Mouzar Benedito
Será que a criançada de São Paulo conhece tanajura? Duvido.
Ela é a rainha das formigas saúva, e não me lembro de alguma vez ter visto
saúva em São Paulo.
Em certa época do ano, um formigueiro produz um montão de
tanajuras, que têm asas e voam, e cada fêmea que cruza com um macho, perde as
asas e começa a cavar o chão para fazer um novo formigueiro.
Mas, de milhares de tanajuras, apenas uma ou duas conseguem
cumprir essa função, pois elas são uma comida apreciada por muitos passarinhos,
parte delas é comida voando e as restantes são pegas quando começam a cavar seu
ninho. Ainda bem. Ou o Brasil seria um vasto formigueiro.
E não são só os passarinhos que apreciam tanajura. Gente
também. Bunda de tanajura é grandona, gordurosa. Por sinal, outro nome da
tanajura é içá, palavra que em tupi significa gorduroso. Era uma iguaria
apreciada por índios e continuou sendo em alguns lugares, como no Vale do
Paraíba em São Paulo.
Monteiro Lobato era um que gostava delas. Quando havia
revoada de tanajuras em Taubaté, algum amigo dele entrava na brincadeira de
pegar as danadas, tirar a cabeça e encher um litro com bundas de tanajura, e
trazia para o escritor, em São Paulo.
O certo é que fritada de içá é considerada uma delícia.
Isso de comer içá, visto como folclore, agora vai se
tornando conhecido como hábito muito saudável, recomendado por nutricionistas
até para se tornar programa de governo.
Não só içá. A recomendação é que se coma muitos e muitos
insetos. Segundo certos estudiosos, para se produzir um quilo de proteína de
insetos gasta-se muito menos alimentos, como plantas, do que para produzir um
quilo de proteína de carne de vaca ou de frango.
Tem quem faça cara de nojo para isso, mas muitos insetos são
comidos por aí com muito gosto. Certos povos indígenas comem bicho de pau
podre, e os brancos que experimentaram dizem que é muito bom. Fiquei sabendo
também que a lagarta do coqueiro tem gosto de coco.
Mas o inseto que eu mais torço para que se torne comida
comum é o percevejo. Ele deve ser comido vivo, conforme mandam os gourmets.
Morre com uma dentada e tem gosto de maçã verde.
Já fui muito picado por percevejos abrigados em colchões de
certas espeluncas em que me hospedei. Era apagar a luz que os desgraçados saíam
dos seus esconderijos e vinham sugar meu sangue.
É hora da vingança. Agora a
gente é que vai morder os percevejos.
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