O médico Sergio Carneiro percorria os corredores de um dos hospitais onde trabalhava, numa visita de rotina aos seus doentes.
Inadvertidamente, entrou num quarto que não era de nenhum paciente seu.
Um homem, um senhor, arfava sobre a cama, parte do rosto coberto pela máscara de oxigênio, a armação metálica ao lado, sustentando um frasco de soro, ministrava-lhe o líquido na veia.
Ao pé do leito do paciente, um rapaz velava, tristonho e preocupado.
Sergio, vendo-o sozinho, tentou um gesto de solidariedade:
– Então, como vão as coisas?
– Mal, muito mal. É meu pai. Enfisema. Excesso de cigarro.
– Pois olha – disse o Sergio –, desde que parei de fumar não consigo nem transar com mulher que fuma. Não agüento nem o cheiro.
O enfisemado, com um gesto lento, difícil, afastou um pouco a máscara, liberando a boca e declarou, a voz macerada, roufenha, quase sem fôlego:
– Então, o senhor deve estar comendo muito pouca gente...
Dito isso, teve um estertor e deu o último suspiro.
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