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quinta-feira, agosto 17, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 56)


PEIXE – Tirésias – que não tem nada a ver com o peixe – não passava de um cidadão tebano dos mais comuns. Um dia, porém, decidiu matar um casal de serpentes. Pra que que o idiota foi fazer uma coisa dessas? Imediatamente os deuses o transformaram em mulher.

Algum tempo depois Zeus e Hera, para trocarem de tédio (os imortais se chateiam pacas) começaram a discutir quem gozava mais na hora de trepar, o homem ou a mulher.
Como não chegassem a conclusão alguma, mandaram chamar Tirésias, que na ocasião era mulher mas já havia sido homem, e lhe perguntaram: “Como é que é, Tira, você gozava mais quando era homem ou agora que é mulher?”
E ela: “Mulher goza muito mais”.
Hera, que era de opinião contrária, cegou-o na hora. Zeus, talvez por achar que ceguinha ela não arranjaria nem mesmo pro café, a transformou novamente em homem e lhe deu o dom da profecia.
Depois disso ele ficou célebre e fez figuração em várias tragédias, como em Édipo-Rei de Sófocles e nas Bacantes, de Eurípedes.
E o peixe? Pois é: tem um peixinho que leva uma vida muito melhor que os outros, pois ninguém o aporrinha. Deveria chamar-se Tirésias, mas chama-se “Limpador”.
É que o sacana tem o hábito de comer parasitas que se grudam no corpo dos peixes maiores. Como precisam dele para limpá-los, os peixões não o comem.
O limpador anda em bandos: um macho, que é o líder, e várias fêmeas.
Quando o macho morre, a fêmea principal muda de sexo e toma o seu lugar até morrer e ser substituída por outra que também vira macho.
Caso único de hermafroditismo (que funciona) no reino animal. Fim da aula dedicada às feministas.

PELOTAS – Cidade do sudeste do Rio Grande do Sul à margem esquerda do rio São Gonçalo, que liga a Lagoa Mirim à Lagoa dos Patos. Foi fundada em 1780 com o nome de São Francisco de Paula e rebatizada como Pelotas em 1830, quando virou cidade. Por que Pelotas, que em espanhol quer dizer culhões (“No me rompas las pelotas”), eu não sei.
Hoje é a terceira cidade do estado em população (maiores só Porto Alegre e Esteio), o principal porto para transporte de gado, além de ser o maior produtor de charque do Brasil.
Dizem, mas não provam, que é a cidade brasileira que tem o maior número de viados por metro quadrado.
Sacanagem, pois nos últimos dezoito anos, o município dobrou a população, que deve andar por volta dos 300 mil.
A fama do pelotense jogar água fora da bacia é antiga e se deve à rivalidade entre porto-alegrenses e pelotenses.
Esses, mais ricos, mandavam seus filhos estudar na Europa. Voltavam sofisticadíssimos, ocasião em que eram chamados de bundinhas. De bundinhas a darem as bundinhas foi um passo.
Como não sou de botar a mão no fogo por ninguém, repasso a história que me foi contada por um pelotense.
Disse-me ele que a Câmara de Vereadores da cidade, cansada da fama, resolveu reagir.
Depois de muito discutirem, decidiram chamar o Nhonhonho, um pelotense dono de uma mangueira de mais de 50 centímetros que, por incrível que pareça, endurecia.
Deram-lhe um dinheiro e mandaram-no (comecei na ordem indireta e assim irei até o fim) passear pelo Brasil.
Já no mijador da rodoviária de Porto Alegre, o armanho do Nhonhonho fez o maior sucesso.
Os caras se aproximavam e perguntavam pro dono da vará:
– De onde és, tchê!
E ele, abotoando a braguilha, muito orgulhoso:
– De Pelotas, com muita honra.
Em São Paulo já havia quase recuperado a reputação da cidade natal.
Ao chegar no mijador da Central do Brasil, no Rio, e tirar a mangueira (era tão grande que o sacana tinha que mijar em diagonal) pra fora, aproximou-se um carioca e disse:
– Pelo tamanho da peça, já vi que você é pelotense.
– Como foi que adivinhaste?, perguntou o Nhonhonho.
E o carioca, implacável:
– Pra aguentar uma vara dessas, só as bichas de Pelotas.

PÊNIS, Astrolábio da Silva (1901-1964) – Contínuo da Caixa Econômica Federal e chefe do clã dos Pênis, família originária da Bahia. Em verdade, tudo começou no século XVII, quando aportou por lá um grumete holandês chamado Leopold van der Penits que com o correr dos tempos teve o “t” cortado e virou Pênis.
Durante anos os descendentes de Leopold van der Penits, que voltou para a Holanda onde morreu sem saber a confa que havia armado, tentaram se livrar do sobrenome.
Finalmente, o velho Astrolábio da Silva Pênis conseguiu mudá-lo.
Hoje seus filhos, filhas e netos ostentam orgulhosamente o sobrenome Trolha.
Se vocês duvidam, perguntem pro Tenório Prepúcio Rocha, que vende ouro na Rua da Alfândega, no Rio, que não me deixa mentir.
O que é que vocês queriam, porra? Que eu explicasse o que é pênis? Quem tem sabe e quem não tem, mais dia menos dia acabará sabendo.

PENTELHOS – Trata-se de um ramo da família Pênis, mas, também, intimamente ligado à família Xota. Durante séculos acreditou-se que a simples exposição dos pentelhos (também conhecidos entre os membros da Academia Brasileira de Letras como “pêlos púbicos”) numa revista qualquer poderia ser o primeiro passo para a Terceira Guerra Mundial e o Apocalipse. Tanto isso é verdade que durante décadas a revista Playboy raspava os pentelhos das suas modelos.
Em abril de 1970, porém, Bob Guccione, editor da revista Penthouse, resolveu correr o risco e publicou a foto de uma moça com pentelhos. Como se sabe, o mundo não acabou e árabes e judeus continuaram a se matar como se nada tivesse acontecido.
Os pentelhos aparecem em homens e mulheres entre onze e treze anos. Há casos de mulheres, perfeitamente normais, onde eles só fazem sua aparição por volta dos dezoito anos.
Walter Frank (que não verbeteio porque mentiu demais) diz em seu livro, My Secret Life: “Conheci uma irlandesa que tinha pentelhos ruivos que chegavam até o umbigo na parte da frente e até o começo da espinha dorsal na parte de trás”.
Mas como eu já disse, o cara chutava exageradamente.
Verdade mesmo é que quando Flores da Cunha foi interventor no Rio Grande do Sul, em 1930, um grupo de mães foi até o Palácio Piratini se queixar de que os meninos mais velhos estavam molestando os meninos e meninas mais moços que tomavam banho pelados todas as tardes na praia de Belas, atrás do Palácio. Sentenciou o interventor:
– De hoje em diante só pode tomar banho pelado o guri ou a guria que não tiver pentelhos.

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