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sexta-feira, agosto 18, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 64)


REVISTAS de Sacanagem – Muito antes de Petrônio Arbitrius escrever o Satiricon já havia muita literatura erótico-pornográfíca. Revistas de sacanagem, mesmo, só começaram a aparecer clandestinamente no mundo (e no Brasil de Dom Pedro II) no século XIX.

A mais antiga talvez tenha sido a Rambler's Magazine, de Londres, que saía uma vez por mês com subtítulos como: “Os anais da galanteria, do prazer e bom-tom para entreter o mundo sofisticado e para presentear o homem com o mais delicioso banquete de bacanália”. Devia ser muito chato.
Foi, porém, apenas em 1930 que a revista americana Esquire apresentou as primeiras pin-ups, verdadeiras puritanas no trajar, se comparadas ao mulherio que Haffner, editor da Playboy, apresentaria nos anos 50 nos Estados Unidos, para ser copiado em seguida na Inglaterra com revistas como Mayfair, Men Only e Penthouse.
É claro que antes disso havia revistas de mulheres peladas, principalmente na França, que, porém, se disfarçavam subtítulos como “Sol e Saúde”, “Vida Naturista”, etc. E pensar que tinha muito nego que batia punheta vendo fotos de um bando de mulheres e homens em pêlo jogando vôlei na praia.
No Brasil, lembro que prestei minhas primeiras homenagens a Onan (ver verbete) folheando as páginas da revista Copacabana, onde Elvira Pagã e Luz del Fuego apareciam nuinhas lá pelo meio dos anos 40.

Ninguém, porém, ousava mostrar as moças de pentelhos. Eram cuidadosamente raspados antes das fotos ou retocados a posteriori.
Em 1970, Bob Guccioni, editor da Penthouse, resolveu pagar para ver e publicou a foto de uma moça acompanhada de seus pentelhos. Não deu em nada e pouco depois – em verdade, no Brasil, só em 1983, através das revistas Playboy e Status – os perigosos pentelhos viraram lugar-comum.
É verdade que antes de Gueccioni publicar a foto, a pornografia já havia sido liberada em toda a Escandinávia, Alemanha e Holanda, sem que ninguém enlouquecesse.
No meio dos anos 70, surgiram nos Estados Unidos as primeiras revistas para mulheres, onde apareciam nus masculinos frontais, ou seja, aqueles sujeitos com caras de idiotas da meia-bomba.

As primeiras revistas esgotaram rapidamente.

Rapidamente também os editores descobriram que eram mais consumidas por homens que gostavam de ver outros homens pelados que por mulheres. Eram Viva e Playgirl.
No Brasil, quando apareceram as primeiras revistinhas de sacanagem, o sucesso foi enorme.

Com a queda recorde mundial do poder aquisitivo do cruzado, elas encalharam.

Estão aos milhares nas bancas de jornais, sem que ninguém as compre.
E pensar que, no princípio dos anos 80, a voz da burguesia, via Globo e JB, acusavam as revistas de sacanagem por tudo de ruim – da corrupção policial às atuações do Botafogo – que acontecia no país. Não eram.

RICARDO I, o Coração de Leão (1157-1199) – Rei da Inglaterra, filho de Henrique II e de Leonor de Aquitânia. Gostava de briga. Pouco mais que adolescente, tentou tirar o trono do pai. Acabou perdendo a briga e pediu penico.

Seu pai, ao morrer, o amaldiçoou, o que não impediu que pegasse a coroa, também desejada por seus irmãos Felipe e João sem Terra. Durante os doze anos do seu reinado, passou apenas seis meses fora de guerras. Era bom e nunca perdeu um torneio.
Andou peleando na França, na Itália, e não fosse o cagaço de seus aliados franceses e austríacos, teria liberado Jerusalém dos sarracenos. Acabou fazendo um acordo com o sultão Saladim, que embora não corresse da raia acabou reconhecendo a coragem de Ricardo.
Seu nome se confunde com a lenda de Robin Hood, de quem teria sido grande amigo. No cerco ao castelo de Limousin, na França, acabou morto por uma flechada de besta.
Não, a flecha não foi atirada por nenhum cronista social, vereador ou animador de auditório.
Besta é o arco curto, montado como se fosse um revólver, e que voava a uma velocidade espantosa, capaz de furar armaduras.
O papa Inocente II classificou esta arma como “odiosa a Deus e imprópria para cristãos”. Era inocente mesmo.
Valente, corajoso, leal, casado com Berengária, filha do rei Sancho VI, de Castela, jamais reclamou dos seus inúmeros ferimentos. Se irritou apenas uma vez, em 1191, quando ao chegar em Marselha, com destino à Arábia, descobriu que os soldados que havia mandado na frente haviam gasto todos os fundos da campanha com prostitutas.
Berengária, como o próprio nome indica, era uma das mulheres mais feias da Europa, o que também não preocupava o coração de leão de Ricardo que, entre uma batalha e outra, gostava mesmo era de sentar num armanho.
E ai daquele que se recusasse a agasalhar o armanho entre as suas nádegas leoninas e reais!

