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sexta-feira, agosto 18, 2017

ABC do Fausto Wolff (Parte 63)


REICH, Wilhelm (1897-1957) – Dizem que era maluco. Se eu o tivesse conhecido, pagaria para ver. (Só agora que notei que comecei este verbete com o verbo dizer, o que é perigoso, pois lembra a minha ficha no SNI: “Dizem que é comunista. Atua num telejornal onde, através de comentários jocosos, faz críticas à civilização ocidental.”)
Acontece que este psiquiatra alemão foi tão sacaneado por todos os tipos de poderes que, certamente, não poderia ser má pessoa. Talvez tenha morrido maluco, mas isso acontecerá com todos nós que nos confrontarmos diariamente com a nossa ignorância.
Já por volta de 1930 disse para Freud: “Você é muito freudiano”.
Depois de lutar como soldado na Primeira Guerra Mundial, abriu uma clínica, onde tentou ajudar trabalhadores que achavam que estavam trabalhando demais e recebendo muito pouco e por isso eram considerados loucos. Foi neste período – 1924-1930 – que entrou para o partido comunista.
Para provar que não era tão visionário assim, quando Hitler subiu ao poder se mandou para a Dinamarca, onde publicou Die Massenpsychologie des Faschismus (A Psicologia de Massa do Fascismo), denunciando o comunismo como outra forma de fascismo.
Levou pau de Freud, de Hitler e, finalmente, de Stálin. Tudo antes dos trinta e três anos. Nem Cristo conseguiu tantos milagres.
Em 1934, deu um jeito de ser expulso da Associação Psicanalítica Internacional, principalmente por causa do seu livro A Análise do Caráter.
Depois de ser posto para fora da Dinamarca e da Suécia, arranjou um emprego na Universidade de Oslo, mas, em 1937, começou a ser atacado pela imprensa norueguesa, razão pela qual fez as malas em 1939 e se mandou para New York, onde abriu uma clínica psiquiátrica e deu aulas na New York School for Social Research até 1941.
Freud (como a Xuxa, todo mundo conhece, mas poucos conhecem intimamente) achava que atrás das neuroses havia a repressão sexual e mais: que a personalidade de um homem é determinada pelas suas características sexuais. Reich, porém, ia além.
Ele achava que a energia sexual reprimida era venenosa e destrutiva. No seu livro A Função do Orgasmo, de 1942, ele diz: “É preciso gozar sem inibições; descarregar toda a excitação sexual através de agradáveis e involuntárias contrações dos músculos do corpo. Um orgasmo inadequado deixa um surplus de energia no corpo que pode causar doenças”.
Enfim, ele acreditava que, na hora do orgasmo, homens e mulheres deveriam se abandonar totalmente sem inibições com todos os músculos do corpo. Vai daí que, enquanto isso não fosse resolvido fisicamente, era besteira insistir em longas e caras sessões de análise.
Era contra a repressão sexual que os adultos impõem aos mais jovens e da luta contra a autoridade dentro da família passou à luta contra qualquer tipo de autoridade. Não é à-toa, portanto, que a garotada dos anos 60 viu nele o seu guru.
Pensava mais ou menos assim: se as coisas que têm que acontecer não acontecem no momento certo e não são liberadas, elas crescem como um câncer dentro do ser humano.
No princípio ele achava que esta energia não acumulada existia apenas em homens e mulheres. Com o tempo, porém, passou a acreditar que esta energia não liberada era universal e pré-atômica.
Batizou-a de orgone, uma mistura de orgasmo com organismo. Ela seria a força prisioneira que existe em qualquer matéria do universo e seria até mesmo responsável por fenômenos paranormais como os discos voadores.
Quando declarou, finalmente, que o orgone era Deus, foi considerado definitivamente esquizofrênico.
Em 1945, ele deixou New York e se isolou no Estado de Mayne, um pouco acima.

Lá escreveu que a energia do orgone se irradia do corpo humano – uma espécie de energia psíquica –, mas apenas quando o corpo é saudável.

