Mazinho (de suiças a Elvis Presley), Aureo Petita, Luiz Lobão, Paulo César Dó e Arlindo Jorge durante uma das célebres brincadeiras na Cachoeirinha. Na mesa, Orlando dando um migué na gatinha.
Novembro de 1968. Tendo como técnico o gente fina Popó, o Sancolzinho vai enfrentar o badalado Náutico, de Santa Luzia, no campo do Velódromo (hoje, no local, está o Habib’s, na rua Silves).
O campo do Velódromo media 90 X 45 metros e era, em sua maior parte, gramado.
Nas laterais do campo ainda se via o concreto armado da antiga pista de corridas de motocicletas.
As arquibancadas eram de alvenaria. O campo também possuía salas de reuniões, vestuários e banheiros, e era muito arborizado.
A principal estrela do Náutico era um moleque aloirado de 13 anos, chamado Mário Gordinho Filho.
Seu pai, Mário da Cruz Gordinho, tinha sido duas vezes campeão pelo Auto Esporte (1956 e 1959) e artilheiro do campeonato estadual de 1959, com 25 gols (o 2° colocado, Pratinha, do Nacional, fez 15 gols).
Em 1957, ele havia feito 26 gols, mas ficou em 3º lugar na artilharia. Os times amazonenses só se tornaram profissionais a partir de 1964.
Como os times eram infanto-juvenis, havia um acordo tácito de que só poderiam participar das partidas os menores de 15 anos.
No Velódromo, essa regra foi subvertida: lá, os moleques deviam passar sob um sarrafo colocado a 1,65 m do chão. Quem não derrubasse o sarrafo com a cabeça, entrava em campo.
Resultado: nosso ponta de lança Luiz Lobão, que tinha 13 anos e 1,70 m de altura foi barrado. O zagueiro Sidão (14 anos e 1,85 m de pele e osso), nem chegou a se equipar.
Em compensação, Edmar Macaco, um caboquinho entroncado de 19 anos, mas que media apenas 1,60 m, entrou em campo para defender o Náutico. Uma zorra!
O time do Náutico jogava em função de Mário Gordinho e Edmar Macaco. Os dois eram excelentes dribladores, tinham excelente domínio de bola e uma apurada visão de jogo.
Não bastasse isso, o filho da puta do Macaco corria feito um velocista jamaicano.
Bastava a gente se distrair um pouquinho, para o Mário Gordinho enfiar uma bola por cobertura e deixar o Macaco na cara do gol.
Apesar das defesas milagrosas do Mário Adolfo, o primeiro tempo terminou 2 a zero pro Náutico, dois gols do Macaco.
No intervalo, o técnico Popó resolveu apelar. Ele chamou os zagueiros Gilson Cabocão e Airton Caju e explicou a nova tática:
– Negócio seguinte. Tu, Gilson, vai colar no Edmar Macaco e tu, Airton, vai colar no Mário Gordinho. Mas é pra colar mesmo, não é pra apenas marcar de perto não. Pra onde eles forem, vocês vão atrás, sempre colados neles. Se eles caírem pra esquerda, vocês caem pra esquerda. Se eles caírem pra direita, vocês caem pra direita. Se eles recuarem para a intermediária, vocês recuam juntos. Se eles saírem do campo pra mijar, vocês também saem juntos pra mijar. Não percam eles de vista. E sempre colados, fungando no cangote deles. Na hora em que eles receberem a bola, se joguem em cima deles, agarrando pela cintura e levando pro chão. Eles dois não podem mais tocar na bola, falou?
A presepada deu certo. Gilson Cabocão encostou tanto nas costas do Edmar Macaco que quase saiu uma porrada entre os dois quando o atacante percebeu que o zagueiro lhe marcava de pau duro.
Com 15 minutos de jogo e 15 quedas no chão, Mario Gordinho alegou uma distensão na coxa e pediu pra sair. Sem seus melhores atletas, o Náutico se transformou em um barco sem quilha.
O inspirado Áureo Petita (2 gols de placa) e o estabanado Kepelé (3 gols de cabeça) garantiram a goleada.
O Áureo saiu de campo como o melhor jogador da partida e com convite para jogar em pelo menos uns 12 times.
Os dirigentes da Liga do Velódromo (era um dos campeonatos mais concorridos do bairro) só faltaram nos implorar para que participássemos da disputa oficial do próximo ano.
A gente topava desde que a idade dos atletas fosse atestada por um documento de identidade e não pela passagem do atleta por baixo de um sarrafo.
Devia ser um campeonato com muitos ”gatos” (moleques que diminuem a idade para continuar participando das divisões inferiores), já que eles sequer aceitaram discutir o assunto.
Quem perdeu foram eles, privados de acompanhar a ascensão do fabuloso Áureo Petita, o melhor jogador da Cachoeirinha de todos os tempos.
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