PERVERSÃO
– No verbete “Parafilia” dei alguns exemplos de perversão
(notem: não falei de corrupção, pois quem entende disso são os
nossos ministros), mas em se tratando do ato sexual, eles são
milhares.
Diante
disso é interessante notar que em todas as épocas a perversão mais
perseguida foi a punheta ou siririca.
Isso
se deve, provavelmente, ao fato dela ter sido praticada em todas as
civilizações e até mesmo por Adão, antes de Eva pintar no pedaço,
quando não tinha nenhum bicho dando sopa.
O
sexólogo Alex Comfort (que andou até explicando sexo para crianças)
fez uma pesquisa e notou que durante mais de vinte séculos, até os
dias de hoje, a medicina informou que punheta pode causar pneumonia,
dispepsia, cegueira, vertigens, epilepsia, perda da memória,
histeria, asma, melancolia, loucura, paralisia e morte.
Ah,
ia esquecendo: também faz crescer pentelhos nas palmas das mãos.
PETRÔNIO,
Arbítrio (12-66 d.C.) – Sacanólogo oficial do
imperador Nero e provavelmente autor do Satiricon, uma obra de
arte da qual restam apenas alguns fragmentos que Federico Fellini
tentou remendar, adaptar para o cinema e quebrou a cara.
Autor
do que pode ser considerado o primeiro romance da civilização
ocidental, Petrônio foi também o cronista social do século I da
era cristã.
Um
cronista social bem menos hipócrita que seus coleguinhas modernos,
pois que deixou relatada detalhadamente a vida sexual da classe
dominante e, em particular, a do imperador.
Embora
escrevesse direitinho, não devia ser flor passível de cheiro, pois
era cafetão.
Tácito
diz que ele comeu todas as mulheres comíveis de Roma. Como o seu
Satiricon é cheio de romances de rapazinhos na cama com
outros rapazinhos, não se pode afastar a hipótese dele
eventualmente entornar uma baguete. Ainda segundo Tácito, “ele
passava os dias dormindo e as noites gozando os prazeres da vida”.
Entre
um poeminha e outro ele bolava sacanagens para Nero pôr em prática.
O imperador, como quem leu seu verbete sabe, traçava tudo em todas
as posições. Desde aquela do dragão míope até a da lagosta com
caspas.
Animal,
vegetal ou mineral que fosse para a cama com o gordinho piromaníaco
(ou gordinha piromaníaca, segundo versão de membros viris da sua
guarda pessoal) tinha que ser aprovado antes por Petrônio.
Profissional
do bom viver, vivia numa boa até que – verdade ou intriga da CUT e
da CGT – decidiu conspirar contra Nero lá pelo ano de 66.
O
imperador devia estar bem humorado no dia em que descobriu a traição
do seu cronista sócio-sexual, pois em vez de mandar cortar-lhe os
badulaques, informou gentilmente:
–
Petrônio, minha flor, você é muito bonzinho e como eu gosto de
você, vou te dar uma colher de chá. Tens vinte e quatro horas para
te suicidar. Passar bem e boas festas.
Nosso
herói foi para casa e passou o dia inteiro no banho, abrindo e
fechando as veias dos pulsos enquanto batia papo com amigos, amigas e
fãs em geral. Um profissional, devo reconhecer.
Quando
sentiu que lhe restava pouco sangue no corpo, sentou o rabo num banco
e começou a escrever um relatório de todas as sacanagens sexuais e
políticas praticadas por Nero. Morreu numa boa.
Só
pra dar uma ideia a vocês do bom humor do cara, eis um versinho
pinçado do Satiricon, onde Enclopius, descobrindo-se broxa,
incrimina o pau: “Vítima de terror mais frio que o mais gelado
inverno, ele se escondeu no fundo dos meus pentelhos. Perdido entre
mil rugas, como levantar sua cabeça para castigá-lo?”
Não
é poesia moderna, mas, em compensação, também não rima. Pequena,
porém, mole.
PHALICA,
Adoração – Bloco dos adoradores do caralho. Escrevi
com ph para ficar mais fino. O caralho vem sendo adorado
religiosamente há mais de 4 mil anos, quer no Egito, na Judeia, na
Escandinávia, no baile do Scala G, do Guilherme Araújo, no Rio de
Janeiro.
