Ignoro se a primavera parisiense ainda sofre com o Bal des Quatre Arts (o francês pluraliza o quatre em nome da melodia da frase. Dizem catrézar), mas não tenho dúvida que em passado um pouco distante o famoso baile infernizava a vida da cidade.
Tratava-se de uma orgia feroz levada a cabo na Faculdade de Medicina, na rue des Saint Peres, vizinha ao boulevard Saint Germain.
De santa, a folia só tinha ou tem o nome das ruas.
À meia-noite, os estudantes, inventores da farra, e os outros participantes, desembrulhavam-se dos lençóis, ficando inteiramente pelados, fazendo do carnaval do Rio, conhecido pela sua permissividade, um chazinho de convento.
Mais tarde, novamente reembrulhados, saíam para as ruas da vizinhança para uma monumental operação pendura.
As vítimas prediletas eram a Brasserie Lipp, o Le Deux Magots e o Café de Flore.
Numa dessas ocasiões infernais estavam em Paris o cronista Rubem Braga e o industrial Antônio de Souza participando de uma reunião entre amigos e um deles comentava a saturnal desbragada, o Bal des Quatre Arts:
– Estava desesperador, horrível, horrível! – bramia ele. “Dez homens para uma mulher!”
E lançou ao vento seu lamento entre dramático e desolado:
– O que dez homens podem fazer com uma só mulher?
O Rubem respondeu, com seu jeito calado:
– Fila...
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