Quando a energia está bloqueada, provoca câncer e outras doenças como sagitário, capricórnio e gêmeos.
Para corrigir isto, ele construiu umas caixas de metal e madeira. O paciente era colocado dentro delas e recebia a superabundância de energia de orgone existente no cosmo.

Vendeu muitas dessas caixas, garantindo que elas curavam o câncer. E na época surgiram centenas de pessoas declarando-se curadas.
Em 1956, já tendo abandonado a psiquiatria há algum tempo, foi condenado a dois anos de prisão pela venda dos acumuladores de orgone. Morreu de um ataque de coração um dia antes de ser posto em liberdade.
Durante todo o tempo em que esteve nos Estados Unidos foi perseguido pela polícia, pelo FBI, pela Food and Drug Administration e, principalmente, pelos seus colegas, que insistiam que ele era louco. Queimaram os seus livros e destruíram os seus orgones, o último deles em 1957.
Dele disse o Dr. Nic Waal, um dos poucos que não o perseguiram: “Ele estava em pedaços. Em parte por sua culpa, mas principalmente por causa dos outros. Ninguém pode suportar tanta crueldade e solidão sem se quebrar interiormente”.
Pessoalmente, creio que aconteceu com Reich o que aconteceu com os psicanalistas que tentaram usar o LSD como um acelerador do processo terapêutico. Foram desacreditados e impedidos de trabalhar.
Reich era um espírito anárquico que provavelmente descobriu antes do tempo a vacina contra o câncer. Ia tirar dinheiro do bolso de muitos laboratórios e acabar com a fraude dos psicanalistas, que se resume em anestesiar a consciência da burguesia.
Einstein acreditava nele, mas, mesmo assim, ninguém ousou prosseguir suas pesquisas.

REINO Animal – O protozoário paramectum amelia pode ser unicelular mas em compensação tem oito sexos. Não me perguntem como funcionam.
Algumas espécies de cobras na Índia lutam – macho e fêmea – durante horas até que ela dê o sinal de submissão, deitando a cabeça no solo. É o momento do macho introduzir seus dois pênis. A trepada pode durar de dois minutos a dois dias.
Kinsey garante que observou casos de homossexualismo entre macacos, cachorros, búfalos, bois, ratos, porcos-espinhos, antílopes, cavalos, burros, elefantes, hienas, camundongos e morcegos.
A bactéria unicelular trinchonynpha, que vive dentro dos intestinos do cupim, é completamente bissexual. O que determina quem desempenhará o papel do macho ou da fêmea é o número de manchas no corpo. Quem tiver mais manchas será a fêmea.

Como as manchas aumentam e diminuem de número constantemente, o mesmo acontece com o sexo.
A fêmea do cavalo-marinho (égua-marinha?) tem uma espécie de pau que costuma introduzir numa abertura do saco abdominal do macho.

Lá ela deposita os ovos fertilizados, que se desenvolvem dentro do abdôme do marido até a hora dele dar à luz.
O pulgo faz, com a piroquinha, um buraco nas costas da fêmea, onde ejacula. O esperma entra na corrente sanguínea até atingir os ovários, onde os embriões se desenvolvem até o nascimento, ocasião em que começam a morder o nosso saco.
O maior pau da terra e o do elefante, que tem cerca de metro e meio, um birrinho, comparado com o maior pau do mar, que é o do baleio, com mais de 3 metros.
Quando vocês virem dois escorpiões dançando, não se enganem. Não se trata de dança, mas de foda.