Adorar
esculturas com falos enormes – segundo a crença popular –
acabava com a impotência dos homens dos homens, com a infertilidade
feminina e ainda protegia contra o mau-olhado.
Na
Bíblia (Gênesis 24,2), Abraão pede ao seu criador: “Por favor,
ponha a mão debaixo da minha túnica, pegue no meu pau e jure pelo
Senhor, deus do Céu e da Terra”.
Os
tradutores da Bíblia, evidentemente, substituíram a palavra pênis
por coxa.
Quando
vocês batem na madeira para afastar o azar, o que é que vocês
acham que estão fazendo, realmente? Madeira é pau, bichos!
PHILIPE,
Duque de Orléans (1640-1699) – Sujeito dos mais
engraçados. Foi Voltaire que – para fazer vender o seu livro sobre
os tempos de Luís XIV, o Rei-Sol – inventou que ele era o
prisioneiro com a máscara de ferro, encerrado na Bastilha e quase
dois séculos depois imortalizado por Dumas.
Em
verdade nunca houve um máscara de ferro. Houve, isso sim, um
prisioneiro italiano, acusado de traição – cujo nome não tenho
tempo para procurar na enciclopédia –, que apareceu na Bastilha em
1698 com uma máscara de veludo negro.
E
por que é que o Philipe decora as nossas páginas?
Pelo
seguinte: ele era o irmão mais moço de Luís XIV, aliás, dois anos
mais moço e muito parecido com ele.
Para
que não rivalizasse com o irmão, sua mãe, Ana da Áustria, em vez
de lhe tascar uma máscara de ferro na cabeça (não sobreviveria
muito tempo) o educou como se fosse uma menina.
Pois
o Filipe gostou do papel de Filipa: se vestiu de mulher quase toda a
vida.
Perfumado,
elegante e perucado, era macho e militar.
Segundo
registros da época, liderava seus soldados nas batalhas com saia,
sapatos de salto alto, uma gigantesca peruca negra e não usava
chapéu para não desmanchar o penteado.
Segundo
sua mulher, ele tinha mais medo do sol que poderia queimar sua pele
alvíssima que das balas dos mosquetões que enfrentava com coragem
inusitada.
Aparentemente
nunca entregou o anel ducal, embora tivesse o físico do rolo.
PÍLULA,
A – Controla a natalidade e sua aparição no menu da
burguesia causou, certamente, a maior revolução da história do
século XX, o que inclui a revolução russa, a chinesa e a cubana.
Foi aparecendo e dizendo “virgindade, você não passa de um tabu”.
O mulherio passou a dar com maior disposição e muito menino não teria nascido filho da puta caso houvesse nascido antes da descoberta dela – a pílula.
É que as mulheres casadas, sem o temor de engravidarem, também passaram a ornamentar as testas dos maridos com incrível non-chalance.
O mulherio passou a dar com maior disposição e muito menino não teria nascido filho da puta caso houvesse nascido antes da descoberta dela – a pílula.
É que as mulheres casadas, sem o temor de engravidarem, também passaram a ornamentar as testas dos maridos com incrível non-chalance.
Mas,
voltando à pílula: ela previne o desenvolvimento dos óvulos e suas
consequências posteriores. Um meio realmente efetivo de controle da
natalidade, desde que a leitorinha que me honra não esqueça de
tomá-la.
Uma
pílula deve ser tomada todos os dias durante vinte e um ou vinte e
dois dias durante o ciclo de vinte e oito dias.
Algumas
mulheres, infelizmente, não se dão bem com elas e enjoam com
facilidade, e elas só são vendidas sob prescrição médica porque
podem ser perigosas para algumas freguesas com predisposição ao
câncer e à coagulação sanguínea.
Apesar
dela, o mundo marcha para a superpopulação, o que significa que
vocês do século XXI que me lêem, não terão uma chance de me
lerem sozinhos por absoluta falta de espaço.
É
claro que – lembrando Toynbee – a Terceira Guerra Mundial é uma
solução que não pode ser posta de lado.
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