A onda de protestos realizada em inúmeras cidades
brasileiras é motivada por uma sensação de “mal-estar coletivo”, compartilhada
em especial pela juventude das grandes cidades.
O fenômeno, para muitos sociólogos, é mais social do que
político e concentra-se nas regiões metropolitanas, onde as sucessivas
políticas públicas executadas por governantes locais teriam deixado de atender
aos principais anseios da população, sobretudo os mais jovens.
Eles, no entanto, refutaram uma comparação com a chamada
Primavera Árabe, a onda de protestos ocorrida no Oriente Médio, que resultou na
derrubada de regimes autoritários.
Em suas interpretações sobre as causas dos protestos,
sociólogos e cientistas políticos destacam a insatisfação dos jovens com a
administração pública e com as condições de vida nas grandes cidades.
“Existe uma espécie de mal-estar difuso, sem um foco claro.
Há uma espécie de ressentimento e frustração de ordem social, alimentados por
um estilo de gestão que não oferece diálogo à população”, diz o sociólogo
Gabriel Cohn, ex-diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH-USP).
Cohn acredita que esse mal-estar também reflete “uma
insegurança dos jovens em relação a seu futuro. Nos últimos anos, o Brasil
passou por profundas transformações, o que gerou fortes expectativas dessa
camada social, e há uma ansiedade justificada por parte deles sobre se isso vai
se sustentar ou avançar nos próximos anos”.
Para o sociólogo Aldo Fornazieri, diretor acadêmico da
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), os protestos
são uma crítica à mobilidade urbana, sobretudo por parte dos jovens, que se
ressentem da falta de representatividade nas diferentes esferas de
administração pública.
“As manifestações refletem uma insatisfação sobre o modo
sufocante de viver nas grandes cidades, cada vez mais hostis à população em
geral. Isso cria uma espécie de uma anomalia social, uma sensação de não
pertencimento. Para piorar, o poder público não está conseguindo garantir
qualidade de vida aos moradores dos grandes centros urbanos”, diz Fornazieri.
A socióloga Angela Maria Araújo, da Unicamp, vê as
manifestações como um protesto dos jovens contra a gestão da cidade e a falta
de perspectivas geradas por uma educação deficiente.
Para ela, o movimento está principalmente relacionado “a um
descontentamento da parcela da população mais jovem com as condições em que
vivem nos grandes centros urbanos. O transporte é de péssima qualidade e o
trânsito, caótico”, disse.
Embora admitam que a convocação dos protestos por meio das
redes sociais é similar ao da Primavera Árabe, os especialistas descartaram uma
semelhança mais profunda com a onda de protestos que varreu o Oriente Médio.
“Diferentemente da Primavera Árabe, as manifestações aqui
não são contra o governo instalado”, diz Araújo, da Unicamp.
“Eles não querem derrubar o governante, mas ser ouvidos, ou
seja, que a política pública exista através do diálogo”, afirma Ismael, da
PUC-Rio.
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