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segunda-feira, agosto 07, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 37)


JEFFRIES, Mary (1845-1885) – Putona. Mas profissional, séria, muita dignidade. Nem um pouco parecida com estas brasileiras que casam com milionários barrigudinhos e depois aparecem dando aquele sorriso meio morto nas crônicas sociais, promovendo chás beneficentes para crianças hidrocefálicas e votando em partidos como o PMDB, PFL, UDR, etc.

Vitoriana, boa pacas, ganhou o que tinha direito dando o que tinha direito. Não deu lucro pra cafifa algum.

Botou as economias debaixo do colchão (morava na Inglaterra, onde ainda em 1987 o pessoal fez uma revolução porque houve um aumento de 1% na inflação anual) e quando ele já estava bem alto comprou um puteiro ou rendez-vous, como a gente dizia no Sul no meu tempo de guri.

Depois comprou outro e mais outro e mais outro até se tornar a cafetina mais conhecida de Londres.

Pra vocês terem uma idéia, ela tinha quatro em Chelsea, seis em Windmill Street, quatro em Queen's Street, um em Gray's Inn Road e um último chamado Rose Cottage, em Hampstead.

Negócio de alta classe. Penicos de porcelana inglesa, naturalmente. Reputação internacional. O príncipe de Gales (ver verbete de Eduardo VII) era freguês de caderno.

Mary tinha clientes regulares. Em sua maioria oficiais das chamadas armas de elite: filhinhos-de-papai dispostos a morrer pela rainha Vitória, aparentemente.

Um dia Mary deu um berro: “Não sei o que faço! Desde que a Companhia de Guardas foi para o Egito o negócio piorou muito!”

Processada em 1883 e multada em 2 mil libras – creiam, incréus, em qualquer época, um bom carvão – pagou sem bufar e disse aos jornalistas ao deixar a Corte: “Ninguém pode me fazer nada, rapazes! Não tem um só homem importante neste império que eu já não tenha visto de calças na mão”.

O sucesso de Mary era devido principalmente a uma descoberta que fez quando ainda rodava bolsinha nas ruas: a maioria dos ingleses gosta de apanhar de mulher.

Há, é claro, aqueles que gostam de bater em mulher, mas o primeiro caso é muito mais comum. Os sacanas eram masoquistas e não sabiam. É que o termo ainda não havia sido cunhado.

Nobres e banqueiros, homens de negócios e generais, industriais e tudo o que pode ser englobado em volta do epíteto “ladrão” aparecia por lá.

Gostavam que o mulherio fizesse coco e pipi na cara deles e depois os amarrassem com grossas correntes pelos respectivos sacos.

Já expliquei minha teoria sobre esses caras, mas não custa nada repetir: são uns sacanas que roubam tanto dos pobres durante o dia que, durante a noite, para que as herínias do remorso os deixem em paz, gostam de fingir que são toaletes humanas.

Resolvem o caso sexual deles, gozam pacas com a cara cheia de merda e saem com a consciência tranquila, prontos para roubar mais no dia seguinte.

Na casa de Hampstead, os clientes pagavam para ser humilhados, ofendidos e flagelados.

Na casa de Gray's Inn Road outros sacanas pagavam para bater numas mulheres que Mary arranjava e que gostavam de ser bolacheadas.

Aí, no caso das mulheres, a situação era diferente: vítimas de preconceitos sexuais e de uma educação extremamente puritana, consideravam-se miseráveis pecadoras porque sentiam vontade de fuder.

Daí o fato de levarem umas chibatadas antes, durante e depois da francis ford cópula, era uma espécie de penitência. “Sou uma puta, dei aos montes, mas, viu, Meu Deus, como apanhei?”

Os irmãos Goncourt, que já escreviam mal pacas naquela época e nem por isso deixaram de virar prêmio literário na França, anos depois, também eram fregueses de Maria.

Não se sabe, porém, se davam ou apanhavam. Dei uma olhada na cara deles e pelo menos um parecia manter um apelo prisioneiro no olhar: “Faz pipi em mim, s'il vous plait!”

JOÃO XXIII (? - 1419) – Ainda sou capaz de fazer um verbete especial só para os papas, mas João XXIII merece estar isolado porque, além de incestuoso, era adúltero, homicida e ateu.

Quando ainda era bispo, todo mundo sabia que a mulher do seu irmão era sua amante.