Na hora de procriar o escorpião macho agarra a fêmea com suas pinças e em seguida ejacula no chão. A dança é para ter certeza de que os órgãos reprodutivos da fêmea entrarão em contato com o esperma.
Os paus de muitos insetos têm protuberâncias para evitar que saiam de dentro da fêmea, uma vez introduzidos. Se você separar dois insetos que estão trepando, poderá capar o macho e causar graves ferimentos à fêmea.
Ninguém sabe por que, mas a verdade é que a peça do touro, depois da trepada, ganha a forma de um saca-rolhas, o que impede que ele dê a segunda.
Um verme chamado platielmíntio tem o pau localizado na boca. Serve para reproduzir e para caçar vermezinhos menores, dos quais se alimenta.
O clitóris da fêmea do macaco-aranha é maior que o pênis do macho: 4 centímetros.
Agora, quem gosta de trepar mesmo é a chimpanzé. Quando está no cio, pode ser comida vinte vezes por dia. Aliás, de todos os primatas, o chimpanzé é o que mais curte. Além do ato em si, pratica masturbação e cunnilingus.
Os culhões de um elefante adulto pesam cerca de 2 quilos.
Amor entre rinocerontes é engraçadíssimo. Eles brigam durante cerca de duas horas. E não é briguinha boba. Imaginem que se chocam a uma velocidade de 30 quilômetros por hora.

Tanto a fêmea quanto o macho às vezes pesam mais de 2 toneladas cada um.

Se o macho perde a briga, nada feito. Se ganha, a fêmea se submete, ocasião em que é comida por trás durante cerca de duas horas.

O macho, segundo voyeurs zoologistas, ejacula de dez em dez minutos.
A lampreia só tem um culhão.
Desinteressadíssima por sexo é a girafa fêmea. Enquanto machos rivais brigam por sua posse, ela se limita a olhar entediada.

Quando pinta o vencedor, ela dá uma mijada que ele, imediatamente, cheira, para ver se ela está no cio.

Mesmo estando no cio, às vezes ela se chateia, interrompe a trepada no meio e vai passear.
Sem problemas freudianos, a grande maioria dos mamíferos, apenas colocados em contato com a fêmea, tem ereção imediata. Menos de cinco segundos entre a total flacidez e uma ereção vítrea.
Entre castores, é a fêmea quem provoca. Depois de encontrar o cara que lhe agrada, ela expele uma substância amarelada chamada castoreum, de uma glândula localizada entre o ânus e a vagina.

Sentindo o cheiro, o castor entende que ela está a fim e se aproxima. Trepam nadando lado a lado e a união geralmente é para toda a vida.
Cetáceos, de um modo geral, são chegados a uma suruba. É muito comum baleias dançarem um baião de três: dois machos e uma fêmea.

Há quem diga que o segundo macho serve apenas para ajudar o parceiro a colocar sua piroca colossal na não menos colossal xota da fêmea.
E os leões-marinhos que são voyeurs? Se excitam vendo os mais velhos treparem. Desconfio, porém, que esta afirmação não tenha base científica.

O que ocorre, provavelmente, é que os mais moços vêem os mais velhos trepando, se excitam e partem para as fêmeas, ocasião em que levam uma surra dos veteranos.

É que os leões-marinhos têm haréns e só quando são derrotados pela nova geração é que passam o mulherio adiante.
Os polvos fodem de frente, pelo menos esta é a impressão. Em verdade o que acontece é que o macho ejacula sobre um dos seus tentáculos e em seguida introduz, com a ajuda dele, o esperma dentro da vagina da fêmea. Em verdade os órgãos reprodutores não chegam a se tocar.
Imaginem um homem e uma mulher frente a frente fazendo sinais afirmativos e negativos com a cabeça, silenciosa e lentamente, durante algumas horas.

De repente, sem ninguém compreender por que, o homem passa a chupar os pés da mulher bem devagar.

Depois de algumas horas deste exercício, ele come a mulher por trás e a morde na nuca para não cair. Pois é assim que as tartarugas trepam.
A jacaré fêmea passa três semanas sem comer antes de ser comida metaforicamente pelo jacaré macho. Tudo isso para uma fodinha muito barulhenta que não dura mais de três minutos.

Só perdem para os pinguins, que fodem uma vez por ano por não mais de dois minutos.
E os zangões, que depois de fertilizarem as rainhas são expulsos para morrerem de fome fora da colmeia?
Temo que dentro de alguns séculos ninguém acreditará no que escrevi sobre a vida sexual dos animais, pois, com a capacidade de destruir do homo sapiens (ra! ra! ra!), até lá existirão apenas vacas, galinhas e cães.

