Meu brother Euclides Amaral é poeta, letrista, produtor, pesquisador e outras coisas mais da MPB.
Nasceu no subúrbio carioca, Brás de Pina, no Rio de Janeiro. Entre 1973 e 1978 publicou poemas em várias antologias, periódicos e fanzines por todo o Brasil. Em 1977 foi para Brasília onde permaneceu por um ano. Voltou ao Rio de Janeiro e logo depois, foi para Lavras, Minas Gerais, em 1981, onde ficou um ano.
Já trabalhou como diagramador e arte-finalista de jornais e livros - escreveu artigos e matérias para diversos jornais e revistas. Trabalhou em emissora de rádio AM escrevendo roteiros para programas. É formado em Comunicação Social (Publicidade & Propaganda) - publicou vários livros de poesias, tem suas letras gravadas por uma infinidade de artistas.
Atualmente, Euclides Amaral está divulgando seu livro “Alguns Aspectos da MPB” que saiu pela Esteio Editora, com 321 páginas, em segunda edição. Nessa entrevista concedida a Elias Nogueira, ele conta um pouco de sua carreira.
Elias Nogueira: Fale do inicio de sua carreira.
Euclides Amaral: Comecei a escrever letras com 13 anos e até aos 17 somente me arriscava em fazê-las. Adorava poesia, mas nunca tinha feito uma, apenas colocava letras nas músicas do meu cunhado e do meu irmão, que tocavam violão e cavaquinho. Lá pelos 15 anos comecei a fazer letras pra outros parceiros músicos, entre os quais o Marko Andrade, aí a coisa tomou outro rumo. Profissionalmente comecei a participar de eventos, festivais, bares - liberar show na Polícia Federal (pelos idos de 1974/75 era necessário levar roteiro do show e as letras, fitinha cassete com a música) para fazer shows em Sescs etc. De mochila parei em Brasília em 1976, onde fiz letra pra samba-enredo de uma escola local e voltei pro Rio no final de 1977, já com um livro de poesia “Sapo c/ Arroz” que publiquei mimeografado, em 1979. A partir de 1976 participei da imprensa nanica da época publicando poesia por todo o país. Depois fui pra Lavras (MG) em 1981 agitando produção de shows, vendendo o meu livro de poesia “Fragmentos de Carambola” nas pracinhas e portas de shows etc. Voltei pro Rio em 1982 e fiz letras para peças de teatro e pequenos musicais com diversos parceiros (Marko Andrade, Rubens Cardoso e Moisés Costa), além de participar como ator e co-autor em três deles.
Você é formado em quê?
Sou formado em Comunicação Social (Publicidade & Propaganda – redação publicitária), contudo, sempre atuei mais no jornalismo impresso, como diagramador e arte-finalista de jornais, livros, revistas etc, além de escrever sobre cultura em geral, principalmente crítica sobre teatro (Nélson Rodrigues, meu ídolo) música, cinema e literatura. Atuei em emissora AM criando programas de ufologia, música latina e literatura, principalmente o cubofuturismo russo de Vlaldimir Maiakovski, Vielimir Klebenikov, Vassili Kameinski e Bóris Paternak, além de falar besteiras sobre horóscopo, que nunca acreditei.
Você é músico?
Não! Só escrevo letras e mesmo assim depois que a melodia chega pra mim, mas musicaram vários poemas meus. Não faço melodia. Tenho parceiros músicos muito mais capacitados pra isso. Além do mais, violão é o instrumento mais fácil de ser mal tocado e nessa turma já me incluíram e eu concordei.
Quantos livros publicados?
Publiquei seis livros de poesia, a saber: “Sapo com Arroz” (1979/2ª ed. 1984), “Fragmentos de Carambola” (1981), “Balaio de Serpentes” (1984), “O Cão Depenado” (1985), “Sobras Futuristas” (1986) e “Cynema Bárbaro” (1989). Publiquei um livro de contos em 1995 “Emboscadas e Labirintos” (Editora Aldeia) com influência de Jorge Luis Borges, Guimarães Rosa, Edgar Allan Poe e Rubens Fonseca, meus ídolos, além das influências dos HQs e RPGs. Publiquei em 2008 o livro de ensaios “Alguns Aspectos da MPB” e no ano seguinte “O Guitarrista Victor Biglione & a MPB” (Edições Baleia Azul) biografia do meu amigo Victor Biglione, que fiquei feliz quando ele me chamou pra escrevê-la. Grande músico e compositor. Como pessoa humana nem se fala, viramos amigos de infância. Só tem dois defeitos: ser botafoguense e salgueirense. Como portenlense e flamenguista estou tentando melhorá-lo! (risos) Foi do Victor a ideia do ensaio “A Contribuição estrangeira na MPB do século XVI ao XXI”, editado em 2008 no meu livro, porque o livro sobre ele só sairia no ano seguinte. Mas a brilhante idéia foi dele em nossos papos-etílicos pelos botequins de Copacabana.
