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sexta-feira, agosto 25, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 77)


VILLA, Pancho (1878-1923) – Bom sacana! As mulheres que ele não conseguia comer na conversa, comia na marra. Apesar disso, juntamente com Emiliano Zapata, foi o grande herói da revolução mexicana iniciada em 1910.

Corajoso, grande estrategista, foi também objetivamente cruel. Imaginem que matou mais de oitenta mulheres e crianças que viviam no seu próprio acampamento, pois elas atrasavam a marcha das tropas.

Mesmo assim, é o personagem que mais se aproxima da descrição de Robin Hood, o aventureiro que roubava dos ricos para dar aos pobres.

Infelizmente, no Brasil temos apenas Nibors Doohs, ou seja, Robins Hoods ao contrário, que roubam dos pobres para dar aos ricos.
Villa tinha 1,80m de altura, cabelos pretos ondulados, um bigode do tamanho do do Sarney e uma cara de idiota, pois, sofrendo de adenóides, não conseguia fechar os lábios. Muita gente morreu por não entender que o dono da cara de idiota não era idiota.
Não se pode acusá-lo de ter sido feminista, mas como ele mesmo dizia, “me gusta casar”. E gostava mesmo de casar. Tanto que casou setenta e cinco vezes. Nem esperava uma mulher morrer para casar com outra. Era um verdadeiro polígamo.
Um dia lhe perguntaram: “Como el general”, patente que se autoconcedeu, “consegue padres para casá-lo?” Resposta: “Es simples. Digo a el padre que sino me casa le meto una bala en la cabeza”.
Villa, que em verdade se chamava Dorotéo Arango, usava o pseudônimo porque teve que fugir de casa aos quinze anos, depois de matar o cara que tinha comido a sua irmã. Deve ter pensado: “Se comeram a minha, vou comer a dos outros”.
Certamente não era o que se poderia chamar de marido fiel, mas exigia fidelidade das suas mulheres.
Às vezes não casava, quando as mulheres já eram casadas, por exemplo.
Adelita – quem não conhece a famosa canção-símbolo da revolução mexicana? – era mulher de um dos seus soldados. Ele a surpreendeu na cama com Villa. Em vez de dar um tiro nos dois, imaginem o que fez o corno idiota? Deu um tiro nos próprios cornos.
Chateado, Villa mandou Adelita se coçar nas ostras. Sorte dela, pois ele poderia tê-la matado, uma vez que era de opinião que “las mujeres infieles deben ser muertas”
Manteve durante toda a vida uma incrível tesão por sua primeira mulher – Manuela Casas –, que morava na cidade de Parral.
De quinze em quinze dias ia visitar a cama de “la senõra”. Seus inimigos sabiam disso.
No dia 20 de julho de 1923, ano do nascimento de Stanislaw Ponte Preta, que não tem nada a ver com esta história, o pessoal que não ia com a cara do Pancho deixou-o comer Manuela durante horas.
Quando ele saiu e embarcou no seu Dodge do ano, levou treze tiros no peito para aprender a não querer ser mais macho que os outros.

VIRGINDADE – Como a dos jornalistas independentes, a classe das virgens está em plena extinção. Principalmente depois do advento da pílula.

Há na Dinamarca, em pleno centro de Copenhague, a estátua de um soldado prestes a soprar uma corneta.

