PIROMANIA
– Mania todo mundo sabe o que é e todo mundo tem. No Brasil, por
exemplo, a mania dos ricos é sacanear os pobres e a mania dos
pobres, ainda, é futebol, carnaval, apanhar da polícia, morrer
afogado sempre que chove e passar fome.
Já
piro, embora tenha a ver com piroca, quer dizer “fogo” em
grego. Vai daí que piromania é tesão por fogo, embora não existam
registros de nenhum piromaníaco que tenha tido os culhões flambados
à la Club Gourmet de Celidoniô.
Quando
vocês lerem nos jornais (às vezes, quando os fatos se impõem ao
jornalismo mercantilista, eles publicam algumas verdades) a notícia
de algum incêndio sem motivo aparente, podem ter certeza que foi
obra de um piromaníaco.
O
psiquiatra Euster Chesser escreveu um livro chamado The Human
Aspects of Sexual Deviations (até aí nada demais: gostaria de
ver ele escrever um livro chamado The lnhuman etc...) e nele
ele cita um caso interessante. Tão interessante que eu vou contar
para vocês.
Uma
mulher solteirona, virgem e fria – dose, né? – recebeu a visita
de um irmão que resolveu se instalar na sua casa. Uma noite, quando
ele dormia de porre, ela botou fogo na cama dele.
Interrogada,
informou à polícia que, quando criança, costumava brincar com o
irmão de “papai-mamãe”, “médico-paciente”, esses troços,
e que esperara aquele tempo todo para se vingar.
Mais
tarde, porém, entregou o jogo a um psiquiatra e confessou que se
masturbara enquanto via a cama do irmão pegar fogo. A cama e os
culhões do irmão que ela torrou literalmente.
Outro
caso contado por Chesser é tão engraçado que merece um parágrafo.
Cerca
de quarenta anos atrás, os habitantes de uma cidadezinha no Sul da
França viveram algumas semanas de terror, pois duas, três vezes por
mês, um celeiro pegava fogo.
Finalmente
o incendiário foi apanhado e – pasmem – se tratava de um
bombeiro. Elementar! Quem gosta de ver fogo vai ser bombeiro e se há
escassez de incêndios, o jeito é arrumar alguns por conta própria.
Aliás,
o bombeiro, que foi apanhado ejaculando sobre as chamas, disse que a
visão do fogo fazia ele ficar de pau duro, razão por que foi
procurar a companhia dos corajosos soldados do fogo, como costumava
dizer a valorosa crônica policial de algumas décadas atrás.
“Durante
algumas semanas tive uma vida sexual intensa”, disse ele, o que foi
confirmado pela mulher, que acrescentou: “Antes de se dedicar ao
esporte de incendiar celeiros ele não passava da meia-bomba”.
Quando
Hitler, Goering e Goebbels mandaram incendiar o Parlamento alemão,
quem foi que eles acusaram? Um piromaníaco, autor de vários
incêndios menores. Segundo os nazistas, ele teria feito o serviço a
mando dos comunistas!!!
Ora,
para uma simples punhetinha, bastava incendiar um banco de praça.
Após
a noite do incêndio do Reichstag, estrearam na Alemanha uma mania
que se alastrou rapidamente por toda a América Latina:
pirocomunomania, ou seja, botar fogo nos membros do partidão.
PLACENTA
– Boca-livre de feto. Quando a mãe é pobre, a boca é livre, mas
não é tão boa e geralmente se trata do único período da vida –
os nove meses antes de nascer – que o serzinho ou a serzinha vai
comer sem pagar. Já feto de dondoca vai de caviar e champanhe e
nasce bem fortinho pra continuar comendo o rabo os pobres.
Mas
vamos à placenta: trata-se do órgão que liga o feto ao útero da
mãe e funciona como filtrador de qualquer matéria que passa entre
os dois.
Nascida
a placenta, a mãe expele o bebê. Ora, que besteira: nascido o bebê
a mãe expele a placenta que – segundo alguns dermatologistas –
faz bem para a pele.
A
plácida placenta plange o cordão umbilical da plebe, como diria um
poeta concretista do caderno B do Jornal do Brasil do fim dos anos
50.
PLÁGIO
– Segundo o Código Penal ainda em vigor na Itália, o crime de
plágio consiste no seguinte: dominar tão completamente a vida de
uma pessoa – menor ou adulta – que ela passa a não ser mais
senhora de suas ações.
Se
isso funcionasse no Brasil, todos esses vigaristas fantasiados de
pastores evangélicos que aparecem na TV para explorar a crendice do
povo estariam na cadeia.
Há,
é claro, outro tipo de plágio. Por exemplo: quando um cara rouba
ideias de um autor ele é considerado um plagiário.
Quando,
porém, como acontece comigo neste ABC com pretensões a
enciclopédia, ele rouba ideias de uma infinidade de autores, ele não
é mais plagiário, mas sim um respeitável pesquisador.
POLIGAMIA
– Casamento – de papel passado – entre mais de duas pessoas. Se
um homem é casado com mais de uma mulher trata-se de poliginia. Se
uma mulher é casada com mais de um homem, trata-se de poliandria.
Isso porque gineca quer dizer “mulher” e andros
quer dizer “homem” em grego.
A
língua portuguesa é riquíssima em palavras de origem grega.
Deveria, aliás, ser considerada uma língua neogrecolatina e não
neolatina, simplesmente.
Há
um ano (1988), um estudioso mineiro, depois de pesquisar durante uma
vida inteira, apresentou um dicionário filológico apenas de
palavras portuguesas derivadas do grego. Como estamos no Brasil,
nenhuma editora quis publicar o livro.
Batem
punheta com os best-sellers dos pobres babacas (Harold
Robbins) e com os dos ricos babacas (Kundera), mas para que ler um
dicionário desses se basta escrever o Brejal dos Guajas
(segundo Millôr Fernandes, a obra com o maior número de mancadas da
história da humanidade) para entrar para a Academia Brasileira de
Letras?
A poligamia pode ser legal, como em alguns emirados
árabes, ou ilegal, ocasião em que dá cana.
Em
algumas tribos da África e da Oceania, a poliginia às vezes se
fazia necessária, porque, eventualmente, após uma guerra, havia
falta de homens, ocasião em que um guerreiro podia se casar com
várias mulheres a fim de repovoar a tribo.
Na
América do Sul, o caso de poliginia mais conhecido aconteceu após a
guerra do Paraguai.
Corajosos
soldados brasileiros, uruguaios e argentinos, cumprindo ordens
inglesas, acabaram com quase todos os homens com mais de quatorze e
menos de setenta anos do Paraguai.
Uma
lei foi promulgada às pressas, permitindo que um homem casasse com
mais de uma mulher.
A
poliandria ainda é comum entre as tribos da Austrália, pois, com o
fim das guerras entre grupos aborígines, os homens acabaram por se
acostumar com o status de objeto de decoração.
Como
são mulheres que dão duro enquanto os machões se enfeitam, elas
decidiram que podem casar com quantos quiserem.
Como
vocês vêem, há quem não acredite no quase-axioma de que o
casamento é muito bom e que duros são apenas os primeiros cinquenta
anos.
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