Carolina Oms
Especial para Terra Magazine
Criadas despretensiosamente, escolhidas porque não dariam trabalho para desenhar, As Cobras, traçadas por Luis Fernando Verissimo, chegam agora ao seu quarto livro publicado: "As Cobras - Antologia definitiva", organizado pela Editora Objetiva.
Hoje com 35 anos, As Cobras "se meteram em tudo", conta o escritor. Analisaram a conjuntura política brasileira e se perguntaram pelas razões da existência. E como nem só de filosofia vive o homem, muito menos As Cobras, elas também criaram seu próprio time de futebol e foram à praia.
Nascidas durante a ditadura militar, As Cobras não pouparam críticas ao regime, mas nem por isso ficaram datadas:
- O que mudou depois da criação das Cobras, claro, foi que elas nasceram sob uma ditadura, quando precisavam se cuidar, e depois houve a abertura. Mas política continua basicamente igual, com ou sem repressão. (...) Oportunistas, corruptos, etc continuam atuais.
Em 2006, Verissimo criou para o lançamento de Terra Magazine uma série de tiras inéditas, e permitiu que fossem garimpadas de seu acervo pessoal, algumas Cobras clássicas, reeditadas a cada segunda-feira. Elas haviam se aposentado em 1997, quando o escritor concluiu que um sexagenário não ficava bem desenhando cobrinhas.
Tímido notório, o escritor conversou com Terra Magazine por email sobre suas personagens, eleições e humor. Leia a entrevista.
Terra Magazine - As Cobras foram criadas para substituir o texto da sua coluna, nas edições de sábado, mas agradaram e foram desenhas por quase trinta anos. Você imagina que elas fariam esse sucesso?
Luis Fernando Verissimo - Pois é, trinta anos. Eu não tinha me dado conta. As pessoas simpatizavam com As Cobras, e muita gente me diz que tem saudade delas, mas não sei se foram um sucesso tão grande assim.
A simplicidade do traço das Cobras contrasta com os temas debatidos - metafísica, política, sexismo, etc. Foi um contraste intencional?
No começo elas eram muito mal desenhadas, depois melhoraram um pouco. Mas o desenho não importava muito, só existia em função da piada. Cobra não dá muito trabalho para desenhar, é só pescoço. E seu formato permitia que elas se metessem em tudo.
Mais de três décadas depois, as tirinhas permanecem atuais, mesmo as que falavam sobre política. Pouca coisa mudou nesse aspecto? Por que isso acontece?
O que mudou depois da criação das Cobras, claro, foi que elas nasceram sob uma ditadura, quando precisavam se cuidar, e depois houve a abertura. Mas política continua basicamente igual, com ou sem repressão. Um personagem como o rinoceronte Mac (que não aparece no livro) e que representava o poder militar, não teria sentido, hoje, mas oportunistas, corruptos, etc continuam atuais.
O personagem Durex, o adesista, não parece cada vez mais atual? Pra você, quem seria o Durex de hoje?
Na época, o Durex representava o PFL. Hoje não sei quem seria, exatamente, o Durex, só sei que ele seria do PMDB.
Falando em política, esse tema sempre esteve presente no seu trabalho. O que você está achando dessas eleições?
Acho que temos três candidatos respeitáveis disputando a presidência e uma democracia em pleno funcionamento, e que o resto é detalhe.
O que você achou da proibição (ainda que temporária) do humor nestas eleições?
Foi uma grande bobagem, que felizmente não foi levada a sério.
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