O rabugento Jamelão veio fazer um show em Manaus e seus empresários o levaram para assistir ao programa “Carrossel da Saudade”, da TV Cultura.
Considerado um dos clássicos da tevê amazonense, com quase três décadas de exibição, o programa ao vivo rola sempre na sexta-feira e é ambientado numa espécie de botequim aberto ao público.
Apesar de ter uma banda fixa e um cast permanente de convidados, o programa também abre espaço para os cantores da velha-guarda que não foram pautados previamente, assim como para os velhos boêmios que queriam mandar o seu recado instrumental.
Quando o apresentador Jurandir Vieira percebeu a presença do cantor mangueirense em uma das mesas, ficou eufórico, já que é de praxe dos cantores ilustres que visitam o “boteco” televisivo darem uma palhinha, mostrando seus dotes vocais no programa.
Só que nada disso havia sido combinado antes com Jamelão.
Jurandir Vieira se aproximou da mesa, rasgando-se em elogios ao cantor:
– Este aqui é uma verdadeira enciclopédia ambulante do samba, o maior sambista vivo da atualidade, o mais consagrado intérprete de samba-enredo da história do carnaval carioca. Estou falando de sua majestade, Jamelão da Mangueira. E agora, com exclusividade, o graaaaaande Jaaaameeeelãããoooo!
Jamelão não moveu um músculo do rosto.
Jurandir insistiu, lhe entregando o microfone:
– Vai lá, mestre Jamelão, dê um refresco pra rapaziada...
Com sua voz rouquenha, Jamelão jogou a pá de cal:
– Vou dar não. Vocês não me pagaram nenhum cachê. Vim aqui pra assistir o show, não pra cantar. Quem quer que eu cante, tem de me pagar primeiro, compadre. Eu vivo disso, da minha voz. Não tô aqui pra dar refresco pra ninguém não, compadre. Se quiser que eu cante, me arrume um cachê. Se não, o papo michou.
E continuou impassível, sem mover um músculo do rosto.
Desconcertado e rindo nervosamente, Jurandir Vieira chamou o “break” comercial.
Jamelão permaneceu no programa até o fim. Sem cantar e sem mover um músculo do rosto.
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