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quinta-feira, agosto 03, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 29)


GRAFITE – Alguns meses depois que cheguei de Porto Alegre, em 1958, garotão de 18 anos, fui trabalhar na Manchete (o que é que há? Ninguém é perfeito) e morar numa espécie de hotel que havia ao lado do Forte Copacabana, em frente à antiga TV-Rio. Disse espécie de hotel porque eu, graça a uma combinação com o espanhol dono do estabelecimento, era o único hóspede fixo, com atestado de residência e tudo.
Para os comuns mortais tratava-se de um pétél (assim mesmo, com dois acentos agudos para parecer verbo tchecoslovaco), ou motel a pé. Nego a perigo, pegava a moça, profissional ou amadora que fosse, dava a sua bimbada e se mandava. Era o único pétél em toda a zona sul da cidade.
Também era um bom negócio tanto para o espanhol quanto pra mim. Minhas vantagens: além de pagar uma micharia por mês, ele me havia dado permissão para fazer dois buracos nas portas que davam para os quartos que ladeavam o meu. As melhores mulheres o espanhol mandava para aqueles quartos.
Eu não tinha (e não gostava de) televisão. Vocês já viram, né? Às vezes o cara ia embora depois da performance. Era quando eu visitava as moças.
A vantagem do espanhol: sempre que a polícia dava uma batida, o mulherio corria para o meu quarto. Às vezes havia mais de dez mulheres, todas meio peladas, que eu, mostrando meu registro de jornalista e meu atestado de residência, dizia serem minhas convidadas.
O delegado era o Padilha, que se divertia mandando cortar o cabelo de malandro e deixando uma laranja correr pelo lado de dentro da calça do marginal. Se ela ficasse presa na boca da bainha, o cara ia em cana. O Padilha tinha um estranho senso de humor.
Como, porém, isto se passou antes de 1964,o presidente era o Juscelino, os guardas não podiam tirar as mulheres do meu quarto na marra. Fiquei muito amigo das moças até que mudei de lá para me casar em 61.
A maioria delas sabia que eu estava olhando pelo buraco do outro lado da porta enquanto elas fudiam. Gentis, insistiam em deixar a luz acesa durante toda a sessão. Uma mão lava a outra.
“O que é isto tem a ver com grafite? Está mais para voyeurismo” – dirá o leitor impaciente. E eu, calmão, vos digo: eu chego lá.
Não era moleza apanhar mulher naquela época. Ainda mais eu, que recebia uma miséria na Manchete e vivia mais duro que pau de náufrago em ilha deserta. Foi quando comecei a frequentar o La Gôndola, um bar-restaurante que existe até hoje na Sá Ferreira, entre a Avenida Copacabana e a Atlântica.
Na época, ele era frequentado pela classe teatral que, como vocês sabem, não é exatamente a classe mais masculina do mundo. Paradoxalmente, embora eu não trabalhe no ramo, o número enorme de bichas no bar era um bom negócio, pois diminuía a concorrência.
Bolei um plano diabólico para comer atrizes: pedi ao Floriano, dono do boteco, que deixasse eu escrever umas frases no banheiro das mulheres e fiz ele jurar que não diria nada a ninguém.
Munido de lápis, de tarde, quando não havia freguês no estabelecimento, eu escrevi no banheiro das moças: “O Fausto Wolff é um tesão”. Embaixo, numa caligrafia diferente: “É verdade. Grande trepada!”
Eu, rapaz desconhecido, quando dizia o meu nome para as atrizes que só o conheciam de lavabo, os olhinhos delas piscavam de pura pré-excitação. Foi assim que comecei a minha carreira teatral.
Algumas senhoras de meia-idade que ainda hoje aparecem em palcos, telas e TV devem lembrar como eram discretamente turbulentos aqueles verdes anos. Viram?, grafite puro! Mas tem mais.
O que são os grafites além do mineral que, envolto em madeira, forma o lápis e vive quebrando? São mensagens sexuais e escatológicas, geralmente deixadas nas paredes dos banheiros públicos.
Robert Reisner, em 2000 Anos de Grafite, nos informa da antiguidade do hábito ao qual as mulheres, embora menos que os homens, também são afeitas. Eis um exemplo de grafite feminino: “Êi, você aí que faz pipi com essa cara tão chateada, por que não dá um pulo no banheiro dos homens?”
No banheiro dos homens, com raras exceções, o que há mesmo é propaganda viadal. Aliás, pelas inscrições na parede, dá pra se ver quando um boteco é frequentado pelos rapazes alegres que fungam muito e não deixam ninguém mijar em paz.
Muitos escrevem as suas preferências e deixam até telefone. Outros botam lá: “O meu tem 22 centímetros. E o teu?” Este, certamente, estava a fim de bater espadas.
Os donos de botecos detestam grafites a ponto de pintarem a parede de dois em dois meses. Quando Manoel Capão, o dono do Veloso, mandou pintar o banheiro, no dia seguinte apareceu na parede: “Manoel Capão odeia literatura”.
Os grafites mais conhecidos do Brasil são de autoria de poetas desconhecidos. Eis o primeiro: “Neste lugar solitário/ onde toda vaidade se acaba/ todo covarde faz força/ todo valente se caga”. O segundo: “Merda não é tinta/ Dedo não é pincel/ Quem quiser cagar aqui/ É favor trazer papel”.
Mas o grafite mais poético foi descoberto por Ferdy Carneiro e o falecido Darwin Brandão num boteco na Penha, perto da fábrica de sutiãs De Millus: “Desconfio que o Toninho Bíblia é Veado”. Que tal?

