Nos anos 60, o Bar do Aristides, localizado no cruzamento da rua Borba com a rua Parintins, na média Cachoeirinha, se transformou em um covil de biriteiros de carteirinha.
Todos eles se reuniam lá para beber cachaça, conversar em voz alta, discutir sobre futebol e depois brigar. Simples assim.
Entre os que batiam o ponto diariamente, estavam Mestre Carlos e seu filho Camisinha, ambos estofadores da melhor qualidade, Pedro Bala (que jurava ter dado porrada no Otinha), Pernambuco, Chico Popopô, Gabarito (extremamente obeso, mas sempre de paletó e com uma surrada valise 007 na mão), seu Boneco (ex-investigador da Polícia Civil), Mariola, Toinho, Zé da Voz, Bazam, Bobby Nelson, Nóia, Camões, Nazareno, Preto Jóia, Cumbuca, Tibica, Favela, Nego Lira, Zé Leso, Cabeludo, Carlinhos Branco, etc.
Pra completar, o boteco tinha portas de saloon – uma mini porta de madeira entre as paredes, na altura do peito do cidadão, que vai e vem de acordo com a ferocidade do pistoleiro.
Numa determinada tarde de sábado, Gabarito entrou no bar meio apreensivo. Ele procurou seu compadre Chico Popopô e explicou a situação:
– Ontem eu paguei geral pro Pernambuco lá no bar do seu Luiz e ele falou que vai me matar. O filho da puta está bebendo ali fora, para criar coragem.
– Porra, compadre, mas você tem duas vezes o tamanho do Pernambuco. Está com medo de que? – devolveu Chico Popopô.
– Compadre, ele está armado! No mano a mano, eu quebro ele todinho! Mas ele está armado! – explicou Gabarito, enquanto entornava a primeira dose de branquinha.
Uns dez minutos depois, o franzino Pernambuco, morto de doido, abre a porta do saloon e vocifera:
– Gabarito, filho da puta, te prepara pra morrer!
Dito isso, avançou em direção ao inimigo, com uma das mãos no bolso da calça.
Pensando tratar-se de um revólver, Gabarito soltou a valise 007 no chão e saiu correndo.
Pernambuco foi ao encalço dele.
Eles deram uma, duas, três voltas, entrando e saindo pelas portas do boteco, no maior escarcéu, até que um dos biriteiros presentes no pedaço resolveu melar a presepada e estendeu a perna na frente do Gabarito.
Ele desabou no chão.
Pernambuco aproveitou a oportunidade para tirar a arma do bolso e enfiar uma, duas, três vezes, no corpo do Gabarito, antes que a turma do “deixa disso” interferisse na confusão.
Gemendo, sem se mexer do lugar e implorando para que chegasse logo a equipe de paramédicos, Gabarito se limitava a admoestar Chico Popopô:
– Eu não te falei que ele estava armado, compadre? Eu não te falei? Ele agora me matou... Eu estou morrendo, compadre, eu estou morrendo...
Enquanto entornava mais uma dose de branquinha e tirava gosto com uma banda de limão, Chico Popopô foi direto na jugular:
– Te levanta daí, compadre, e deixa de frescura. A arma do Pernambuco era um garfo. O máximo que ele fez foi fazer meia dúzia de furos nesse teu bundão cheio de banha! Não carece nem tomar injeção antitetânica...
Gabarito obedeceu ao compadre. Meia hora depois, ele, Chico Popopô e Pernambuco haviam voltado a ser amigos de infância, apesar de o Gabarito ficar sem se sentar durante três dias.
Coisas do Bar do Aristides.
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