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sexta-feira, agosto 18, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 65)


RUBIROSA, Porfírio (1909-1965) – Este foi o Nataniel Jebão que deu certo. Não que fosse um mau-caráter. Simplesmente, nunca soube o que significava a palavra. Tinha as pernas tortas, era baixo, moreno e possuía um nariz levemente achatado.

Nasceu no cu do mundo, na República Dominicana, filho de um funcionário do Ministério do Exterior.

Apesar disso, foi, provavelmente, o maior gigolô deste século, comeu as mulheres que quis, nunca trabalhou e morreu milionário.

Contra ele, tinha tudo, e, a seu favor, duas coisas: sabia explorar a burrice das mulheres e era dono de um pau que obedecia ao comando e, duro, chegava a 28 centímetros.
Como não fazia porra nenhuma na sua casa, seu pai decidiu levá-lo a Paris, onde adquiriu algumas firulas de sofisticação entre os vagabundos ricos do society local.
Todos os convites para festas, coquetéis e jantares que pintavam na embaixada passavam por sua mão.
Escolhia as melhores bocas-livres, punha o seu único smoking e ia para a festa.
Voltou para a República Dominicana falando inglês com sotaque francês e jogando pólo.
Numa festinha onde conseguiu se introduzir, namorou a filha do ditador, Flor de Oro Trujillo.
Claro, em quem mais ele pousaria as asas numa terra de mortos de fome como a República Dominicana, senão nela?

Ele sabia que qualquer mulher – a mais feia do mundo – acreditará em qualquer galanteio.
Dois dias depois havia comido a maluquete de dezessete anos que informou ao pai sua intenção de casar com Porfírio.
O velho Rafael, mariscal benefactor, em princípio pensou em mandar castrar o sacana, mas, graças às súplicas da filha, acabou concordando com o casamento. Decretou feriado nacional e para não se aporrinhar com o genro, o despachou para a embaixada em Berlim.
Na Alemanha comeu quem quis e se tornou amigo de cronistas sociais e todo o pessoal do jet set.

Cansada de ser corneada, Flor de Oro começou a botar cornos em Porfírio que, porém, elegantemente, não reclamou. Era um sujeito fino.
Os dois se separaram, mas o velho ditador, em vez de castrar o ex-genro, o manteve na carreira: “É um filho da puta, um mentiroso e o sujeito mais preguiçoso do mundo, mas graças a ele a República Dominicana aparece na imprensa internacional”.
É claro que Porfírio, durante os cinco anos que viveu com Flor de Oro, se encarregou de passar muito do dinheiro dela para os seus bolsos. Sua explicação: “Afinal, era grana que o velho havia roubado dos camponeses do meu país”.
A esta altura, já havia feito a fama e deitado na cama, ou feito a cama e deitado na fama. A verdade é que o mulherio vinha aos lotes da América e das principais cidades europeias para provar o tremoço do moço. E não saíam arrependidas, pois o biltre estava sempre de prontidão.
Um dia, a famosa atriz francesa Danielle Darrieux, que era linda mas não devia ser exatamente um cérebro, pintou na sua cama e se apaixonou por ele.
Quando os alemães entraram em Paris, uma das primeiras providências que tomaram foi enjaular o gigolô latino-americano. Pois ele não havia comido algumas das melhores mulheres da Alemanha?
Como amor de pica é amor que fica, Danielle deu para todo o comando militar alemão em Paris até conseguir que soltassem o nosso Porfírio, que acabou casando com ela.
Quando, porém, em 45, a atriz levou sua mãe para morar com eles, ele pediu divórcio: “Morar com velha não dá pé”. Deve ter pensado: “Perdi muito tempo com a Danielle; é hora de tratar de negócios”.
Conseguiu se aproximar de nada menos que a herdeira do rei do tabaco, Dóris Duke, a mulher mais rica do mundo. Não era bonita e tinha tanta inteligência quanto uma lata de sardinha vazia, mas o marmotão sempre duro do Rubi não se impressionava com detalhes.
O casamento durou treze meses, ao fim dos quais ele saiu com um milhão de dólares. Achou pouco e partiu para cima de outra herdeira, Barbara Hutton, que já havia se divorciado de quatro maridos, entre eles Cary Grant, que, boboca, saiu sem levar um tusta.
Este casamento de Rubi durou menos de meio ano e custou à milionária, no barato, um milhão de dólares por mês.
Entre uma comida e outra se meteu com uma grande galinha de Hollywood, a atriz Zsa-Zsa Gabor, cuja especialidade era casar com homens burros e ricos.
Cansada de homens burros e ricos (mas já bastante rica), ela decidiu casar com George Sanders, um ator requintado, inteligente e sofisticado. Era demais para a Zsa-Zsa, que quase não entendia nada do que Sanders dizia.
Partiu para Porfírio, cuja linguagem entendia perfeitamente. Afinal, eram colegas.
Sanders encheu o saco e uma noite parou em frente à casa onde Zsa-Zsa e Porfírio fornicavam e atirou um tijolo embrulhado em papel-presente que atravessou a vidraça. Depois subiu ao quarto acompanhado de dois detetives e disse para a mulher: “Feliz Natal, meu bem!”
Sanders se suicidaria muitos anos depois, deixando um bilhete: “Esta vida é muito chata”.
Rubirosa casou pela última vez em 57 com uma atrizinha francesa chamada Odille Rodin.
Em 65, deixou Odille no apartamento e saiu para dar uma volta de carro: álcool mais automóvel a 120 por hora igual árvore. Foi como o Rubi morreu.
Odille, com todos os seus milhões, desistiu da carreira cinematográfica e se transferiu para o Rio de Janeiro onde desempenha intensa atividade sexual até hoje.

