Fevereiro de 1968. Magro, alto, bem apessoado, Zé da Voz lembrava um pouco o ator Clint Eastwood em início de carreira. Ele ganhara esse apelido porque era o principal animador e DJ da Voz Continental, localizada em um pequeno quiosque no cruzamento das ruas Urucará e J. Carlos Antony.
Seu irmão, Waldeir Azevedo, foi proprietário da metalúrgica Santo Antônio e se casou com uma de minhas primas, Rosinete, enquanto sua irmã, Helena, uma morena de quatrocentos talheres e lindos olhos esmeraldinos, foi uma das meninas mais bonitas da Cachoeirinha.
Zé da Voz era parceiro de copo de Bazam e Bobby Nelson, o primeiro, irmão mais velho de Antídio Weil, o segundo, irmão mais velho de Alberto Gordo, ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos.
Eles formavam um trio da pá virada.
Quando estava cheio da manguaça, o que não era novidade, Zé da Voz andava devagar como quem procura, com os pés, um penico no escuro.
Já Bobby Nelson e Bazam, no mesmo estado, andavam ligeiro que só peba em areia frouxa.
A irmandade dos três vinha de um fato em comum: ambos gostavam do cigarro de índio.
Uma noite, logo após deixar os estúdios da Voz Continental, Zé da Voz foi abordado pelo peixeiro Pirarucu: ele havia recebido uma erva de Maués que era “só camarão” e convidou o locutor para experimentarem o produto.
Os dois se embrenharam no matagal existente atrás do antigo Sanatório Adriano Jorge e começaram a apertar um atrás do outro.
Zé da Voz e Pirarucu estavam ali, observando as estrelas junto à fogueirinha de papel, quando, subitamente, estacionou um carro da Rádio Patrulha na rua Codajás e dois meganhas armados entraram correndo no mato em direção à dupla.
Desconfiado como cachorro que quebrou louça, o primeiro soldado foi logo pagando geral:
– O que qui vocês dois estão fazendo aqui nessa escuridão, seus filhos da puta! Fala logo, se não eu vou atirar!
O galã Zé da Voz, com a calma de um experimentado rastafári, tentou contemporizar:
– Que é isso, meu amigo? Eu vim aqui só fazer uma caridade pro meu parceiro. Eu estava apenas comendo o cuzinho dele e isso não é crime...
Ouvindo aquilo, Pirarucu deu um pulo:
– Que comendo meu cu o quê, porra! Eu sou sujeito homem! Nunca gostei de pica! Fala a verdade, porra, fala a verdade! A gente estava mesmo era fumando maconha!
Os dois foram em cana. Dar o cu não era crime, mas fumar maconha era.
Pirarucu era mesmo um abestado.
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