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segunda-feira, agosto 14, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 55)


PAU FRIO Pé-frio, todo mundo sabe o que é: é o infeliz que alguns idiotas decidem que dá azar. E acaba dando. Pau, é óbvio, é qualquer pedaço de madeira. O pau é frio quando ainda em estado de árvore e quente, a ponto de pegar fogo, quando jogado numa lareira acesa.

Existem ainda os caras de pau, facilmente reconhecíveis. Um exemplo: o presidente Sarney ao dizer “Não há corrupção no meu governo” quando deveria dizer “não há governo na minha corrupção”.
Já pau é também o mais popular dos nomes do pênis. Este verbete, porém, pretende esclarecer o leitor sobre o pau frio, e não estou falando do pau dos animais de sangue frio que, naturalmente, o têm frio.
Algumas mulheres que já foram para a cama com demônios garantem que eles têm pau frio.

Jacquema Paget, do condado de France-Comté, conhecida feiticeira do século XVII na França, garantiu: “Já peguei no pau do diabo muitas vezes e era muito frio”.
Silvine de la Plaine, que foi condenada a morrer na fogueira em 1616, declarou antes de virar churrasco: “Trepei com o diabo muitas vezes. Tinha o pau do tamanho do de um cavalo e frio como gelo. Aliás, a porra também era geladíssima”.
Se o amigo conhece alguma maluquete adoradora do diabo, basta deixar o pau no freezer durante algumas horas e depois mandar ver.

PAULO IV (1476-1559) Seu nome paisano era Gian Pietro Carafa (que quer dizer moringa). Não enchia a moringa e, aliás, era caretão pacas. Vida sexual desconhecida, estabeleceu através da inquisição um papado de terror.

Entra na enciclopédia sacanal porque em 1555 ordenou que as pinturas de Miguel Ângelo fossem removidas da Capela Sistina, por considerá-las obscenas.
A galera vaticana protestou e ele se limitou a mandar cobrir as partes pudendas das figuras que apareciam peladas, inclusive a Virgem Maria.
Encarregou um discípulo de Miguel Ângelo, Giovanni da Volteira, de executar o serviço.
Volteira passou para a posteridade com o apelido de “O Braguilheiro”. Como vocês sabem, de braguilhas o Miguel Ângelo entendia.
Interessante: dos três maiores pintores da Renascença (Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci e Rafael), os dois mais feios e atléticos gostavam de mandioca e o querubim, o mais jovem, diferente e bonitinho (Rafael) comeu todas as mulheres com exceção da mãe e avó que apareceram na sua frente.
Mas, voltando ao Paulo IV: não contente com esta sacanagem em relação ao Miguelzão, em 1559, ano da sua morte, ele começou a compilar o Index Librorum Prohibitorum, uma lista de livros que os católicos não deviam ler sob risco de parar no inferno.
Desde então esta bobagem prosperou e mais de 4 mil obras entraram na lista negra, entre elas as de Balzac, Stendhal, Dumas, Sartre, Miller (Henry)e Moravia.
Em 1962, João XXIII, um sábio, declarou que os novos autores teriam uma chance de justificar seus livros e desde 1966 o Vaticano se mancou e parou de publicar a lista.

PAZZI, Maria Madalena de (1550-1591) Personagem principal de um dos primeiros casos documentados de masoquismo pra valer. A tara da moça era se jogar sobre cacto e encher o corpinho de espinhos brabíssimos. Não contente com isso apanhava um chicote e se dava surras até sangrar. Isto apenas no café da manhã.
Após o almoço frugal, implorava às outras freiras do seu convento que a amarrassem a um poste e jogassem bolinhas de cera fervente em seu corpo nu. Apesar disso ou quem sabe? por isso mesmo foi promovida a superiora das noviças e um dia foi surpreendida pedindo a uma delas que a arrastasse pelos cabelos.
Foi canonizada em 1671 e hoje é santa.
O mal que a Igreja fez à humanidade, de Adriano (século III) até a Renascença, não encontra paralelo.
E pensar que Demócrito, quinhentos anos antes de Cristo, já discutia o átomo (que quer dizer indivisível).
Me ocorreu agora, mas não tenho saco para pesquisar: se átomo quer dizer indivisível, então uma obra publicada em tomos deve significar uma obra dividida, não é mesmo? Verifiquem.
Mas voltando à Santa Maria Madalena dei Pazzi: pazzo em italiano quer dizer maluco.
No Brasil tivemos um ministro, por sinal dos menos loucos, durante a corrupção de Sarney, que se chamava Pazzianotto. Não quer dizer nada.
Se fosse Pazzianota, seria loucura conhecida. Se fosse Pazzonoto seria louco notório.

