Nos anos 50, “seo” Almir Graça, pai dos escritores Antonio Paulo Graça e Almir Graça e avô do jornalista Dante Graça, era o único despachante autorizado do rio Purus e morava na casa mais bonita de Boca do Acre, terra natal do deputado estadual Eron Bezerra (PCdoB).
Qualquer autoridade que visitasse Boca do Acre fazia questão de almoçar ou jantar na casa do “seo” Almir porquer sua esposa, dona Natércia, era uma quituteira de mão cheia.
O diabo é que de vez em quando a crise de desabastecimento aportava na cidade e era um salve-se quem puder.
Até o execrável mandi (o peixe de água doce preferido de onze em cada dez pessoas nascidas em Boca do Acre – perguntem do Eron) tomava chá de sumiço.
Para não morrer de fome, as pessoas se viravam como podiam.
Um domingo, no meio de uma dessas crises de desabastecimento, o novo juiz da Comarca se escalou para almoçar com a família do despachante.
O prato era uma fantástica galinha à cabidela com arroz carreteiro, uma das especialidades de dona Natércia.
Enquanto repetia o prato pela terceira vez, o juiz começou a falar sobre a hospitalidade de Boca do Acre:
– Isso aqui é que é terra boa pra se viver, seu Almir. É terra de gente simpática, trabalhadora, que não se mete em confusão. Aqui é tudo muito tranqüilo. Não tem assaltos, não tem crimes, não tem roubos...
O poeta Almir Graça, que na época tinha sete anos, resolveu meter sua colher de pau no pirão dos adultos:
– Roubo, tem sim, “sêo” juiz! Essa galinha aí, que o sinhô está comendo, num era nossa não, era da dona Mariquinha. A mamãe pegou ela na “marra”...
Quase que o moleque foi deserdado pela família.
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