RUFIÃO – Alguns anos atrás fui visitar o haras do meu velho amigo Raul Bailly, em Teresópolis. Mostrou-me vários cavalos e éguas puros-sangues, ganhadores de muitas corridas na Gávea e em Cidade Jardim.

Havia um cavalo isolado num canto e perguntei que bicho era aquele.

E o Raul: “Este é o rufião”.

“E corre bem?”, perguntei.

“Rufião não corre”, respondeu o Raul. “Ele é o cavalo que excita as éguas. Quando elas estão no ponto, expulsamos o rufião e o garanhão de raça monta nelas. Facilita o processo de reprodução e não cansa o garanhão”.
Destino triste, não é mesmo? Mas poderia ser pior.

Sério, vida pior que a do rufião (que, depois de fazer perfumarias com dezenas de éguas que vão ser comidas pelo garanhão, sai feito louco de pau duro) é a do pobre do cavalariço que bate uma punheta nele, no fim de um dia de trabalho.

SADE, Donatien Alphonse François, Marquês de (1740-1814) – Muito pouco se sabe sobre a vida deste conde que insistia em ser chamado de marquês. Promovia orgias nas quais sodomizava mulheres (aparentemente não entregava o anel) que gostava de chicotear.

Vai daí que algum idiota qualquer decidiu criar a palavra sadismo para classificar aqueles que obtêm prazer sexual através da dor dos parceiros.
Pessoalmente, porém, creio que o sádico é invenção do masoquista. Por exemplo: você leva uma jovem para a sua cama. Na hora de fuder, ela, que foi para a cama voluntariamente, fecha as pernas, dificulta a penetração, faz cu doce.

Você lhe dá um leve tapinha na bunda ou no rosto e verifica que ela começa a suspirar e a gemer mais alto.

Você bate um pouco mais forte, ela começa a gemer mais alto ainda e a pedir mais.

