Reza a lenda que o escritor Carlos Castaneda (1935-1998) nasceu no Brasil, numa cidade do Vale do Paraíba, e passou a infância em uma fazenda próxima de Mairiporã, no interior de São Paulo.
A fazenda era de seu avô paterno e sua mãe foi provavelmente uma emprega doméstica.
Em várias entrevistas, Carlos Castaneda declarou que foi fruto acidental de um ato sexual muito rastaquera, uma vez que os pais mal se deram conta do que haviam feito, já que eram muito jovens (15 e 17 anos).
Supostamente, o escritor teria passado a infância nessa referida fazenda, com visitas periódicas do seu pai.
Adolescente, ele foi continuar seus estudos na Argentina, país que abraçou como verdadeira terra natal.
Alguns anos depois, com ajuda paterna e muito esforço próprio, Castaneda foi para Los Angeles (EUA), fazer antropologia na UCLA.
Depois de formado, começou a escrever uma série de livros – e o filho da puta que tiver mais de 50 anos e não leu Carlos Castaneda merece ser morto a pedradas em uma praça pública de Teerã.
Os livros de Castaneda são autobiográficos e, por terem um conteúdo extraordinário para os ordinários, muitas vezes são considerados fantasiosos.
O primeiro livro que li, por volta de 1973, era “A Erva do Diabo” – o título, por si só, já era uma bandeira.
Ele me foi emprestado pelo hoje advogado e meu compadre Carlos Almeida, atual procurador-geral do TCE – na época, meu colega de classe na ETFA.
Há alguns anos, na cerimônia de posse como procurador do TCE, Carlos Almeida recitou um dos aforismas favoritos de Don Juan (“Não existe caminho onde não haja coração!”), para explicar porque havia deixado a engenharia para se dedicar ao direito.
Os livros de Castaneda, em linhas gerais, são um relato de seu aprendizado com o brujo Don Juan Matus e de suas experiências de iniciação à feitiçaria, entendida como um conhecimento formado a partir da antiga cultura tolteca pré-colombiana.
Juan Matus é um nome falso, na medida em que nomes têm poder e não devem ser manipulados em vão (sim, o brujo Paulo Coelho bebeu na mesma fonte e se transformou em escritor best-seller tornando mais acessível à ralé os conceitos de Don Juan...).
O que se sabe é que, um belo dia, Castaneda deixou a Califórnia de lado e caiu na estrada a fim de levantar dados para sua tese de doutorado, cujo assunto era o uso de plantas medicinais entre os índios mexicanos.
Preencheu muitas páginas com anotações e entrevistas nessa pesquisa (todos os livros dele estão disponíveis na rede mundial no formato PDF. Procurem e curtam).
Alguns anos depois, ele resolveu ir atrás de informações diretas sobre alucinógenos usados em rituais religiosos, como o peiote, a erva do diabo (estramônio) e o cogumelo mexicano.
O peiote já havia sido objeto de pesquisa ocidental acadêmica.
Os cientistas haviam sintetizado o seu agente químico, a mescalina.
Aldous Huxley tomou essa droga e sua experiência serviu de base para o ensaio “As Portas da percepção” e “Céu e Inferno”.
Um estudante universitário chamado Jim Morrison leu um dos livros de Huxley e resolveu batizar sua banda com o nome de The Doors. O resto é lenda, história, imaginação.
Esse nariz de cera foi apenas para dizer que o último livro que li do Carlos Castaneda se chamava “O Presente da Águia” e que tratava basicamente de um conceito chamado iluminação.
Naquele final da década de 60, (pois é, eu estava com 14 anos), estava ocorrendo o ápice da era paz e amor, quando os jovens da minha idade ouviam rock (rock mesmo, não essa vagabundagem emulada pelos “emos”) e buscavam alternativas de viver.
Foi nesta época que Carlos Castaneda, recém formado em antropologia, resolveu pesquisar sobre o uso das plantas medicinais entre os indígenas mexicanos.
Durante sua viagem ao Norte do México, Castaneda viu sua vida completamente transformada, por conta de uma antiga ciência conhecida como feitiçaria.
Através de um índio yaqui, ele foi iniciado nas artes da magia, jogando por terra tudo o que havia aprendido até então.
