Gary Graff (*)
The New York Times Syndicate
Olhando para o mar de celulares erguidos em Comerica Park, sua cidade natal em Detroit, Eminem está visivelmente emocionado para sair de seu personagem rude Slim Shady e dizer aos fãs como realmente se sente. "Detroit", ele grita, "é bom pra caramba estar de volta". Ok, ele não disse "caramba". Mas pode ter certeza de que o artista campeão de vendas de discos da primeira década do século 21, com 78 milhões de álbuns vendidos, está de volta. Depois de passar por reabilitação de drogas e autoanálise intensa, ele está de volta com tudo.
Seu retorno veio com "Relapse" (2009), seu primeiro álbum novo em quatro anos. Ele estreou no 1º lugar da parada Billboard 200 e vendeu mais de 3 milhões de cópias em todo o mundo, mas Eminem considera sua verdadeira volta o disco - apropriadamente - intitulado "Recovery" (recuperação, em português) deste ano. Seu 7º álbum de estúdio também estreou no 1º lugar em julho, recebendo em dois meses dois discos de platina. Passou sete semanas não consecutivas no topo da parada, enquanto os dois primeiros singles - "Not Afraid" e "Love the Way You Lie", com a participação de Rihanna - também chegaram ao primeiro lugar.
"Not Afraid", a propósito, foi "apenas" o segundo single de rap e a 16ª canção de qualquer estilo a estrear no primeiro lugar na parada de singles. "Estou obviamente feliz com a forma com que receberam o álbum", diz Eminem, de 37 anos, falando por telefone de seu estúdio no subúrbio de Detroit, pouco antes do show no Comerica Park, um dos quatro da série "Home and Home" que ele fez com o rapper Jay-Z, de Nova York. "O que realizei com isso, não sei. Estou feliz por estar aqui, por ter uma carreira tão longa quanto a que tive. Eu me sinto abençoado por estar no jogo há tanto tempo".
A estrada até "Recovery" foi difícil, cheia de buracos muito públicos. Em 2005, Eminem - que nasceu Marshall Mathers 3º no Missouri e se mudou para Detroit na adolescência - tinha conquistado o mundo da música e dado um passo significativo no mundo do cinema, com seu filme semiautobiográfico "8 Mile – Rua das Ilusões" (2002), que gerou o ganhador de Oscar e Grammy "Lose Yourself". Suas letras com humor negro ultrajante, criticadas por alguns como misóginas e gratuitamente violentas, abriram um nicho distinto para ele no hip-hop e, no final, o conduziram ao mercado pop geral.
Apesar dos triunfos, Eminem foi mantido calado por causa de um vício em analgésicos e pílulas para dormir, se internando em um hospital logo após o término de sua turnê "Anger Management", em agosto de 2005, e posteriormente sofrendo uma overdose de metadona em 2007. No mesmo período ele passou pelo segundo divórcio de sua esposa, Kim, e da morte a tiros de seu amigo e companheiro de palco, DeShaun "Proof" Holton.
Quando Eminem finalmente ficou sóbrio no início de 2008, ele tinha um bocado de escombros para revirar. "Todo esse processo de recuperação foi uma aprendizagem para mim", reconhece o rapper, que tem uma filha de 14 anos, Hailie, e também ajuda a criar uma sobrinha adolescente e a filha mais nova de sua ex-esposa. "Ao passar por isso, meio que mudei como pessoa. Ocorreram muitos passos de bebê que levaram a coisas maiores, mas reencontrar minha firmeza foi uma jornada por si só".
"Relapse não me fazia sentir nada"
Eminem agora considera "Relapse" e "Encore" (2004), ambos ganhadores do Grammy, como obras menores em seu catálogo. Ele é claro a respeito das falhas do primeiro em "Recovery", declarando que "eu tenho que provar algo aos fãs, eu sinto que os decepcionei". "Eu acho que é possível olhar 'Relapse' como se estivesse assistindo minha jornada de saída dos vícios e aprendendo a fazer rap de novo, mas as canções que gravei eram insípidas emocionalmente. Acho que eu estava tentando provar a mim mesmo que podia fazer de novo. E, no meio disso, talvez tenha me perdido um pouco".
