Áureo Petita, Luiz Lobão, Kepelé e Mazinho Santos com o primeiro uniforme oficial do Murrinhas do Egito (ex-Sancolzinho)
Junho de 1969. O Bar União ficava no cruzamento das ruas Carvalho Leal com J. Carlos Antony, em frente do atual posto de gasolina LM.
No Dia de São João, o dono do bar, seu Humberto (pai do Humbertinho, que depois se casou com a Mary Jane, irmã do Mário Adolfo), colocava um pau de sebo diante do boteco, que era uma das atrações do bairro.
O pau de sebo consistia de um mastro envernizado de oito metros de altura, cuidadosamente preparado: tiravam-se todos os nódulos de madeira, que depois era lixada, e passava-se sebo de boi, graxa ou qualquer outra substância gordurosa.
O pau de sebo recebia no topo um triângulo de madeira, no qual era amarrado um envelope com dinheiro, sendo o triângulo encimado por uma bola de futebol. O mastro era então fixado solidamente no chão.
A brincadeira consistia em tentar subir no pau de sebo para apanhar os prêmios.
Assim que seu Humberto liberava a brincadeira, a garotada ficava eufórica, mas o fato é que quanto mais os moleques se esfregavam no poste para tentar subir, mais ele ficava escorregadio.
Alguns mais espertos passavam areia nos peitos desnudos, para aumentar o atrito. Conseguiam, no máximo, ficar com os peitos lanhados.
Outros usavam uma espécie de peconha improvisada, semelhante aquela usada para subir na palmeira de açaí, mas a falta de habilidade os trazia irremediavelmente para baixo.
E havia ainda aqueles que apostavam no trabalho em equipe, em que um subia no ombro do outro tentando ganhar altura. No máximo, três garotos conseguiam manter o equilíbrio naquelas circunstâncias.
Em dias normais, mais de 100 moleques participavam da brincadeira. Os maiores de 16 anos apenas observavam.
Nesse dia, o moleque Dinho Marreta, de 15 anos, já havia feito mais de 30 tentativas frustradas, só que ele era brasileiro, não desistia nunca.
Por volta das 19h, Marreta já estava subindo quase sete metros e muito próximo de colocar a mão na bola quando sua mãe, Dona Bebê, surgiu do outro lado da rua mostrando um chicote e avisando que ele ia levar a maior surra da paróquia se não fosse direto pra casa.
Marreta desceu do pau de sebo e foi embora – apesar de já ter retirado com o próprio corpo mais de 50% da graxa original.
O moleque Áureo Petita, de 14 anos, resolveu substituí-lo na brincadeira.
Na décima tentativa seguida, Áureo conseguiu derrubar a bola, agarrar o envelope cheio de dinheiro e descer do pau de sebo sem correr risco de vida.
Ele ficou tão empolgado com o prêmio, que saiu correndo do bar para entregar as merrecas ao seu velho pai e atravessou a rua Carvalho Leal sem olhar pros lados.
Não deu outra. Foi atropelado violentamente por uma caminhonete Rural Willys e arremessado a uns dez metros de distância. Resultado: fratura exposta na perna direita.
A grande estrela do Sancolzinho passou um ano no estaleiro e, devido a uma série de complicações posteriores, quase teve a perna amputada.
Ninguém acreditava que ele ainda pudesse voltar a jogar futebol.
Em janeiro de 1971, entretanto, Aureo voltou a vestir a camisa 10 do Sancolzinho, em um jogo contra o Canarinho, de Petrópolis, no campo do Penarol.
O novo time do Marajara tinha alguns craques em início de carreira – Donga, Tobias, Irineu, os irmãos Ernâni e Eraldo, Mário Fó, Ferrinho –, mas não foi páreo para o nosso time, agora reforçado pelos endiabrados Zeca Boy, Nilton Torres e Mazinho Santos.
Aplicamos uma sonora goleada de 6 a zero, com Áureo fazendo um gol de placa, em que simplesmente driblou duas vezes seguidas toda a defesa do Canarinho, incluindo o goleiro, e entrou com bola e tudo.
O jogo marcou a ressurreição futebolística do nosso craque e o início de uma acirrada rivalidade entre os dois times que duraria por toda a década de 70.
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