E foi com seus novos pensamentos que ele se tornou um dos gurus de toda uma geração.
Com o tempo, o sistema de crenças e interpretações que ele se dispôs a estudar terminou por envolvê-lo de tal maneira que o pesquisador se tornou o próprio objeto do estudo.
No livro “O Presente da Águia”, Carlos Castaneda mergulha no coração da magia, desafiando as crenças de que tudo o que é real é lógico.
Pois hoje eu estou iluminado, radiante, esfuziante.
Se fosse uma galinha de vanguarda, asseguraria, inclusive, que estou chocado: meu filho caçula, Marcus Vinicius, deve estar desembarcando na Itália a qualquer momento.
Único candidato do Norte-Nordeste do país a ser selecionado para cursar mestrado em Designer da Comunicação na Faculdade Politécnica de Milão (concorreu com seis mil brasileiros, passaram oito), ele vai em busca da realização de sua lenda pessoal.
O sacana aprendeu sozinho o idioma italiano. "Estudei através de músicas, mídias sociais e livros especializados", confessou.
Marcus Vinicius também fala fluentemente inglês, espanhol e russo. Está se preparando para estudar mandarim. Não, não é milionário. Seu pai nunca foi ex-ministro.
Para ser aceito pela faculdade de Milão, o moleque teve que provar proficiência na língua italiana.
Sua prova foi feita na federação das entidades culturais italobrasileiras do estado de São Paulo.
Ele foi contemplado com uma bolsa no valor de 3 mil euros, que custeará todo o curso. Vai ficar por lá, no mínimo, três anos.
Os gastos com alimentação, transporte e moradia, infelizmente, ele vai ter que arcar sozinho.
A amazonense Astrid Lima, que mora em Roma há duas décadas, me garantiu que o Marcus pode sobreviver parcimoniosamente em Milão com mil euros por mês (R$ 2.200,00) - aproximadamente o salário mínimo do país.
O sacana viajou com dois mil euros no bolso (o que significa que vamos ter de enviar mais grana antes do fim do mês), um sorriso nos lábios e todos os sonhos do mundo.
Provavelmente nunca mais verei o moleque – e ele não é louco de deixar a Itália para voltar pro Brasil, essa terra arrasada que os ignorantes de ocasião estão fazendo de tudo para perpetuar no atraso (mais oito anos de petralhas no poder me parece o começo do fim do mundo).
Tirando o orgulho de lado, meus votos de louvor vão para a Marilene (essa louraça belzebu aí de cima, mãe do moleque), Maíra (irmã do moleque, também filha da Marilene, que deve fazer mestrado em Jornalismo a partir de janeiro, na Irlanda), Dona Dadá (avó, minha sogra e mãe de criação do moleque) e Toni Pinheiro (tio, cunhado e tutor do moleque).
Foram eles que pegaram o pião na unha e o colocaram no seu devido lugar.
E são responsáveis diretos por esse meu presente da águia nessa quinta-feira sem graça.
No mais, curtam esses aforismas de Don Juan enquanto me preparo para conhecer Atalaia do Norte, que fica bem ali:
"To seek freedom is the only driving force I know. Freedom to fly off into that infinity out there. Freedom to dissolve; to lift off; to be like the flame of a candle, which, in spite of being up against the light of a billion stars, remains intact, because it never pretended to be more than what it is: a mere candle." (Don Juan in “Viagem a Ixtlan”)
“It doesn't matter what one reveals or what one keeps to oneself. Everything we do, everything we are, rests on our personal power. If we don't have enough personal power the most magnificent piece of wisdom can be revealed to us and it won't make a damn bit of difference”. (Don Juan in “Uma Estranha Realidade”)
“Do you know at this very moment you are surrounded by eternity? And do you know that you can use that eternity if you so desire?” (Don Juan in “O Quarto Círculo do Poder”)
“It's better to get something worthwhile done using deception than to fail to get something worthwhile done using truth.” (Don Juan in “O Presente da Águia”)
Valeu, moleque! 'Brigado, Marilene, Maíra, Dadá e Toni: vocês são o orgulho da raça!
Um comentário:
Muito bom, tudo a ver, tivemos grupo de estudos do xamanismo castaneda em serra negra-sp, e a matrix....abracos.
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