Eminem redescobriu no final seu mojo criativo, ao voltar e escutar seus trabalhos mais antigos, canções potentes como "Like Toy Soldiers" (2004), "Mockingbird" (2004) e todo o "The Marshall Mathers LP" (2000). "Eu queria canções que poderiam ser colocadas no CD e fizessem você sentir algo. Senti que muitas das canções em 'Relapse' não me faziam sentir nada. O que eu queria de volta eram canções que provocassem certas emoções, independente de quais fossem".
Apesar de ter planejado inicialmente um álbum "Relapse 2" com material das mesmas sessões - ele lançou em dezembro uma versão estendida chamada "Relapse: Refill" - Eminem teve um avanço criativo no verão de 2009, enquanto estava de férias no Havaí com seu mentor, Dr. Dre. "Durante aquela viagem, eu gravei umas 15 canções, e acho que a segunda metade delas me fizeram sentir que estava mais parecido comigo. Então, quando voltei para Detroit, senti que estava começando a voltar a ser eu mesmo".
Os planos para "Relapse 2" foram descartados e "Recovery" começou a ganhar forma, quando Eminem começou a aceitar contribuições e produção de novos colaboradores, entre eles Just Blaze, Boi-1da, Havoc, Jim Jonsin, DJ Kahlil e o colega de D-12, Denaun Porter, que assumiu o posto de Proof ao lado de Eminem no palco. "Isso me deu uma folga", diz Eminem, que estima ter gravado de 25 a 30 canções, além das 17 do álbum. "Isso me deu uma chance de sentar com a caneta e não ter que me preocupar com o ritmo, porque já tinham feito para mim. Foi uma forma de ter um som diferente a partir de várias pessoas diferentes e uma forma de equilibrar o álbum".
Parceria com Rihanna
"Love the Way You Lie", uma reflexão sobre relacionamentos abusivos e disfuncionais, surgiu "meio que na última hora da gravação", ele diz, criada por Alex da Kid e passada pelo empresário de Eminem, Paul Rosenberg. "Paul meio que disse, 'eu sei que você já terminou a gravação, mas escuta isto'", lembra Eminem. "Assim que ouvi a faixa, eu pulei. O refrão me tocou".
Isso também lhe deu a chance de trabalhar com Rihanna, ela própria uma vítima de abuso doméstico nas mãos do ex-namorado, Chris Brown. "Eu ficava mencionando para o pessoal ao meu redor no estúdio que a Rihanna é da hora. 'Que tal eu gravar uma canção com ela?'", conta Eminem, que também trabalhou com Lil Wayne e Pink em "Recovery". "Ela é uma vocalista supertalentosa, mas eu não queria procurá-la até ter a canção que considerasse certa. Eu tratei [de 'Love the Way You Lie'] tendo ela em mente. Fiquei empolgado por ela ter topado fazer o refrão".
Com o sucesso criativo e comercial de "Recovery", Eminem sente que está de volta ao caminho que perdeu há cinco anos e pronto para seguir em frente. Ele está no estúdio "provavelmente cinco dias por semana", mas até agora ele não tem planos firmes para o próximo álbum. "Eu só faço música e sempre gosto de compor, apenas para permanecer mentalmente no meu jogo".
Eminem também está trabalhando arduamente para permanecer pessoalmente nos trilhos. Apesar de não frequentar mais as reuniões da Narcóticos Anônimos ou dos Alcoólicos Anônimos - "eu realmente não estava conseguindo nada com eles", ele diz - ele conversa uma vez por semana com um conselheiro de reabilitação. E também depende de um amigo, Elton John, que "me procura e conversamos sobre coisas, como sobriedade".
Suas responsabilidades paternas "me ajudam a manter minha mente em ordem. Mas basicamente, eu tento me manter ocupado". Mesmo assim, ele evita assumir compromissos em excesso, nem mesmo se comprometendo a fazer uma turnê em plena escala ou mesmo a aceitar novas oportunidades de atuação, que são frequentemente citadas. "Eu meio que encaro as coisas à medida que aparecem, um passo de cada vez, e vejo qual será a próxima. Não estou fazendo planos a longo prazo em relação ao que farei a seguir. Apenas veremos o que rola".
(*) Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan
2 comentários:
Excelente matéria.
Fui buscar algumas fotos antigas do RAPPER e encontrei seu blog, parabens..
Otavio
Tbm fui procurar fotos do eminem e achei esse blog,e curti mto...
eu sou fã d++++++++++ do eminem,e parabens pela postagem...
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