GRAHAM, Silvester (1794-1851) – Autor do livro mais engraçado já escrito sobre sexo até o dia em que este meu estiver nas livrarias. Eis o título: Palestra Para Jovens em Estado de Castidade e Dirigida Também à Atenção de Pais e Tutores.
Segundo ele, casais que trepassem demais estavam sujeitos a aumento de peso, depressão, debilidade geral, fraqueza muscular, perda de apetite, indigestão, desmaios, ânsias de vómito, inflamação da pele, tosse, má circulação do sangue, melancolia, dores de cabeça, hipocondria (?), histerismo, cegueira parcial, doenças pulmonares, tosse nervosa, desordens no fígado e nos intestinos, dificuldades para mijar, dor na coluna vertebral, debilidade mental, perda de memória, epilepsia, apoplexia, abortos, mórbidas disposições, morte prematura e, por último, mas nem por isso menos importante, caganeira.
Temendo que tudo isso não fosse suficiente para evitar que os casais fudessem, ele ainda preveniu: “Cada ejaculada diminui consideravelmente a expectativa de vida”.
O pessoal não se impressionou.

GRILO – Não fiquem grilados porque é grilo mesmo. Esses bichinhos quando querem fuder são capazes de produzir canções complexas e com intenções sofisticadas e específicas. A coisa é mais ou menos assim: sentiu vontade de dar uma fodinha, o macho roça as pernas de trás contra as asas. Produz com isso uma série de notas, faz uma pausa e volta a produzir mais notas com pequenas variantes, seguidas de outra pausa.
Uma grila que está a fim responde num tom mais suave. Em seguida macho e fêmea produzem sons alternados.
A canção do macho, mais uma vez levemente modificada, segundo os especialistas, quer dizer agora: “Então está a fim? Olha que eu vou te comer!”
As pesquisas de Perdeck demonstraram que as canções dos grilos são sexualmente estimulantes para ambos sexos.
Tanto isto é verdade que se o grilo-cantor para o qual ela respondeu não aparecer logo, a grila parte pra cima do primeiro que estiver quietinho no seu canto, mesmo que ele não seja da mesma espécie.
Quando alguém chegar perto de sua mulher e perguntar “Qual é o grilo?”, responda depressa: “O grilo sou eu”.

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