E pensar que uma ameba – como criatura – é muito mais perfeita que o homem, pois vive inteiramente o seu potencial, enquanto que nós, provavelmente, nos destruiremos em plena pré-história do que poderíamos vir a ser.

RESTIF De La Bretonne, Nicolás Edmé (1734-1806) – Escritor de histórias de sacanagens, conhecido por seu apetite singular. Desconfio um pouco desse seu apetite, porque escreveu um livro autobiográfico chamado Monsieur Nicolás.

Se o seu apetite fosse mesmo fora do comum, ele não teria tempo de escrever uma obra de dezesseis volumes e comer as mulheres do tempo de Luís XVI, Robespierre, Danton, Marat e as mais jovens dos primeiros anos do império de Napoleão.
Diz Havelock Ellis – que como se sabe, se casou com uma representante da Sapataria Polar e gostava de ser mijado –, que Monsieur Nicolás é um precioso documento de psicologia erótica e usou muitos elementos do livro em seu A Psicologia do Sexo.
Como vocês vêem, nesta vida nada se cria, tudo se plagia, inclusive este meu ABC. Mais ou menos como o pecado original, que, no dizer de Millôr Fernandes, de original só tem o estilo de cada um.
É claro que para não ser processado por nenhum idiota que passou a vida inteira medindo o clitóris das pulgas, eu uso o meu famoso molho Wolfenbuttel, o preferido das donas-de-casa da Tijuca e adjacências.
Mas, voltando ao Nicolás Edmé. Ao contrário do Frank Harris ou do Casanova, que foi seu contemporâneo (o Casa, não o Francisco), ele era um detalhista. Sua descrição de uma mulher se masturbando: “Depois de passar o dedo médio no clitóris durante uns quinze minutos, abrindo e fechando as pernas o tempo todo, ela parou subitamente. Ficou imóvel como se sentisse dor por uns dois minutos e depois começou a sorrir.”
Diz Nicolás que começou a vida sexual aos quatro anos brincando com suas amiguinhas e amiguinhos. Aos onze teve sua primeira relação sexual completa e desde então não teria parado mais. Por sua cama teriam passado empregadas domésticas, camponesas, prostitutas e damas da aristocracia.
Precisava ter muito apetite mesmo, pois na época não haviam inventado ainda o desodorante, o mulherio tomava banho uma vez por mês e usava peruca para esconder os piolhos. Pela rainha Maria Antonieta, que só tinha três dentes, vocês podem bem imaginar o resto.
Vocês já viram que as moças que o rapaz apanhava não deviam ser lá essas coisas e acabou acontecendo com ele o que costuma acontecer nesses casos (principalmente quase cem anos antes do nascimento de Alexander Flemming e da penicilina): apanhou uma gonorréia de gancho e pelo resto de sua vida não conseguiu mijar direito.
O negócio de Nicolás era trepar e trepar com mulheres. Não fora por dois pequenos detalhes confessados em seu livro, era um cara razoavelmente normal se é que alguém consegue definir o que é normalidade a esta altura do terceiro tempo – num lugar chamado Brasil.
Em primeiro lugar, tinha fantasias incestuosas e gostava de imaginar que a moça que estava jantando, eventualmente era sua filha. Explicava essa mania dizendo que, afinal de contas, tivera tantas filhas ilegítimas que era natural que, cedo ou tarde, uma delas aparecesse na sua cama.
Em segundo lugar, era meio fetichista e na sua novela Le Pied de Franchette (não pensem que fanchette quer dizer fanchona anã) explicou a coisa: “Eu gosto de limpeza e os sapatos e os pés são difíceis de se manterem limpos. Por isso, quando encontro uma mulher de pés limpos, calçando um par de sapatos limpos, tenho que trepar com ela”.
De qualquer modo, nunca substituiu a mulher por sapatos, como um conhecido meu que se diz fetichista só porque tem a mania de levar sapatões para a cama.

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