pelo braço, corra aso shopping mais próximo e realize o seu sonho de Uma Linda Mulher.
Fêmea no teste do biquíni – Ao perceber que ela ficou
incomodada ao sentar pela primeira vez na areia daquele verão, não adianta nem
mesmo a mais derramada e lírica das declarações de amor. Mesmo que você não
saiba sequer a diferença entre estria e celulite, mesmo que prefira uma
“botterinha”, não adianta convencê-la. Nada vai adiantar, nobilíssimo macho.
Melhor presenteá-la com uma temporada de alcachofras num bucólico spa das
redondezas.
Fêmea louca para repaginar o lar – Não tem jeito. Ela quer
mudar o fogão, a cama, a mesa, os livros, os discos, os jarros... Não se
aperreia, sob pena de ter lugar trocado também – sai o respeitável marido entra
o nobre amante. A receita é entrar no embalo da nega, ajuda-la na missão.
Esqueça a cara feia, mude pelo menos uma planta, um lírio de lugar.
Fêmea em pleno desejo de um rebento – Faça você mesmo, antes
que ela torre o seu cartão de crédito em um banco de espermas qualquer, para
dizer o mínimo.
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