PEARL, Cora (1836-1886) Alienadinha quase até o fim da vida. Em compensação, imprimiu um espírito de missão ao seu trabalho. Cora dava. Dava e não fazia mistério numa época em que as transas de corpo eram praticadas entre quatro paredes. Seu moto era: “Raramente a sacanagem é vista vestindo farrapos”.
Pele muito branquinha, cabelos e pentelhos muito vermelhos, ela nasceu com o nome de Emma Crouch, que teve o bom gosto de mudar em tempo.
Quando decidiu dar aos quatorze anos foi logo dando para um cara que negociava com diamantes.
Diamonds are the girl's best friends, or not?
Depois de ganhar todos os diamantes que queria e depois de aprender tudo o que necessitava, ela deu um pé no rabo do ricaço e se mandou de Londres para Paris.
Lá ela se especializou em dar festas para a aristocracia e a burguesia endinheiradas. Nesses banquetes a comida era ela.
Os taradões pagavam uma grana altíssima para vê- la tomar banho sobre uma mesa dentro de uma banheira de prata cheia de champanhe, brut, evidentemente. Depois os calhordas bebiam o champanhe com um pouco de mijo da nossa Cora.
As cortesãs francesas, irritadas com o êxito da inglesinha na terra delas, fizeram de tudo para suplantá-la. Martha de Vere, por exemplo, foi servida no Plaza toda embebida em molho de camarão, mas não obteve o mesmo sucesso.
Com o advento da can-can, Cora começou a dar exibições dessa dança em seus salões para uma plateia exclusivamente masculina. Tudo igualzinho às cancaneuses profissionais, só que não usava calcinhas.
Cansada de ser chamada de puta pelas mulheres dos maridos apaixonados por ela, decidiu se dedicar ao teatro e estreou em 1867 no papel de Cupido na peça de Offenbach, Orfeu no Inferno.
Quando a plateia vaiava a sua voz, que era péssima, ela simplesmente tirava as calcinhas (ou knikerbockers, ver verbete) e mostrava a bunda para os espectadores. Era boa de bunda.
Num desses espetáculos, quem viu o derrière da nossa Corinha foi Napoleão III. Viu e gostou. Aliás, gostou tanto que pediu exclusividade.
A exclusividade lhe foi concedida de 1867 até 1874, quando ela descobriu que já havia gasto quase todo o dinheiro dele.
Trocou-o por um milionário chamado Alexandre Duval, cujo capim (cerca de 1 milhão de libras) dava pra comprar dois modestos apartamentos na Vieira Souto. Ela conseguiu explodir esta grana em menos de dois anos.
Vendo que ele estava fudidão, ela o demitiu sem aviso prévio. Desesperado, ele tentou se matar na sala de estar da ex-amante que, putíssima e sem calças, comentou com os amigos:
– Porcalhão, sujou de sangue o meu tapete branco!
Moça sensível, como vocês vêem.
No auge da sua fama, os playboys (praga antiga, minha gente!) de Paris organizavam rifas. Quem ganhasse entregava o dinheiro da rifa para Cora na casa dela.
Mas eu disse no princípio do verbete que ela tinha sido alienadinha até quase o fim da vida.
É que durante o estado de sítio de Paris, em 1871, gastou boa parte da grana acumulada ajudando doentes e feridos.
Com a queda do II Império, a sorte de Cora mudou graças à bancarrota, o exílio ou a morte da maioria dos seus admiradores.
Retirou-se para uma casinha de campo, onde viveu modestamente graças a donativos ocasionais de velhos sócios do Jockey Club de Paris.
Morreu com cinquentinha dando esporádica e diletantemente. Foi uma revolucionária!

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