Trótski está quebrando
a cabeça pra entender os protestos; ele acha que tem uma galera muito picareta
infiltrada neles
Ruy Goiaba
E aí o gigante acordou com uma ressaca medonha: aquela
moçadinha cheia de entusiasmo revolucionário no início da semana passada hoje
sente o gosto do cabo de guarda-chuva na boca.
No mundo das redes sociais, a decepção também é em tempo
real – antes do período galerozoico (copyright do blog Cersibon, que inspirou
também o título deste texto), a gente demorava anos ou décadas pra se
decepcionar com essas coisas.
A verdade é que estava todo mundo muito bêbado de si mesmo,
daquela sensação de estar participando de algo GRANDE e NOVO, tão diferente da
nossa vidinha medíocre.
“O povo na rua, que lindo! Praça Tahrir! Praça Taksim! Foto
minha no Instagram no meio de todo mundo! Revolução, EU FUI!”
E aí as coisas começaram a ficar feias, com o povo lindo
tocando o zaralho e protestando por coisas que Glorinha Kalil não aprovaria.
Talvez algo de novo tenha mesmo acontecido – e na dúvida,
quando o entusiasmo geral estava no auge, fiquei na minha: não quis bancar o
tiozão do EU AVISEI, até porque não avisei.
Não queria desafinar o coro dos contentes.
Mas, enfim, o mundo não é o John Lennon tocando “Imagine” no
piano branco, é o Mark Chapman e está armado.
De todo modo, meninos do Braziu, deixa o tio Goiaba contar
uma coisa pra vocês: idiotas também se manifestam.
Caso vocês não tenham notado, eles votam (e são votados, faz
muito tempo), e o votinho idiota deles vale tanto quanto o seu.
Isso vem no pacote da democracia e não pode ser vendido
separadamente.
Por mais que eu me irrite com aquela cavalgadura que tirou
foto com cartaz defendendo que quem recebe Bolsa Família não possa votar – o
que deve ser a coisa mais delirantemente CRETINA que li em todos esses anos
nesta indústria vital das redes sociais –, não se pode tirar dela o direito de
se manifestar ENQUANTO débil mental.
Vale o mesmo, aliás, pra quem porta bandeiras de partidos
que você acha cretinos.
Não faz sentido achar que protesto tem de ser só pelas
“causas certas”.
Assim como Paulo Francis, não tenho nada contra os imbecis
desde que eles não procriem, mas, se eles procriam e se manifestam, paciência
(e “rigor da lei” nos casos que forem além da manifestação legítima).
Os idiotas, assim como o inferno, são os outros – e o
resultado disso é que o idiota dos outros é você.
Como dizia o grande ídolo fanho Bob Dylan, “nós somos
idiotas, meu bem; é incrível que a gente consiga se alimentar sem ajuda”.
Já que a coluna de hoje trata de assuntos momentosos, aqui
vão meus dois centavos sobre o outro tema candente da semana que passou, a
história da “cura gay”: sou contra.
Pelo motivo mais egoísta possível.
Como disseram no Twitter (não lembro a arroba), se os gays
bonitos e sarados virarem héteros, será uma concorrência deslealíssima com a
minha barriguinha de chope.
Assim não pode, assim não dá!
RUY GOIABA também já
foi brasileiro, moreno como vocês – mas não aprendeu na mesa dos bares que o
nacionalismo é uma virtude. Não banca o tiozão do EU AVISEI, mas é tio do pavê
desde os 15 anos. E sabe que a revolução não será televisionada, mas pode
render lindas fotos sépia no Instagram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário