Dominguinhos do Estácio ia chegar a Manaus numa terça-feira para fazer uma série de apresentações diárias até domingo, quando descobriu que havia uma noite livre na sexta-feira.
Ele ligou para Edu do Banjo para saber se não havia como ele fazer uma apresentação naquela data, para levantar um troco extra.
A diretoria da Associação Atlética Banco do Brasil se interessou pela idéia e “comprou” o show do cantor, que seria realizado na sede da AABB exclusivamente para os sócios.
Edu do Banjo ficou encarregado de vender as mesas a preço simbólico, suficiente para pagar o cachê do cantor.
O bancário Nailson Brito, um pernambucano da gema, bastante chegado a uma cachaça de cabeça e a um forró pé de serra, ficou tão empolgado que comprou cinco mesas.
No dia do show, Nailson Brito era o mais empolgado, comandando 25 pessoas nas cinco mesas armadas a dez metros do palco.
Depois do pré-show de um grupo de pagodeiros locais, Dominguinhos assumiu o microfone e começou a cantar meia dúzia de sambas-enredo, daqueles de não deixar ninguém parado.
Aí enveredou por partidos-alto, pagodes, sambas-canção, samba-raiado, marchinhas, o diabo a quatro.
Quando encerrou o show, duas horas depois, foi aplaudido de pé por todo mundo.
Por todo mundo, não.
O bancário Nailson Brito estava mais enfezado do que siri na lata.
Ao enxergar Edu do Banjo, ele foi direto na carótida do instrumentista:
- Que merda foi essa, Edu, que merda foi essa? Vocês vão ter que devolver o dinheiro que eu gastei comprando essas cinco mesas...
Sem entender direito o que estava acontecendo, Edu resolveu interpelar o sujeito:
- Se acalme, mestre, se acalme! O que é que está pegando?...
- Porra, Edu, isso aí foi uma tremenda enganação! – vociferou o sujeito, mais pra lá do que pra cá. “Trago toda minha família pra ver o Dominguinhos, e o que acontece? Ele só canta músicas que nunca a gente ouviu, não traz a porra da sanfona de 80 baixos, ninguém da banda sabe tocar zabumba ou pandeiro e, pra completar, aquele puto nem se lembrou de cantar Asa Branca... Que merda foi essa, Edu, hein? Que merda foi essa?...”
Foi um saco explicar que Dominguinhos do Estácio não tinha nada a ver com Dominguinhos do Acordeom.
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