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quarta-feira, junho 05, 2013

Canivete suíço completa 130 anos


O canivete suíço faz 130 anos de inovação em 2014. Antecipamos a comemoração de uma das maiores invenções do século 19

Até a invenção do smartphone, ele foi o rei dos bolsos espertos e o símbolo do homem elegante e prevenido. Entre os gadgets mecânicos, não tem rival – e não consta que seja possível fazer um parto com um iPhone.

Não foram as situações extremas, no entanto, que fizeram a fama do canivete suíço, mas a prontidão para toda eventualidade. Abrir o vinho no piquenique, consertar a haste dos óculos, apertar um parafuso ou apenas ser colecionado.

São 81 os "aplicativos" da versão mais completa, que inclui termômetro, barômetro e altímetro (e custa R$ 1.831).

O mecanismo que permite abrigar tantas lâminas dobráveis (existentes desde a Roma antiga) foi criado com precisão de relojoeiro em 1894, pelo cuteleiro Karl Elsener, cujos herdeiros continuam no comando da empresa.

Recentemente associado ao mercado de luxo por produtos que traem, de certa forma, sua vocação democrática, o canivete se mantém inoxidável na estima de consumidores e fabricantes.

“Ele sempre será o produto do coração”, diz Urs Wyss, executivo da Victorinox, marca líder de mercado, no QG da empresa.


 A fábrica fica no vilarejo de Ibach, no vale do canivete suíço, com lagos, montanhas nevadas e vaquinhas, todas suíças.

Se há um lugar onde de fato chove canivete, é ali. Desenvolvido para forjar diariamente 60 mil unidades, o maquinário cospe 360 modelos diferentes. O Brasil compra 100 mil unidades anuais.

Há ainda os modelos sob encomenda: com bisturi, para servir como brinde para médicos, ou o Master Craftsman, com que a Nasa equipava seus astronautas.

A Casa Branca costumava encomendá-los para presentear visitantes, como também fazia, nos anos 1970, o poderoso Henry Kissinger (secretário de Estado dos EUA entre 1973 e 1977), que fez estampar canivetes com o brasão do Departamento de Estado.

Os tempos de fato são outros – sobretudo depois do 11 de Setembro.

A proibição de carregar objetos cortantes em aviões foi uma punhalada na Victorinox, que fala em queda de 30% nos negócios, obrigando-a a intensificar a diversificação (roupas, bagagens, relógios) que já vinha desde 1989.

A proibição teria impedido, por exemplo, o salvamento de uma criança engasgada com uma bala durante uma viagem de avião, na Índia, em 1976.

O petiz foi salvo por um médico que fez uma traqueostomia com o canivete de um passageiro.
“Isso precisa ser dito na sua reportagem”, diz Wyss, com ar grave.


Existem ainda as amolações com as cópias chinesas – a Victorinox persegue judicialmente os falsificadores.
“Assim que ganhamos um processo, aparece um novo fabricante”, queixa-se Wyss.

Para completar, mínguam também as encomendas do cliente que ajudou a construir a grife.

A crise de 2008 forçou a redução de contingente do Exército suíço, que todo ano equipa com um canivete e um fuzil seus 10 mil recrutas, além dos oficiais.

Motivo de chacota do humorista Jerry Seinfeld, que protagonizou um quadro hilário em que soldados suíços tentam se defender com as inofensivas faquinhas, os modelos militares na verdade têm trava de segurança e lâminas próprias para o campo de batalha e podem ser usados como baionetas.

Há ainda modelos específicos para jogar golfe, para velejar e para operações de resgate –  este, fosforescente, é ideal para quebrar vidros de carros e faz microfuros no para-brisa.

Com tantas possibilidades ao alcance da mão, espanta que boas almas escrevam para a fábrica sugerindo novas funções, como integrar um smartphone ou um minikit de maquiagem, com espelho, batom e sombras.


Adotar as sugestões não está nos planos da Victorinox, afirma Wyss – o smartphone, diz ele, pode desvirtuar a vocação mecânica das faquinhas (ainda que já existam modelos com pen drive).

Já maquiagem não atende ao público-alvo da marca, eminentemente masculino.

A fábrica em Ibach mantém um serviço de reparação de canivetes enviados por clientes do mundo inteiro, que, a um preço simbólico (R$ 20), recupera relíquias de família.

O público volta e meia também envia, espontaneamente, relatos de façanhas realizadas com as minilâminas vermelhas: histórias de resgates no Himalaia, reparos na estação espacial Mir e aventuras nos sete mares, além de curiosidades como a do alemão que ajudou no comovente parto de uma jumenta.

Já o americano Gilbert Levin deixou o seu cair na estação de tratamento de esgoto onde trabalhava -e, quatro anos depois, ao esvaziá-lo para manutenção, encontrou-o praticamente intacto.

E, sim, parece ser real a história do Dr. John Ross, um médico canadense que fez pelo menos seis amputações com a serrinha do seu canivete, num hospital rural em Uganda.


Não tente fazer em casa – mas, caso precise, não deixe de esterilizá-lo com uma boa fervura, como fez o Dr. Ross.

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