Por Deonísio da Silva
“Quem não fez hoje, amanhã também não faz, um dia é muito”,
diz o empresário ao poeta no Fausto,
obra dramática do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, referência das
letras alemãs e da Literatura Universal.
Mas quando começar? No princípio. E o princípio é quando?
Estas dúvidas não impedem a certeza de que tudo começa com o Verbo, não com a
verba.
Faz dois milênios que a frase “no princípio era o Verbo”
tomou conta do mundo. Escrita originalmente em grego, chegou ao português
depois de uma escala no latim, língua igualmente rica de significados e precisa
em suas definições, mas incapaz de expressar numa palavra só o complexo
semântico do “lógos“, categoria filosófica de raro vigor.
Até o grandioso Goethe, depois de inseri-la no seu Fausto, fez com que o personagem
duvidasse de que a palavra alemã “Wort” seria boa tradução para o Grego
“lógos”, muito mais densa e sutil do que o Latim “verbum”, conforme assinalou
em indispensável nota de pé de página o professor português Frederico Lourenço
ao traduzir o Evangelho Segundo João.
Para muitos parlamentares brasileiros, entretanto, não
existe verbo ou pelo menos eles não lhe dão importância nenhuma. Na verdade,
estão interessados na verba. E também para seus adeptos ou deles dependentes em
regime de condomínio, a falta de verba, não o verbo, tornou-se desculpa, mas
evidentemente não argumento, para tudo.
Só para nossos parlamentares é que a primeira preocupação é
a verba. E a segunda é o foro privilegiado, em razão do modo como operam a
primeira. Afinal, aprenderam o que acontece aos passarinhos que comem pedra.
Precisamos restaurar o costume de dar às coisas os nomes que
as coisas têm. Isto é, privilegiar o verbo.
Não há verba que resolva a erva daninha que hoje grassa como praga nos
pastos da República, que é a incapacidade de usar o verbo. Nem a conclusão do
curso superior, dependendo onde ele fez o curso, dá a garantia de que o
brasileiro tenha aprendido ao escrever. Quanto ao ensino médio, faz tempo que
não ensina nem a ler nem a escrever.
Isto é, nossa próxima bandeira educacional será restaurar os
poderes do verbo e chegar pelo menos ao trívio, dominando a lógica, a gramática
e a retórica, para chegar pelo menos à Idade Média.
Sem o uso adequado e competente do verbo, iremos de volta às
cavernas. Podemos nos comunicar com emoticons
e grunhidos, mas escrever obras como o Fausto
ou a Bíblia, não!
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