Resultado: a masoquista inventou o sádico que, em verdade, se contentaria em trepar sem porradas.
Há masoquistas exagerados, entretanto, que levam sua culpa subconsciente a alturas tamanhas que só se contentam com a morte.
O verdadeiro sádico é o estuprador, o torturador que tem prazer em fazer mal e que de um modo geral é impotente.
Não é o que acontecia com Donatien. Era baixinho e boa-pinta. Nasceu de família aristocrata, numa época de total decadência.
A roupa preferida da classe dominante era o deboche e a hipocrisia. Os pobres cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais alienados, procurando ignorar o tarugo que a revolução estava preparando para eles.
Sade teve uma educação exemplar: Voltaire, Rousseau, Diderot. Aos quatorze anos entrou para o Exército, onde se distinguiu pela bravura e pelo criticismo.
Embora não fosse viado, saiu da vida castrense com a mesma filosofia que Camus pregou em Calígula: “Se a vida é um absurdo porque acaba na morte, então vou viver o absurdo até as últimas consequências”.
Para vocês imaginarem como era obtusa a burguesia da época, Sade, que era um aristocrata decadente, recebeu de George Pelagie de Montreill, um burguês riquíssimo, nada menos que o equivalente a meio milhão de dólares para se casar com a filha dele, René, e assim introduzir a família na nobreza.
Rico, inteligente, entediado, o modo que Sade encontrou para demonstrar seu desprezo pela sociedade foi fudendo.
Sua mulher jamais reclamou dos inúmeros casos que começou a ter logo após o casamento.
Implicava com a religião ou com o mau uso que se fazia da religião, uma vez que todos iam à igreja e se diziam cristãos, embora praticassem, como no Brasil de hoje, todas as patifarias de ordem social, política, econômica e sexual.
Logo chegou à conclusão de que um deus que permitia tais coisas não merecia respeito.
Sua primeira prisão ocorreu aos vinte e três anos, quando tentou convencer uma prostituta – Jeanne Testard – a quebrar um crucifixo, a chicoteá-lo (olhem o lado masoquista, muito antes do próprio Masoch ter nascido!) e a ser chicoteada por ele.
Passou apenas quinze dias na cadeia, pois a família do sogro era muito influente.
Os puteiros de Paris, por ordem da polícia, não permitiram mais a sua entrada, mas ele se arranjava com amadoras.
Um dia conquistou uma viúva – Rose Keller – que levou para a cama e a chicoteou o quanto quis. Ela teria conseguido escapar e aproveitado para denunciá-lo.
Foi preso novamente e só foi libertado porque engravidou a mulher, o que lhe permitiu o livramento condicional. Mas não se emendou.
Mudou-se para um castelo de sua propriedade onde, com a ajuda da mulher, da cunhada e da própria sogra, encenou rituais sexuais de sexo oral, carnal e chicotadas com as criadas e as camponesas locais.
Viajou para Marselha com um criado, que saiu em campo e encontrou quatro prostitutas que entregaram os respectivos anéis e quase enlouqueceram, pois ele lhes teria dado um afrodisíaco (ver verbete) chamado mosca espanhola.
O escândalo conseguiu irritar sua sogra e Sade, que havia fugido e vivia clandestino, foi condenado à morte.
Reapareceu em 1774, com a subida ao poder de Luís XVI, que o anistiou.
Instalou-se com a mulher em outro castelo de sua propriedade e juntos faziam surubas incríveis com meninas entre quinze e dezoito anos.
Tentaram prendê-lo, mas a sogra já havia feito as pazes com ele e subornou um monge para dizer que a disciplina que se aplicava às jovens criadas no castelo de Sade era a mesma que se aplicava nos mais respeitáveis conventos.
Em 1777, brigou novamente com a sogra e foi preso. Na cadeia descobriu a masturbação e a literatura. Quando não estava escrevendo (Julieta, Filosofia de Alcova, 120 Dias de Sodoma, etc.) estava batendo punheta. É bom dizer que sua literatura filosófica, cheia de eufemismos, é de péssima qualidade.
Colocado no hospício de Charenton, não dava conta das mulheres que vinham dar para ele.
Finalmente, foi libertado pela Revolução Francesa e transformou-se no cidadão Sade, que combatia a promiscuidade da aristocracia.
Chegou a juiz, mas negou-se a condenar a sogra à morte, o que fez com que fosse considerado moderado e – quase, quase – levado à guilhotina.
Com o fim da revolução resolveu ser autor teatral, mas acabou no hospício de novo porque sua peça Justine satirizava Napoleão e sua mulher Josephine.
Morreu em Charenton, onde durante anos dirigiu os loucos, que interpretavam peças de sua autoria.
Sade foi um debochado, gostava de fuder, mas o fato de nunca ter matado ninguém e das mulheres o amarem apesar dos supostos maus-tratos me faz pensar que foi, principalmente, um opositor do poder que teve a coragem de fazer às claras o que todo mundo fazia às escondidas.
Certamente não era um sádico. Depois de um reestudo, acabará reemergindo para a História como herói.

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