RICHARDS, Renée (1935- ) Até 1972, era um bem-sucedido oftalmologista de New York, cujo hobby era jogar tênis. Boa pinta, 1,85m, além de bom médico era um tenista, senão excelente, dos melhores. Em 1972 desapareceu de circulação. Onde foi o doutor? Ninguém sabe, ninguém viu.
Mais ou menos nesta época começou a fazer enorme sucesso nas quadras a tenista Renée Richards, que acabou ganhando uma grana altíssima ao vencer o torneio feminino de La Jolla, na Califórnia.
Um repórter – ainda existem repórteres em alguns lugares do mundo – resolveu levantar a vida da Renée e descobriu que até o ano anterior ela havia sido o Dr. Richard Raskind, de New York.
Quando tentou entrar em outro torneio feminino, vinte e cinco competidoras saltaram fora e as quatro ou cinco que permaneceram foram obrigadas a fazer testes hormonais.
É que o braço de Renée era muito forte e se uma bola jogada por ela, em vez de bater na raquete batesse na cara de uma jogadora ela certamente cairia desmaiada, para dizer pouco.
Renée entrou com um processo judicial e durante o julgamento tirou as calcinhas e provou ao júri que onde deveria haver um pênis havia uma xota. E o juiz. decretou: “Evidência médica indica que o réu é agora uma mulher”.
É que, em 1972, o Dr. Richard Raskind, cansado de não ser campeão feminino, mandou cortar o cheio de varizes e passou a tomar hormônio feminino.
Em pouco tempo perdeu os pêlos, acabou ganhando uma bundinha razoável e um belo par de seios. Claro, tornou-se campeã feminina. Hoje está retirada das quadras e cuida apenas do marido.
Pessoalmente, creio que o gesto de Richard deveria servir de exemplo aos tenistas brasileiros que tentam furiosamente um lugar entre os trinta primeiros do ranking mundial, sem sucesso. Uma operaçãozinha à-toa poderia fazer deles campeãs.
Ao contrário do que dizia o barão de Coubertin, o importante no esporte é vencer, com ou sem pau.

ROMANA Caridade – Eufemismo poético e simpático para o ato de dar de mamar a um adulto. Em 1968, pouco antes de embarcar para o Vietnam, fui visitar as ruínas de Pompeia, a alguns minutos de Nápoles. Fiquei impressionado com um mural que mostrava uma bela jovem dando de mamar a um velho.

Alguns meses mais tarde – já na Ásia, vendo os soldados americanos dopados irem para o front móvel que podia ser a trincheira ou um restaurante elegante no centro de Saigon – me lembrei do mural.
Na hora pensei que tudo não passara de alucinação, pois a moça que tinha me acompanhado a Pompeia havia posto LSD no meu chope, em Capri.
Um ano mais tarde, voltei às ruínas e lá estava o velho mamando na garotinha. Procurei me informar e descobri que se tratava de uma lenda recontada por vários autores, entre eles Plínio, não sei se o velho ou o moço, pois ambos foram velhos e moços.
Diz a lenda que um homem foi feito prisioneiro e condenado a morrer de fome, como acontece com a grande maioria das crianças brasileiras que, porém, morrem de fome em liberdade. Afinal, somos uma democracia.
Sua filha, que havia acabado de dar à luz (é preciso recuperar urgentemente o verbo parir ou criar o verbo luzar), ia visitá-lo secretamente e o alimentava com o seu leite.
No livro White Hotel, de A.D. Thomas, que chegou a ser best-seller na Inglaterra uns seis anos atrás, o autor bebe dos seios de Freud. Para ser mais preciso: ele apanha uma maluquete paciente de Freud e dá um tratamento literário moderninho à tesão solitária da moça.
No livro (que é o diário da jovem), ela confessa que, no restaurante de um hotel, deu de mamar não só ao seu amante – o filho de Freud – como a um padre já idoso e a um cozinheiro gordo que, porém, preferiu ordenhá-la e beber o leite num copo.
Guy de Maupassant também relata o caso de um sujeito que bebia o leite da mulher amada (Liebfraumilch) num conto chamado Idylle.
Finalmente, quem leu a melhor coisa que Steinbeck já escreveu, As Vinhas da Ira, deve se lembrar de episódio semelhante.
Em matéria de leite, confesso que prefiro leite de mulher: já vem com açúcar.
A mãe da minha filha mais nova sempre deixava eu beber um pouco depois que a menina estava de estômago cheio. Bons tempos!

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