Depois de abandonar o futebol, Aureo Petita se transformou em churrasqueiro de responsa: ele se amarra em enfiar um ferro nas carnes
Junho de 1981. O Penarol vai enfrentar o Fast Clube, no Estádio Floro Mendonça, em Itacoatiara, precisando vencer a partida para se classificar automaticamente para o quadrangular decisivo do campeonato amazonense daquele ano, sem depender de outros resultados.
Novo reforço do time, o meia-armador Aureo Petita estreou contra o Sul América, no Estádio da Colina, em Manaus, na semana anterior, fez um gol, deu passes para outros dois, foi escolhido o melhor jogador em campo e se transformou na grande esperança dos torcedores itacoatiarenses para essa nova partida.
Ele vai jogar oficialmente na terra da Pedra Pintada pela primeira vez.
No vestiário, o quarto-zagueiro Lucio Preto se aproxima do meia-armador e explica a situação:
– O nosso técnico acha que você ainda não está na sua forma física ideal e me pediu para te dar essas vitaminas! É um composto de vitamina C, outro de complexo B e outro de cálcio, selenium e sais minerais...
Inocente, puro e besta, Aureo Petita pega da mão do quarto-zagueiro as três pílulas, uma de cada cor, e engole com um copo d’água.
O estádio está completamente lotado. Quando o jogo começa, Aureo Petita já está na ponta dos cascos.
Ele corre o campo inteiro, bate tiro de meta, cobra escanteio, tira lateral, dribla, dá carrinhos, disputa bola de cabeça, divide bolas com zagueiros, tromba, dá balãozinho, chagão, drible da vaca, enfim, inferniza pra valer a defesa fastiana.
O jogo, entretanto, permanece zero a zero, apesar de ele já ter deixado o atacante Carioca na cara do gol umas quinze vezes.
No intervalo, enquanto seu time entra no vestiário, ele permanece no campo, elétrico, dando uma volta olímpica atrás da outra, cada vez imprimindo maior velocidade.
A torcida do Penarol vai ao delírio.
Mal a partida recomeça, Aureo Petita faz um lançamento pra ele mesmo, do círculo central para a entrada da área do Fast Club, ganha na corrida dos zagueiros e do goleiro e enche o pé.
A bola estufa o véu da noiva. Penarol 1 a zero.
Dez minutos depois, Aureo Petita bate um escanteio na primeira trave, um zagueiro devolve de cabeça pra fora da área, Aureo Petita sai correndo da bandeirinha de escanteio em direção à bola rebatida pelo zagueiro, quase na intermediária, e, sem deixar a bola cair, bate de voleio, com violência.
A bola faz uma curva magnífica e estufa o véu da noiva, exatamente no ninho da coruja. Penarol 2 a zero.
Na arquibancada, os torcedores fazem um verdadeiro carnaval.
O meia-armador está com a macaca. Ele continua correndo o campo todo, procurando pela bola, esteja ela onde estiver.
Faltando cinco minutos para acabar o jogo, ele toma uma bola do ponta-esquerda fastiano Orange quase na entrada da área do Penarol, e volta célere em direção ao gol fastiano.
Na sequência, dribla o volante Zé Luiz, dribla o meia-armador Mário Gordinho, dribla o volante Fabinho, se livra de um chute do zagueiro Marcão, dá um balãozinho no lateral direito Carlos Alberto, dribla o goleiro Ricardo, e rola a bola limpa para Carioca empurrar pro gol. Penarol 3 a zero.
Mal o jogo termina, Aureo Petita sai correndo do campo direto para a concentração do clube, a cinco quilômetros do estádio.
Ele troca de roupa rapidamente e sai correndo até o Bar do Jaime, no bairro da Colônia, a cinco quilômetros da concentração.
Passa dois dias e duas noites bebendo no boteco sem se levantar nem para urinar.
Foi resgatado pelo Lucio Preto, que o levou de volta pra concentração, onde passou três dias dormindo.
Somente muitos anos depois, ele soube que em vez de vitaminas havia ingerido disbutal, panbenil e mandrix.
Nenhum comentário:
Postar um comentário