Atualmente você está trabalhando em quais projetos pessoais?
Na divulgação da 2ª edição, pela Esteio Editora, do meu livro de ensaios “Alguns Aspectos da MPB” com 321 páginas e oito ensaios sobre o “Samba”, “Choro”, “Hip-hop”, “Funk” “Os letristas e a herança do provençal do século XI ao XXI”, “A MPB no cinema nacional de 1896 a 2010”, “A nova geração da MPB no século XXI” e “A contribuição estrangeira na MPB do século XVI ao XXI”, fruto do meu trabalho entre os anos de 1999 e 2010, atuando como pesquisador musical da Biblioteca Nacional, FAPERJ, PUC - Rio, FINEP, CNPq e Instituto Cultural Cravo Albin, para o qual produzi verbetes para as vertentes “Rock”, “Gospel”, “Choro”, “Samba”, “Pop” “Hip-hop e funk” editados no site dicionariompb.com.br, também utilizados no Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira (Editora Paracatu, 2006). Trabalho também no meu disco “Compasso brasileiro” (poemas & letras) com convidados interpretando minhas parcerias.
E sobre suas músicas gravadas?
A partir de 1978, produzi discos para selos, gravadoras e artistas independentes. Tenho gravadas parcerias com Big Otaviano, Bóris Garay, Cacaso, Carlos Dafé, Claudio Latini, Ivan Wrigg, Lúcio Sherman, Marko Andrade, Milton Sívans, Moisés Costa, Olten Jorge, Paolo Vinaccia, Renato Piau, Rubens Cardoso, Sidney Mattos e Xico Chaves. Entre meus intérpretes constam Anna Pessoa, Banda Du Black, Ceiça, Denise Krammer, Edir Silva, Elza Maria, Jane Reis, Jorge de Souza, Luiza Dionízio, Luiz Melodia, Martha Loureiro, Paulinho Miranda e Solange Pereira. Também gravei poemas nos CDs Conexão Carioca 3 (vários/2002), Quem são os novos da MPB? (vários/2003), Boas novas (de Sidney Mattos/2004), As tribos (de Rubens Cardoso/2006) e Receita para a vida (de Claudio Latini/2006-Noruega). Produzi o CD da minha parceria querida Eliane Faria (Alma Feminina – Selo ICCA, 2003), a série Conexão Carioca (1, 2 e 3) entre 1999 e 2002; disco do meu parceiro Marko Andrade (Aldeias Urbana, em 2000), enfim... uns 20. Em 2010 comecei a produção do meu primeiro disco de poemas e músicas. Já incrustei nove poemas das 15 músicas escolhidas e interpretadas por Elza Maria, Anna Pessoa, Marko Andrade, Reizilan, Namay Mendes, Ceiça, Pecê Ribeiro, Claudio Latini, Rubens Cardoso, Joel Nascimento, Sidney Mattos, Carlos Dafé, Lúcio Sherman e Big Otaviano.
E a nova geração da MPB?
No meu livro tem o ensaio “A nova geração da MPB no século XXI” que traça um pequeno painel dessa geração mais recente, além das táticas de guerrilha cultural empreendidas como estratégia na luta, desigual, contra grandes corporações que detêm esse mercado. Há uma luz no fim do túnel e não é um trem bala na contramão, como muitos queriam que fosse. O disco dependente (independente é o feito pelas gravadoras – independe do artista até a escolha do repertório que irá gravar) e toda a produção em home estúdio é hoje em dia responsável por quase 80% da prensagem de CD/DVD/SMD e Blue ray, entre outras mídias, das grandes indústrias do ramo. A Internet e todos os sites de relacionamento e disponibilização de áudio e vídeo vieram pra pulverizar essa distribuição artística, dando chances a artistas de exporem seus produtos. Às grandes corporações só restaram rever seu nefasto comportamento de 108 anos, se contarmos a partir de 1902 quando foram feitas as primeiras gravações mecânicas no Brasil pelas mãos de Fred Figner. Dessa nova geração gosto, também, além dos supracitados, da Dorina, Juliana Diniz, Diogo Nogueira, Teresa Cristina, Heloisa Helena, Karen Keldani e Fabiana Bittencourt, do Rio de Janeiro; Mariana Aydar, Luíza Maita, Fabiana Cozza, Verônica Ferriani e Terreiro Grande, de São Paulo; Mônica Feijó (PE); Socorro Lira (PB); César Nascimento (PI); Maninal e Katia Rocha do Espírito Santo; Aninha Portal (PA); Bárbara Mendes (MG); Ana Martel (AP) e outros que não lembro agora.
Um comentário:
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