Mestre Carlito estava acompanhando Chico da Silva em uma excursão pelo Pará, tocando em cada um dos 5 mil garimpos de Itaituba e aproveitando as horas de folga para fazer um arranjo diferente para uma nova música de Rinaldo Buzaglo.
Numa manhã de domingo, o cantor parintinense foi participar de uma animada “pelada” com os garimpeiros do “Vai Quem Quer” e o violonista ficou sozinho no saguão do hotel, tentando tirar novos acordes para a música do Rinaldo.
Ninguém percebera que o violonista era cego.
Depois do café da manhã, Mestre Carlito se sentou numa mesa perto da piscina do hotel e estava entretido naquela tarefa de tirar acordes dissonantes do seu instrumento, quando, numa mesa ao lado, dois garimpeiros mortos de bêbados começaram a discutir. Um deles foi peremptório:
– Olha, caralho, a gente não precisa ir muito longe não! – explicou o sujeito, visivelmente irritado, colocando estrepitosamente um revolver Taurus calibre 38 cano longo em cima da mesa. “Todo vascaíno que eu conheço é ladrão, corno, viado, maconheiro, filho da puta, bandido, mau caráter, trambiqueiro, nojento, safado, vagabundo, trampolineiro, vigário, qualira e tem a mãe na zona! Eu tenho nojo de vascaíno! Nojo! Não posso ver um vascaíno que tenho logo vontade de passar bala. Ô raçazinha de filhos da putas, essa dos vascaínos!”
Aí, virando-se subitamente para o violonista, questionou:
– Você não concorda, parente?
Mestre Carlito, vascaíno doente, teve que concordar, balançando vigorosamente a cabeça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário