Mestre Louro, Zinho, Kepelé, Luiz Lobão e as periguetes do Clube Municipal
Fevereiro de 1968. Tendo como técnico o gente fina Popó, o Sancolzinho vai fazer sua estréia como equipe de futebol enfrentando o indigesto time infanto-juvenil do Juventus, da Raiz, no campo do União (hoje, no local, está o Conjunto Solimões, na rua Tefé).
O campo do União media 100 X 70 metros. Era de barro, revestido por uma finíssima camada de areia, e ficava encravado em meio a um bosque, repleto de árvores frutíferas. Era um dos melhores campos de futebol da época.
No nosso time, o mais velho é o franzino goleiro Mário Adolfo (14 anos). No time adversário, o mais novo é o musculoso Kelebreu (16 anos).
Anuncia-se um massacre, não pela qualidade técnica do Juventus, mas porque seus atletas são uns verdadeiros galalaus – a maioria deles já fazendo o serviço militar.
Além disso, eles jogam armados de chuteiras enquanto a maioria do nosso time joga descalço ou de conga.
Com dez minutos de jogo, o nosso habilidoso ponta de lança Luiz Lobão (13 anos) já foi vítima de três tentativas de homicídio praticadas pelo famigerado zagueiro Mucurinha (18 anos). Suas canelas estão minando sangue.
Enquanto Luiz Lobão recebe os primeiros socorros, Mucurinha ainda tem o desplante de ficar roçando a chuteira numa pedra de amolar faca, para que os pregos dos travões fiquem mais expostos e afiados.
Na base do “chuta pro mato que o jogo é de campeonato”, a gente consegue sustentar um heróico zero a zero no primeiro tempo.
No intervalo, dando pedaços de gelo para os atletas, o técnico Popó limita-se a pedir calma:
– Não vamos entrar no jogo deles e aceitar provocação! Vamos fazer o que a gente sabe: tocar de primeira e sair jogando, tocar de primeira e sair jogando!...
No segundo tempo, a pedreira continua. O time deles nos caçando em campo e a gente se livrando dos coices milagrosamente.
Quase no final da partida, Áureo Petita (13 anos) enrola as duas pontas do calção até aquilo se transformar em uma espécie de tanga – era um tique que ele tinha sempre que ficava nervoso, talvez uma evocação inconsciente aos poderes de Tarzan, o homem-macaco – e resolve estragar a festa: dribla um, dois, três, quatro sujeitos, dá um corta luz no goleiro, e entra com bola e tudo. Sancolzinho 1 a zero.
Os caras se aborreceram de vez.
Nos cinco minutos derradeiros, eles foram com tudo – torcedores inclusos – pra cima do nosso time, mas Mário Adolfo, com uma série de defesas milagrosas, garantiu o placar.
Mal o juiz encerrou a partida, eles já estavam exigindo uma revanche.
E pra mostrar que continuavam “muy amigos” resolveram só nos deixar sair de campo depois que cantássemos em uníssono um velho sucesso da Jovem Guarda, na voz de Leno: “Eu tenho febre, de carinho, / Febre desse teu amor. / Febre meu benzinho, / Pois você me dá calor”.
O acompanhamento musical era na base do pescoção.
O técnico Popó limitava-se a pedir calma:
– Não vamos entrar no jogo deles e aceitar provocação! Vamos fazer o que a gente sabe: cantar direitinho e ir embora sem olhar pra trás...
Não deu outra.
Sem parar de cantar a música do Leno e recebendo seguidos pescoções de umas 20 pessoas, o nosso time foi comboiado pelo time do Juventus até o igarapé da Cachoeirinha, onde, finalmente, nos deixaram em paz – até porque eles não eram bestas de nos enfrentar em nosso próprio território.
De qualquer forma, aquela saída de campo foi um vexame!
E ninguém até hoje sabe porque aqueles desgraçados gostavam tanto daquela música do Leno...
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