O escândalo se tornou grande demais, seus superiores o promoveram a cardeal e o mandaram para Bolonha. Lá, então, ele comeu mais de duzentas mulheres, virgens, casadas e viúvas.
Bolonha está para o fellatio assim como Pelotas está para a viadagem. Até hoje as mulheres de Bolonha são consideradas as melhores pompinaras da Itália. Imaginem como João XXIII deve ter se divertido.
Para ver se ele tomava jeito definitivamente, os cardeais acabaram por elegê-lo papa. Aí ele deitou e rolou tanto que acabou sendo deposto em 1415.
O nome dele era Baldassare Cossa, de Nápoles, nascido em (?) e morto em 1419. Sua tumba, aliás, está no batistério de Florença.
Não deve ser confundido com Angelo Giuseppe Roncalli (1881-1963), o outro João XXIII, que foi um dos sumo pontífices mais queridos da história da Igreja.
Acabou com a tradição do Vaticano dar títulos nobiliárquicos.
Filho de uma família pobre, espantou-se quando seu irmão veio lhe pedir para ser feito duque: “Mas, rapaz, não basta ser irmão do papa?”

JOYCE, James (1882-1941) – Porrista, feio, quase cego, nasceu em Dublin o homem que é considerado o maior mestre da língua inglesa desde John Milton. É também acusado pela canalha puritana como o maior provedor de literatura de salão de mijar que o mundo já conheceu.

Entre um porre e outro ele acabou conseguindo o seu diploma de segunda classe como bacharel em artes em 1902.
Tentou estudar medicina em Paris, mas gastou logo todo dinheiro que tinha e teve que voltar para Dublin em 1903.
O mundo deixou de ter mais um médico medíocre (cegueta do jeito que era, já imaginaram ele operando o saco de alguém?) para ganhar um escritor único.
Neste ano ele escreveu uma série de contos retratando a marginália da sua cidade que, posteriormente, seriam reunidos em Os Dublinenses.
Porrista ou não-porrista, Joyce teve o bom senso de não se casar com uma intelectual que passaria a vida inteira enchendo o seu saco com perguntas do tipo “Por que é que você não pára de beber?”; ou “Por que é que você não arruma uma profissão decente?”
Em 1904, conheceu Nora Barnaele, a filha de um padeiro desgranado e a convenceu a fugir com ele para Triste, que então pertencia ao Império Austro-húngaro.
Lá, além de fazerem dois filhos, comeram o pão que o diabo – dizem – amassa apenas para artistas phodidos! Apesar disso, enquanto ensinava inglês, ele escrevia o Retrato do Artista Quando Jovem.
Em 1909, deu um pulo a Dublin para ver se os editores locais compravam o seu romance. Disseram para ele parar de sacanagem e escrever livros que pudessem entrar em casas de família.
Onze meses depois da Primeira Grande Guerra estourar, Joyce sentiu que estava na hora de tirar o anel de couro da seringa e viajou com a família para Zurique, na Suíça. Lá ele começou a trabalhar em Ulysses, a sua obra-prima.
Tinha tanta certeza de que era um gênio que (como o meu querido amigo, o falecido Ronald de Chevalier) convenceu disso homens, mulheres, crianças e cachorros de todos os botequins que frequentou na Itália, França e Suíça.
Durante sete anos ele e sua família viveram exclusivamente à custa de amigos, entre eles a riquíssima Harriet Shaw Weaver, que ele ter comido e que financiou a edição de Retrato do Artista Quando Jovem.
A grana que caía em suas mãos recaía imediatamente em forma de cana em seu estômago.
Ninguém havia lido o Ulysses, mas todos (todos os que interessavam, é claro!) já haviam ouvido falar da obra-prima que, editada em Paris, se transformou num sucesso imediato.
Baseado livremente na Odisseia (é, de Homero, sim, minha senhora!) narra um dia na vida de três dublinenses.
Embora louvada por seu humor e pela estrutura dos seus personagens, o cabuloso paralelismo entre consciente e inconsciente, realidade e fantasia, além do uso (tremenda torrefação sacal) de símbolos fazem com que a leitura seja muito difícil para seres humanos comuns e mortais como a maioria de vocês.
Na tradução para o português, meu enciclopédico Antônio Houaiss parece ter achado o original muito simples e resolveu complicá-lo ainda um pouco mais.
Depois disso Joyce trabalhou em Finnegans Wake onde, para a coisa não ficar muito linear, usa, além de símbolos, várias línguas e dialetos vivos, mortos e moribundos de fogo.

Perto de Finnegans Wake, o Ulysses é pouco mais que um pé de laranja-lima. Digamos, um pé de laranja de umbigo.
Pouco antes dos alemães invadirem Paris com sua sutileza característica, Joyce pegou seus panos e se mandou para Zurique, onde foi assassinado por uma úlcera perfurada. Perfurada pelo álcool é claro.
E a sacanagem? Já ia esquecendo. Seus livros foram proibidos nos Estados Unidos e, segundo Colin Wilson (um jovem que já foi literalmente um outsider e que hoje não pode estar mais amarrado no sistema), é um compêndio de depravação sexual.
Não entendo por quê. Só se for porque Leon Bloom, o personagem central, gosta de beijar a bunda da mulher e, como Joyce, andava com as calcinhas usadas dela dentro do bolso do paletó.
Grande demais, muito pesado e desconfortável para quem pretende apenas descabelar o palhaço.

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