Diz a lenda que ele a soprará quando passar à sua frente uma virgem com mais de quinze anos. De virgem mesmo, só a corneta, que jamais emitiu um som.
Mas vamos à virgindade propriamente dita.
Quando levada a sério, pode ser classificada como um estado de total inexperiência sexual.
Quando a serviço da hipocrisia e do falso moralismo, é a história da mocinha que deu todos os orifícios menos aquele.
A importância dada à virgindade, principalmente a feminina, varia de cultura para cultura.
Os povos antigos davam pouca importância ao assunto, embora os árabes, até hoje, considerem as não-virgens inaptas para o casamento.
Estas firulas, evidentemente, acontecem com as filhas de pais pobres que chegam a gastar um dinheirão para convencer o médico a passar um atestado afirmando que a moça perdeu a virgindade sem que houvesse contato sexual.
Eis as estimativas levadas a efeito nos Estados Unidos: em 1920 cerca de 70% da população feminina chegava virgem ao casamento.
Trinta anos depois apenas 40% era virgem e, provavelmente, todas feias.
Hoje em dia as virgens não chegam aos 10%.
E tem mais: a maioria das garotas modernosas dos grandes centros como Roma, Paris, Londres, New York, Los Angeles e – palmas para ele que ele merece – Rio de Janeiro têm vergonha de se confessarem virgens.
Com a aparição do vírus da AIDS, há uma possibilidade da virgindade voltar à moda. Melhor ser quadrada que defunta.
Pessoalmente, acho que se trata de uma questão de hábitos, costumes, tabus, com os quais não se deve interferir e que tem seu tempo de vida.
Do mesmo modo que compreendo que um casal jovem não queira se arriscar a um casamento sem antes testar sua compatibilidade sexual, também entendo que uma jovem – e até mesmo um jovem – queira manter a sua virgindade até o casamento.
O que é criminoso é querer impingir, através de novelas cretinas de televisão, os hábitos de Ipanema nas pequenas cidadezinhas do Nordeste.
Observem este primor de hipocrisia na Inglaterra vitoriana, quando era inconcebível a ideia de uma jovem não casar virgem: os javalis taradões da sociedade inglesa pagavam os tubos para as donas de puteiros lhes arranjarem donzelas para serem defloradas.
Cada bordel tinha um médico de plantão para recosturar a “virgem” assim que o freguês saísse. Esta mesma virgem seria desvirginada por outro tarado no dia seguinte. Todo mundo ganhava muita grana, mas devia doer pacas.
De qualquer modo, aí vai um aviso para moças e rapazes: uma jovem pode romper o hímen sem fazer amor ou pode fazer amor sem romper o hímen.
A moralidade, a justiça, a fraternidade de uma sociedade independem de uma membrana. Uma coisa, porém, é certa: a membrana está lá por algum motivo e é frágil.
Quando tinha menos de vinte anos escrevi um poeminha para uma adolescente. Era mais ou menos assim: “Não vende esta flor que nasce entre as coxas tão cedo na feira, menina! Há um jardineiro só para ela. Ele virá em silêncio e na hora certa, o reconhecerás”. Esses troços...

VOYEURISMO – O voyeur está para o exibicionista assim como o sádico está para o masoquista. Um não existe sem o outro. O exibicionista gosta de se mostrar enquanto que o voyeur, para completar sua satisfação, precisa ficar na moita, escondido, discretíssimo.

De uma certa forma a quase totalidade dos homens e uma minoria de mulheres são voyeurs.
Quem, caso tenha a oportunidade de ver uma bela mulher tirando a roupa no edifício em frente, não apagará a luz do seu apartamento para curtir a cena com calma? Se tiver um binóculo, melhor ainda.
Neste sentido inofensivo, todos os homens são voyeurs e todas as mulheres são exibicionistas: basta ir a qualquer praia e ver milhares delas de fio dental.
O verdadeiro voyeur, o profissional, porém, só obtém satisfação sexual olhando.
É capaz de se arriscar a levar um tiro, escalar um edifício inteiro, só para ver um casal trepando. Bate a sua punhetinha e vai embora sem aporrinhar ninguém.
Existem, é claro, mulheres exibicionistas que se despem com toda a calma do mundo em frente a uma janela aberta e que gozam simplesmente por saberem que no escuro, em algum lugar qualquer, escondidão, tem alguém olhando para ela.
A diferença fundamental entre o voyeur amador e o profissional é a seguinte: enquanto o amador, ao ver um casal trepando, gostaria de estar no lugar do homem, o profissional não tem nenhum interesse nisso; quer mesmo é ficar espiando.


VULVA, José Maurício (1923- ) – Chegou a jogar algum tempo no São José, de Porto Alegre, que não existe mais. Em 1947, fez parte do famoso trio de alfes, Orozimbo, Prego e Vulva.

Abandonou o esporte para fazer carreira no Itamaraty e chegou a ser segundo-secretário da nossa embaixada em Lagos, na Nigéria, onde foi visto pela última vez em 1958. 
Sua carreira, dizem, foi bastante prejudicada pelo fato de ter lábio leporino, o que dificultava a comunicação com os nativos.

Chama-se vulva, também, a parte externa da genitália feminina: grandes lábios, pequenos lábios, clitóris, abertura da uretra e a abertura da vagina (é, ali mesmo!) propriamente dita.
Voltando ao desaparecido José Maurício, no dia em que perdeu um pênalti contra o Juventude, de Caxias do Sul, em jogo decisivo, a torcida do São José cobriu ele de porradas.
O locutor da rádio Farroupilha se esbaldou: “Estão tascando o pau no Vulva”. Coisas da vida.

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